SUPLEMENTOS ALIMENTARES : PRÓS E CONTRAS

Uso de suplementos alimentares na terceira idade é perda de tempo e dinheiro

Segundo cientistas dos EUA, faltam evidências consistentes sobre os benefícios da suplementação durante a velhice. Portanto, invista na atividade física

Não adianta evitá-los: os exercícios são a única maneira comprovada de manter a saúde na velhice. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista especializada Clinical Interventions in Aging, apostar somente em suplementos alimentares para evitar diminuição de força que vem com a idade é perda de tempo e de dinheiro. Pelo menos por enquanto, manter os músculos em atividade é a forma realmente eficaz de evitar a sarcopenia, como é chamada a queda muscular que começa a se manifestar a partir dos 40 anos.

Cientistas do Conselho de Pesquisa Médica da Unidade de Epidemiologia da Universidade de Southampton, no Reino Unido, chegaram à conclusão após revisar 17 trabalhos que relacionavam a ingestão de suplementos e a prática de exercícios físicos em homens e mulheres que passaram dos 65 anos. Os efeitos da junção dos dois comportamentos foram tema de várias pesquisas, mas ainda com resultados pouco consistentes, avalia Sian Robinson, responsável pelo novo estudo. “Eles indicam apenas que esses suplementos podem ser uma estratégia potencial para melhorar a condição muscular de pessoas mais velhas. No entanto, as evidências são fracas. Mais pesquisas são necessárias”, diz.

A autora acredita que não há provas suficientes para a recomendação clínica dos produtos. Por outro lado, há um cenário que reforça a necessidade de livrar-se do sedentarismo para manter o bem-estar. O declínio muscular de indivíduos com 40 a 80 anos é estimado em 30% e 50%. A perda da força e da capacidade funcional avança 3% anualmente quando o indivíduo entra na sétima década de vida, o que faz da sarcopenia um problema relevante na terceira idade, visto que também está associada à obesidade, à osteoporose e ao diabetes tipo 2.

Na dúvida, Antônio Cavalcante Souza, 61 anos, prefere cuidar muito bem da alimentação. Ele começou a dar importância ao assunto quando estava pré-diabético e 24kg acima do peso. “Procurei uma nutricionista e mudei tudo. Também comecei a praticar exercícios, como corrida e dança”, conta o corretor de imóveis, que já emagreceu 14 kg. O próximo passo é entrar em uma academia, onde poderá repor a massa magra que já começou a diminuir. “Mas não penso em tomar suplementos. Dizia que nunca tinha tempo, mas o tempo a gente precisa fazer.”

Sondagens específicas

Os resultados de Robinson até mostraram melhora na força muscular quando a ingestão de proteínas ou de aminoácidos — a base de construção dos músculos — foi aliada às atividades físicas. Porém, isso ocorreu em apenas três dos sete estudos eleitos para a investigação. É possível que os efeitos benéficos desse suplemento tenham sido evidentes apenas em participantes deficientes nessas substâncias ou que a fonte e a qualidade delas proporcionem benefícios mais ou menos visíveis. Também há a possibilidade de as dietas saudáveis oferecerem outros micronutrientes e substâncias bioativas que não foram contemplados pela análise.

Einstein Francisco Camargos, diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia — seção Distrito Federal (SBGG-DF), explica que essa é uma das grandes dificuldades de compreender a eficiência dos suplementos. “A não ser que esses estudos sejam individualizados, investigando separadamente as substâncias, por exemplo, a leticina da soja ou o licopeno do tomate, não há clareza. Fica igual à história do café: saem pesquisas dizendo que faz bem, outras que faz mal, e ninguém conclui nada”, observa o especialista.

O médico brasileiro ressalta que, embora não haja comprovação científica dos benefícios dos complexos vitamínicos, eles não fazem mal, mesmo quando a pessoa ingere mais do que a quantidade de nutrientes recomendada. “Essa quantidade não faz diferença nem provoca danos. O que sabemos é que vitaminas isoladas podem fazer mal, como a vitamina E, que pode provocar danos cerebrais, ou a vitamina A, que favorece o desenvolvimento de alguns tipos de câncer”, explica.

Prevenção

De todos os suplementos analisados na Universidade de Southampton, a creatina — um aminoácido relacionado à força e à composição muscular — foi o que obteve melhor desempenho entre os idosos. Os pesquisadores detectaram algumas diferenças do efeito da substância entre sexos. Mesmo assim, todos os estudos analisados apontaram benefícios durante o treinamento, permitindo um aumento da força e também da massa livre de gordura.

Os resultados são consistentes com uma pesquisa recente com 357 adultos mais velhos em que foram constatados benefícios do suplemento quando aliado aos exercícios físicos. “Embora os resultados sejam encorajadores, o número de estudos é pequeno e, por isso, é necessário mais trabalho”, adverte Robinson.

Marcos Moreira Barbosa, 55 anos, tenta chegar bem à terceira idade de forma mais natural. O empresário cuida da capacidade física com muito exercício. Além das caminhadas diárias — percorre de 6km a 8km por treino —, deu início às atividades na academia. O empenho, diz, é uma necessidade que surgiu recentemente.

Quando mais novo, Marcos não praticava atividades físicas com frequência nem tampouco se preocupava com o que punha no prato. “A gente não tinha sabedoria tempos atrás. Não conhecíamos o funcionamento das doenças e, por isso, não sabíamos como como evitá-las. Hoje, sabemos que é possível evitar muita coisa praticando esportes e cuidando da alimentação”, pontua. “Para você ter ideia de quão escassa era nossa informação, no passado, era chique fumar.”

Uso com supervisão*

“É crescente o número de estudos focados no aumento da massa muscular em idosos. Isso porque, com o avanço da idade, a realização de algumas atividades do dia a dia é cada vez mais difícil — o que acarreta na perda de massa muscular. Outra questão é que os mais velhos apresentam um quadro de resistência anabólica que exige quantidades maiores de proteína para que haja resposta do organismo, e esse aumento coincide justamente com a época da vida em que a ingestão de proteínas é menor. Diante disso, os suplementos alimentares podem ser uma interessante fonte de proteína. Consumir a creatinina, por exemplo, com a orientação médica, pode contribuir para o aumento da massa muscular deles. Para a reposição de sais minerais e uma boa hidratação, também é recomendável o uso de isotônicos durante as atividades. O idoso costuma diminuir a quantidade de água ingerida, desidratando o organismo rapidamente, o que não é bom. Os que praticam atividade física devem fazer de cinco a seis refeições diárias, além de ter uma ingestão de 50% a 55% da dieta na forma de carboidratos, 25% de gorduras e 15% a 20% de proteínas.”

*Márcia Andrea de Melo Loureiro, dona da Salutar Alimentos e nutricionista clínica na Life Clínica, em Campinas (SP)

Uso de suplementos alimentares por adolescentes divide opiniões e deixa pais indecisos

Parte dos profissionais afirma que uma dieta saudável é suficiente para que jovens conquistem o corpo definido que desejam

Presentes em páginas de celebridades fitness, os suplementos alimentares estão fazendo sucesso também entre os adolescentes. Mas o uso de substâncias que prometem colocar o corpo em forma ou dar mais disposição divide a opinião de especialistas em nutrição e deixa os pais sem saber se devem permitir que os filhos incrementem a alimentação com os produtos.

Parte dos profissionais afirma que uma dieta saudável é suficiente para que jovens conquistem o corpo definido que desejam. Outros dizem que a suplementação pode causar complicações, principalmente a sobrecarga de órgãos como os rins. Também há especialistas que afirmam que o uso equilibrado de suplementos não traz riscos à saúde e pode ser benéfico mesmo na fase de crescimento.

Nutricionista esportiva, Érica Zago, de 38 anos, incluiu whey protein - tipo de proteína extraída do soro do leite - na alimentação da filha quando ela tinha 4 anos. "Desde bem pequena ela usa suplementos. Nunca gostei dos desjejuns comuns, como café com pão e manteiga. Além disso, com 4 anos, ela teve pneumonias recorrentes e estava preocupada com a imunidade dela."

Hoje com 15 anos, a estudante Rafaella Zago Romacho ainda toma suplementos. "Ela tem uma dieta normal, mas a suplementação introduz nutrientes que talvez ela não tivesse acesso só com a alimentação", diz a mãe.

A jovem afirma que também toma cuidado com os alimentos que consome e pratica atividades físicas. "No começo, eu fazia (exercícios) por causa do corpo, mas passei a gostar. E não gosto muito de doce."

Há um ano e meio, o estudante Lucas Milhomem, de 15 anos, começou a tomar suplementos que também são famosos: maltodextrina e BCAA. Seu objetivo é melhorar o desempenho como atleta. "Ele pratica futebol desde os 5 anos. Quando começou a tomar, ficou mais esperto e tem mais explosão nos treinos", conta o pai do adolescente, o administrador de empresas Alex Milhomem, de 38 anos. O jovem notou resultados. "Eu não me sinto tão cansado no treino e não tenho tantas dores." Milhomem diz que estabeleceu regras para que o filho pudesse usar os suplementos.

"Sempre tive uma preocupação muito grande. Não deixaria ele tomar com menos de 13 anos. Acho que só depois dessa idade o adolescente passa a ter discernimento e está em uma fase do crescimento adequada para tomar suplementos. Deixei porque ele quer ser um atleta do futebol", afirma.

Consultor científico da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri), Erico Caperuto diz que os nutrientes podem ser usados na adolescência, desde que sejam respeitadas as condições físicas e os objetivos dos jovens.

"Na adolescência, o suplemento é ideal, porque vai estimular o crescimento de maneira adequada, mas um nutricionista tem de colocar na quantidade certa e tem de ser associado a uma vida ativa."

O estudante Diego Ferreira Silveira, de 23 anos, teve uma má experiência com suplementos. No ano passado, ficou internado por 15 dias após usar diferentes produtos de forma excessiva. Ele estava na Irlanda e precisou fazer um tratamento para recuperar o funcionamento dos rins. "Fiquei me tratando durante três meses até melhorar. Até hoje tenho problemas, mas penso duas vezes antes de comprar qualquer coisa", diz.

Silveira reconhece que sua situação foi agravada pelo uso de anabolizantes. "Malho há mais de três anos e comecei a tomar os suplementos há dois. Tomei whey, BCAA, aminoácidos e até anabolizantes. Já gastei mais de R$ 30 mil com cirurgias, mas só para reparar problemas, nada para o meu benefício." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Excesso do uso de cápsulas de vitaminas e suplementos pode ser prejudicial à saúde

Consumo de suplementos alimentares, em grande variedade no mercado, deve ser feito de forma cautelosa. Médicos alertam para a necessidade de avaliação nutricional anterior

O que vai no prato pode ter efeito significativo sobre nossa saúde, prevenindo e mesmo tratando doenças. Mas uma busca excessiva por viver alguns anos a mais pode estar garantindo efeito contrário para aqueles que apostam em suplementos de forma indiscriminada e sem orientação médica ou nutricional. Minerais, multivitamínicos, nutracêuticos, suplementos... a oferta de cápsulas é incontável e preocupante, porque muitos estão consumindo esses produtos sem se preocupar com necessidade, dose correta, efeitos e interação com medicamentos, por exemplo. Afinal, quando essas formulações são bem-vindas?

Primeiro, é preciso diferenciar os nutrientes, que estão divididos em grupos. Os macronutrientes são os carboidratos, gorduras e proteínas; enquanto os micronutrientes são as vitaminas e minerais. Segundo a nutricionista e doutora em ciência de alimentos Janaína Goston, a dieta adequada e balanceada inclui todos eles em quantidades apropriadas e proporcionais, oferecendo as necessidades nutricionais de um indivíduo. Para a especialista, em geral, não há necessidade de se fazer suplementação de qualquer nutriente quando se tem como hábito uma dieta balanceada.

A suplementação e/ou complementação, para a nutricionista esportiva Rafaelly Cristina Silva, só deve ser usada quando a alimentação não for suficiente para suprir as necessidades. “Considerando que a reeducação alimentar não ocorre do dia para a noite, os suplementos podem ser utilizados como uma forma de garantir as necessidades do organismo de maneira mais rápida, porém sempre com cautela, pois os efeitos da superdosagem podem ser piores que os da falta. Em quantidades exageradas, podem ser tóxicos e causar danos, como sangramentos e distúrbios neurológicos”, alerta.

Isso não quer dizer que, quando necessários, os suplementos não sejam extremamente importantes  Ao suplementar a dieta com vitaminas e minerais adicionais, os multivitamínicos podem ser uma ferramenta valiosa para aqueles com desbalanceamento na dieta ou que tenham necessidades nutricionais diferenciadas. Mulheres grávidas e idosos são um exemplo, e podem precisar de algo receitado pelo médico. Mas a regra geral é clara: não devem nunca ser consumidos por moda ou indicação de amigos, e sim por especialistas após exames específicos.



ALERTA

O U.S. Preventive Services Task Force, órgão americano independente que faz revisões sistemáticas da literatura médica, recomendou, no início do ano, que pessoas saudáveis não tomem suplementos de vitamina E ou de betacaroteno. Além das cápsulas não terem benefícios comprovados, uma revisão de pesquisas recentes sugere que elas podem prejudicar a saúde. Segundo o órgão, há fortes evidências de que os suplementos de betacaroteno aumentam o risco de câncer no pulmão em pessoas com predisposição à doença. No caso da vitamina E, os dados não confirmam se os suplementos podem realmente proteger contra câncer e doenças cardíacas.

Três perguntas para...Marcus Vinícius Bolívar Malachias, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)1- Há uma oferta sem fim de vitaminas, minerais e suplementos em cápsulas. Quem pode usar?

A suplementação desses nutrientes é benéfica para muito poucas pessoas, desnecessária para a maioria e de potencial malefício para um bom número delas. O excesso de vitaminas antioxidantes (A, E, C), assim como de alguns minerais (selênio, zinco), com o intuito de prevenir doenças, tem sido relacionado à maior incidência de certos tipos de câncer e doenças cardíacas. O cálcio deve ser utilizado mais livremente por mulheres para prevenção da osteoporose, mas homens só devem suplementá-lo em casos de deficiência, pois seu excesso aumenta o risco de calcificações das artérias. A exceção é a vitamina D, que está deficiente na maioria das pessoas e, apesar de ainda limitadas as evidências, parece benéfica a sua reposição. Também a deficiência de B12 tem sido relacionada ao déficit cognitivo e há razões para mantê-la em níveis superiores à normalidade, sobretudo em dietas pobres nesse nutriente, caso de vegetarianos e idosos. Na expectativa de benefícios milagrosos, milhões de indivíduos se iludem, correm riscos de efeitos adversos e gastam os seus recursos que deveriam ser empregados em alimentação saudável, rica em frutas e hortaliças, a fonte natural e ideal de aquisição de vitaminas e minerais. Curiosamente, a maioria das pessoas não faz uso regular de medicamentos imprescindíveis à saúde.

2 - Quais os riscos do uso indiscriminado?

Pesquisas revelam que os antioxidantes não só não preveniram como aumentaram a incidência de câncer, como o de pulmão, e infarto do miocárdio. Muitos multissuplementos, amplamente consumidos, têm excesso de ferro, iodo, sódio, potássio, betacaroteno e outros elementos que, em algumas pessoas, podem provocar doenças.

3 - Quais os efeitos da combinação desses compostos entre si e com medicamentos?

O iodo pode promover disfunção tireoidiana e o sódio é capaz de elevar a pressão e descompensar o coração. A vitamina K pode reduzir o efeito de anticoagulantes orais; assim como os antioxidantes podem diminuir a ação das estatinas na redução do colesterol e prevenção do infarto. O importante é discutir com o médico os potenciais prós e contras antes buscar um suplemento, mas, geralmente, as pessoas compram antes e perguntam depois.


Entenda por que o consumo de vitaminas virou uma febre que escapa do racional

Saúde se vende em cápsulas? A verdade é que a ciência ainda diverge sobre o assunto. Dosagens, efeitos e interações são objeto de inúmeras pesquisas em andamento. Conheça as mais promissoras - e também as que criticam veementemente o consumo indiscriminado de complexos vitamínicos.

Elas levam a fama de serem capazes de prevenir câncer, doenças cardiovasculares e até neurológicas, como a esclerose múltipla e o Parkinson. Teriam poder de aumentar a disposição, regular o sistema imunológico e até hidratar o corpo. Se o seu cabelo cai ou se as unhas andam quebradiças, é porque elas estão faltando. As vitaminas são poderosas, sim senhor. Dizem os especialistas que, sem elas, o corpo não seria capaz de cumprir as funções vitais. Inclusive, daí vem o nome, dado pelo bioquímico polonês Casimir Funk, em 1912: vita, do latim, vida.


No organismo, elas assumem a função de biocatalisadores, com as enzimas e os hormônios. E é graças a esse grupo de moléculas que qualquer reação bioquímica ocorre no organismo, aproveitando a energia dos alimentos, por exemplo, acelerando ou freando o tempo das reações e por aí vai. Algumas delas já ganharam até status de remédio. “No fim do século passado, por exemplo, controlou-se uma doença chamada beribéri (causadora de inchaço nas pernas, vômito, confusão mental) com a vitamina B1, assim como se controlou o escorbuto com a vitamina C”, lembra o médico nutrólogo Edison Saraiva. A descoberta da eficácia da B1 rendeu ao médico holandês Christiaan Eijkam um Prêmio Nobel em 1929.

 Quase um século depois, a febre em torno dos tais nutrientes segue firme. Qualquer alimento industrializado é “enriquecido” com uma verdadeira sopa de letrinhas. Mas, se antigamente havia um consenso em torno do uso de suplementos vitamínicos, hoje pesquisadores e médicos são um pouco mais reticentes. Vitaminas seguem sendo elementos essenciais à manutenção da vida, mas há que se observar as doses e os efeitos adversos.

Tomar ou não tomar um comprimido de vitamina C por dia, como ensinou a sua avó? Comprar ou não aqueles potes de multivitamínicos? Quem não quer resolver todas as carências alimentares e prevenir uma infinidade de doenças tomando apenas um comprimido por dia? As discussões são amplas, a unanimidade, impossível. A reportagem se dedica a entender o universo das vitaminas e por que elas despertam tanta curiosidade entre cientistas, médicos e pacientes. As conclusões, como quase tudo relacionado à ciência, são provisórias.



A dieta do comprimido

A primeira vez que a bancária Tainara Martins, 27 anos, se viu às voltas com potes e potes de vitaminas, fitoterápicos e micronutrientes foi há dois anos. Antes disso, ela diz, “gostava de tomar algumas coisas”, mas nada que causasse espanto em quem conhece sua rotina.

Determinada a eliminar alguns quilos e a ter hábitos de vida mais saudáveis, Tainara foi procurar uma nutricionista ortomolecular como último recurso depois de várias dietas frustradas. “Cheguei lá e fui logo falando que eu não tinha a menor ideia do que era aquilo, e que eu queria conhecer antes de começar a fazer. Nunca tinha pensado em fazer essas dietas em que se toma um monte de ‘remédio’”, lembra. Na verdade, a dieta combinava alimentação equilibrada e doses de colágeno, ômega 3, extrato de alho e vitaminas (quatro por dia).

Dois anos depois de iniciado o tratamento, Tainara superou com folga os objetivos iniciais. Como benefício extra, ela viu pele e cabelo melhorarem, além da disposição — nem sem lembra quando foi a última vez que ficou doente. Os médicos, porém, não compartilham desse entusiasmo. “Eles dizem que não tem comprovação científica. Mas, lá fora, a medicina ortomolecular é bem mais aceita”, comenta.

Foi do exterior que ela trouxe o último arsenal de vitaminas e outros nutrientes em cápsulas. Como lá o mercado de vitaminas é bem mais aquecido, a nutricionista de Tainara passou uma lista de comprimidos para que ela procurasse, alguns inexistentes por aqui ou bem mais caros. A mala voltou recheada. “Fiquei até com medo que me parassem no aeroporto”, conta.

"Cheguei lá e fui logo falando que eu não tinha a menor ideia do que era aquilo, e que eu queria conhecer antes de começar a fazer. Nunca tinha pensado em fazer essas dietas em que se toma um monte de ‘remédio’” - Tainara Martins

Os multivitamínicos não funcionam

Pelo menos é isso que têm sugerido os estudos em torno dos tais comprimidos que prometem nutrição de “A a Zinco” nos últimos anos. Em dezembro do ano passado, a revista médica Annals of Internal Medicine publicou um editorial polêmico sugerindo que as pessoas parem de jogar dinheiro fora comprando os tais suplementos multivitamínicos, vendidos aos montes em farmácias (e até em mercados, nos Estados Unidos). Intitulado “Já chega: Parem de desperdiçar dinheiro em vitaminas e suplementos minerais”, o texto se baseia em três artigos publicados na edição que buscaram entender o papel dos tais suplementos na prevenção e na progressão de doenças crônicas.

O primeiro foi uma revisão de três amostragens com suplementos multivitamínicos e 24 com vitaminas isoladas ou combinadas a uma segunda, totalizando mais de 400 mil pacientes. A conclusão foi de que não há evidência alguma sobre benefícios dos suplementos em qualquer causa de morte, câncer ou doença cardiovascular. O segundo foi um estudo que avaliou a eficácia de um multivitamínico por dia para prevenir o declínio cognitivo em homens com mais 65 anos — foram 5.947 no total. Depois de 12 anos de acompanhamento, observaram que não houve diferença significativa entre o grupo dos multivitaminas e o grupo do placebo. O último estudo se dedicou aos potenciais benefícios de altas dosagens de multivitamínicos em 1.708 homens e mulheres sobreviventes de um infarto do miocárdio. Quase cinco anos depois, não houve diferença notável na recorrência de problemas cardiovasculares.

“Apesar das evidências de que não há benefício algum e até possíveis riscos, o uso de suplementos multivitamínicos aumentou entre adultos nos Estados Unidos de cerca de 30%, entre 1988 e 1994, para 39%, entre 2003 e 2006”, diz o editorial, assinado pelos médicos responsáveis pela publicação. A crescente indústria americana de vitaminas já bateu a casa dos US$ 28 bilhões (dados de 2010).

A publicação caiu como uma bomba no meio científico. John Michael Gaziano, pesquisador no Brigham and Women’s Hospital, em Boston, e co-autor do estudo com suplementação vitamínica em homens acima dos 65 anos, não gostou do “recorte” dado pela revista. “Nesta edição do Annals, publicamos apenas os resultados na função cognitiva. Resultados anteriores, publicados há um ano, mostraram redução no câncer e na catarata”, disse Gaziano à Revista, por e-mail. No passado, ele foi o responsável por desmistificar a vitamina E. “Agora, todos tomam vitamina D, então vamos estudá-la”, garantiu.

Vitamina D: nova fronteira da medicina?

Saúde se vende em cápsulas? A verdade é que a ciência ainda diverge sobre o assunto. Dosagens, efeitos e interações são objeto de inúmeras pesquisas em andamento. Conheça as mais promissoras - e também as que criticam veementemente o consumo indiscriminado de complexos vitamínicos

Há cerca de três anos, a servidora pública aposentada Queli Soares, de 45 anos, recebeu um diagnóstico que tinha tudo para mudar sua vida para sempre: esclerose múltipla, uma doença até hoje tida pela medicina como crônica, incurável e degenerativa, geralmente associada a cadeiras de roda, andadores, camas, respiradores e toda sorte de aparatos médicos usados para prolongar a vida do paciente.

Nos meses seguintes, a servidora sentiu o peso do diagnóstico. Foi aposentada por invalidez, perdeu os movimentos do braço esquerdo, deixou de andar, parou de sorrir. Mais tarde, mudou-se para uma casa térrea, onde não precisasse subir escadas, pois as quedas eram cada vez mais frequentes. Por fim, ficou de cama. “Eu ia morrer”, conta, com os olhos marejados. A esclerose múltipla possui uma escala de avaliação do estado do paciente que varia de 1 a 10, chamada EDSS. O primeiro estágio é o exame sem nenhuma anormalidade e o último, a morte pela doença.

Com um ano e meio de tratamento, Queli se encontrava no oitavo estágio. Tinha surtos da doença a cada 45 dias, dos quais se recuperava com a chamada pulsoterapia — administração de altas doses de corticoide por via intravenosa. E também com o uso de interferon, medicamento supressor do sistema imunológico e um dos mais caros da indústria farmacêutica. Trata-se de um remédio “biológico”, obtido a partir de células vivas do organismo. Como é de altíssimo custo, o inferferon é fornecido gratuitamente 
pelo governo.




No dia em que Queli Soares demonstrou ao médico que havia voltado a andar, foi repreendida: médicos se recusam a acreditar no potencial da vitamina D.
Sem opções, Queli sofria com as reações adversas (dores de cabeça, calafrios, febre, anemia e alteração da pressão arterial), mas não abria mão das doses do medicamento. Além das ampolas do interferon, eram cerca de 35 comprimidos todos os dias para controlar as dores causadas pela esclerose. “Eu cheguei a um ponto em que eu não aguentava mais. Jamais teria coragem de tirar a minha vida, mas tinha vontade de morrer”, diz.

Até que, pesquisando sobre a doença, Queli chegou à vitamina D, substância que, no Brasil, tem sido usada de forma pioneira há mais de uma década no tratamento de esclerose múltipla e outras doenças neurológicas no consultório do neurologista Cícero Galli Coimbra, da Escola Paulista de Medicina, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O médico tem recebidos colegas e pacientes do mundo inteiro curiosos com o método que, de tão simples, causa estranheza.

O tratamento consiste, basicamente, em ministrar altas dosagens de vitamina D. Os pacientes em tratamento tomam milhares de unidades da substância por dia, de acordo com uma avaliação individualizada. Queli toma 120 mil. A maioria dos suplementados vitamínicos vendidos em farmácias no Brasil não têm mais do que 200 unidades.

A vitamina D seria muito mais importante do que se imaginava. Estaria ligada não apenas à maior absorção de cálcio — por isso, combate a osteoporose —, mas a inúmeras outras funções no organismo. Segundo Cícero Galli, exatamente 229. A conclusão é reforçada por alguns estudos. Em 2010, pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, sequenciaram o código genético humano a fim de averiguar que regiões do DNA apresentavam receptores para a substância. Encontraram 2.776, o que prova, segundo Andreas Heger, um dos coordenadores do trabalho, a grande influência que ela teria na manutenção da saúde.

“Múltiplas linhas de evidências sugerem que a vitamina D pode ser importante no risco e na progressão da esclerose múltipla”, disse à Revista Alberto Ascherio, professor de epidemiologia e nutrição em Harvard e coordenador de estudo publicado em janeiro passado. “Em 2006, nós relatamos que adultos saudáveis com hipovitaminose D têm mais risco de ter a doença, um resultado que foi confirmado por estudos posteriores”, continua. No entanto, ele segue cético quanto ao tratamento com altas dosagens. “Elas podem causar hipercalcemia e serem bastante perigosas. Além disso, não existe evidência de que superdosagem seja benéfica em indivíduos com esclerose”, pondera.

Não é a opinião compartilhada pelo médico e deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP), que diz que, depois de décadas afastado dos consultórios para se dedicar à vida pública, retornou à prática clínica para se dedicar aos estudos com a vitamina, que ele garante, é a “nova fronteira da medicina”. “Acredito que a vitamina D tenha sido tratada de maneira muito secundária até hoje”, analisa.

A maioria dos médicos neurologistas, no entanto, é reticente quanto ao tratamento idealizado pelo doutor Cícero na Unifesp. O argumento é que o protocolo ainda não tem comprovação científica, o que Galli e Feldman justificam dizendo que o procedimento exigido é antiético. “O que se pede é um teste chamado duplo-cego, em que você dá vitamina D para alguns pacientes, placebo para outros, e compara os resultados. Se eu sei que a vitamina D pode beneficiar muito os portadores de esclerose múltipla, não posso dar placebo a meus pacientes”, argumenta Feldman.

A primeira vez que Queli entrou andando no consultório do neurologista com quem fazia acompanhamento em Brasília, depois de começar a se tratar com os comprimidos de vitamina D, ouviu uma bronca. “Ele me viu andando, de pé na frente dele. E, mesmo assim, levantou da cadeira, gritou comigo, me chamou de louca e disse que eu deveria procurar um psiquiatra”, lembra, emocionada. Ela conta que, 30 dias depois do primeiro comprimido de vitamina D, já conseguia ficar em pé. Com 45 dias, pegou pela primeira vez a neta, hoje com um ano, no colo.



O estudante de pós-graduação Artur Costa, 25 anos, também enfrentou o ceticismo dos médicos quando decidiu não fazer o tratamento com interferon logo que recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Aos 24, recém-saído da faculdade, a notícia veio como uma bomba para ele e para a família. “Eu tive muito medo, chorei muito. Quanto mais estudava sobre a doença, mais assustado ficava com meu futuro”, conta. Uma amiga da família foi quem avisou sobre o tratamento com a vitamina D. Mesmo com as receitas das vitaminas na mão, Artur decidiu tentar encarar o tratamento com o interferon. Durou uma semana. “Eu tomava sempre à noite e não conseguia dormir com febre e calafrios. No dia seguinte, não era ninguém”, lembra.

Quando decidiu tentar as vitaminas, ouviu do neurologista que, se levasse isso a sério, não receberia mais o acompanhamento por exames. “Insisti, me ofereci como cobaia, e ele aceitou. Meus exames dão normais. Ainda assim, ele não admite que foram as vitaminas.” Um ano depois, segue adepto da vitamina manipulada. Um vidro com o suficiente para um mês e meio de tratamento sai a R$ 70.

Na rotina, além das melhoras dos sintomas — os pés e os braços dormentes e a vista embaçada são passado —, Artur incorporou novos hábitos: luta muay thai e faz caminhadas. “Hoje, a doença não me assusta mais”, garante. E ele já tem data marcada para a alta do tratamento: abril de 2015.

Nome fantasia

Embora ainda carregue consigo o nome de batismo, a vitamina D deixou de ser classificada como vitamina quando descobriu-se que, na verdade, que ela age como um hormônio esteroide no organismo. Tanto que, hoje, alguns médicos preferem chamá-la por outro nome: colecalciferol. Entre todas as outras substâncias chamadas “vitaminas”, é uma das poucas que o organismo não produz: a forma mais fácil de repô-la é a exposição ao sol, já que poucos alimentos contêm a substância. “A gente conserva o nome de vitamina D para não fazer confusão”, resume o médico nutrólogo Edison Saraiva. “Já houve tentativa de classificá-la como corticosteroide ou neurotransmissor. Ela é um alimento único”, diz. Sabe-se que está presente em alguns peixes de água fria e no óleo de fígado de bacalhau. “Porém, você precisaria de 30 colheres de óleo por dia para ter a quantidade necessária. O melhor é tomar sol”, garante.

Banho de sol e iogurte

Até como deputado, Feldman militou pela vitamina. Ele é autor do Projeto de Lei nº 5363/13, que estabelece um período mínimo diário de exposição ao sol para pessoas que passam o dia em confinamento — seja em escolas, escritórios ou hospitais. E também do PL nº 5641/13, que pleiteia a obrigatoriedade de que o leite, o iogurte e as bebidas lácteas sejam enriquecidas com vitamina D. Atualmente, ambos tramitam na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados. “Nos últimos anos, a população mundial foi dramaticamente orientada a não tomar sol, que é a única forma de se produzir a vitamina D. Se isso não for possível, então que o governo distribua gratuitamente suplemento de vitamina à população”, defende.

  • 20 minutos de sol sem proteção solar podem produzir 10 mil unidades de vitamina D por dia.

Vitamina D pode amenizar sintomas de doenças como Parkinson e esclerose múltipla

Pesquisas recentes têm reforçado os benefícios neurológicos do composto conhecido por proteger os ossos




Um dos alertas feitos pelo neurologista Cícero Coimbra é que a única fonte fisiológica real de vitamina D é a exposição solar

Pacientes em Oregon (EUA) com mal de Parkinson e níveis altos de vitamina D têm melhor cognição e humor. Em Boston, pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard (EUA) concluíram que indivíduos diagnosticados com esclerose múltipla e taxas superiores da mesma substância apresentam uma progressão mais lenta da doença. Na Áustria, voluntários com fibromialgia e que tinham deficiência do composto receberam suplementação e notaram uma diminuição acentuada dos sintomas. Todos esses avanços foram divulgados em importante revistas científicas internacionais nos últimos 10 dias. No Brasil, o neurologista Cícero Coimbra usa há mais de 10 anos uma superdosagem da vitamina D para tratar pacientes com esclerose múltipla e também relata benefícios. Impressionantes resultados vindos de diversos laboratórios indicam que a substância lembrada por reforçar a saúde dos ossos também pode ser uma grande aliada de uma mente sã.

Nos estudos de Oregon e Harvard, os cientista analisaram os níveis de vitamina D no sangue dos voluntários e a função neuropsiquiátrica de cada um, sondagem que pode medir a progressão da doença e a gravidade dos sintomas. No caso dos 286 pacientes com Parkinson, o estudo liderado por Amy Peterson mostrou que aqueles com os maiores níveis de vitamina D também tinham menor severidade de sintomas e depressão, além de uma melhor cognição. Os dados foram ainda mais expressivos entre indivíduos sem sinais de demência, uma consequência comum da doença.

“O fato de a relação entre a concentração de vitamina D e o desempenho cognitivo parecer mais robusta no subconjunto não demente sugere que uma intervenção mais rápida, antes da demência se instalar, pode ser mais eficaz”, acredita Peterson. A opinião é compartilhada por Alberto Ascherio, que conduziu a pesquisa de Harvard. Ele e sua equipe analisaram amostras de sangue e resultados de ressonância magnética de 465 pacientes com esclerose múltipla durante cinco anos. Concluíram que pequenos aumentos na concentração de vitamina D dentro dos primeiros 12 meses estão associados a um risco 57% menor de recaída e de novas lesões cerebrais. Também foi percebida uma progressão anual mais lenta — o aumento do volume da lesão foi 25% menor.

O trabalho austríaco destaca-se por um diferencial: comprova a efetividade da suplementação do composto em indivíduos que apresentavam baixa taxa dele. Diferentemente, nas pesquisas anteriores, não foi possível estabelecer uma relação de causalidade. Ou seja, não se pode dizer se a deficiência leva à progressão da doença ou se o paciente tem menos exposição solar — responsável por estimular a produção de vitamina D — e, por isso, apresenta a deficiência. O time de cientistas liderado por Florian Wepner, do Departamento de Gestão da Dor Ortopédica da universidade austríaca, tratou 30 mulheres com fibromialgia e baixos níveis da substância.

Elas receberam a suplementação por 20 semanas. Seis meses após o procedimento ter sido interrompido, percebeu-se uma redução acentuada no nível de dor, principal sintoma da desordem. “Acreditamos que os dados apresentados no presente estudo são promissores. A fibromialgia é um complexo de sintomas muito extensos que não podem ser explicados apenas pela deficiência de vitamina D. No entanto, a suplementação pode ser considerada como um tratamento relativamente seguro e econômico. Trata-se de uma alternativa extremamente rentável ou um complemento à terapia farmacológica cara, assim como terapias físicas, comportamentais e multimodais”, garante Wepner.

Hormônio

Para o neurologista Cícero Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a eficácia da suplementação não é novidade. Segundo ele, o conhecimento sobre o composto sofreu uma revolução na última década e meia. Há cerca de 20 anos, imaginava-se que ele tinha como única função favorecer a absorção de cálcio no intestino.


Estudo vincula falta de vitamina D a risco maior de demência

Pacientes que sofriam de deficiência moderada de vitamina D tinham 53% mais riscos de desenvolver qualquer tipo de demência. Mas os que tinham uma deficiência severa viram este risco aumentar 125% 


As pessoas com idade avançada que não recebem quantidades suficientes de vitamina D correm mais riscos de sofrer demência ou mal de Alzheimer, revelou um estudo sobre o tema, publicado nesta quarta-feira. Os cientistas informaram na revista Neurology que as pessoas com deficiência severa nos níveis de vitamina D no organismo têm mais que o dobro de chances de vir a desenvolver demência e mal de Alzheimer do que aquelas que tiveram acesso a quantidades normais.

A descoberta se baseia em um estudo, feito com 1.658 adultos com mais de 65 anos, saudáveis e capazes de caminhar sem ajuda. Os cientistas acompanharam sua evolução durante seis anos. Após este período, 171 participantes desenvolveram demência e 102, Alzheimer. Aqueles que sofriam de deficiência moderada de vitamina D tinham 53% mais riscos de desenvolver qualquer tipo de demência. Mas os que tinham uma deficiência severa viram este risco aumentar 125% com relação aos que apresentavam valores adequados desta vitamina.

Percentuais similares foram observados no mal de Alzheimer. As pessoas com deficiência moderada de vitamina D tinham 69% mais chances de desenvolver a doença e os que apresentavam deficiência severa, um risco 122% maior. Os pesquisadores advertem que estes resultados não implicam que a deficiência de vitamina D cause demência, mas a existência de um vínculo que ainda precisa ser estudado.

Os seres humanos obtêm a vitamina D com exposição ao sol e a ingestão de peixes como o salmão, o atum e a cavala, assim como leite, ovos e queijo. Ela também está disponível na forma de suplementos. No entanto, os cientistas dizem ser necessário estabelecer se o consumo destes alimentos ou de suplementos de vitamina D pode evitar estas doenças. Atualmente, 44 milhões de pessoas no mundo sofrem de demência, um número que, se espera, triplique em 2050.

Especialista diz que falta de vitamina D é problema de saúde pública; veja sintomas e quem é mais suscetível

Substância é fundamental para prevenir doenças como a osteoporose, mas a suplementação só deve ser feita em caso de deficiência no organismo

Muito se tem falado sobre os males que a falta de vitamina D pode causar ao organismo. Há muitos anos, a necessidade dela era associada apenas à manutenção de dentes e ossos saudáveis. Mas, sabe-se hoje que a vitamina D é essencial ao organismo, especialmente devido ao potencial de prevenção de diversas doenças e sua função na absorção de cálcio. No entanto, diversos fatores contribuem para o crescente número de casos de carência de vitamina D, entre eles a baixa exposição do corpo humano ao sol, uma vez que grande parte das pessoas trabalham em ambientes fechados, e a falta de informação sobre os males causados por sua deficiência. Para se saber os níveis de vitamina D, é necessário fazer um exame de sangue.

José Gilberto Vieira, médico do Serviço de Doenças Osteometabólicas da EPM/Unifesp, indica os sinais para reconhecer a falta de vitamina D no organismo: fraqueza muscular, depressão, asma, gripe e doenças respiratórias, enfraquecimento dos ossos, doenças cardiovasculares e até câncer. “A vitamina D é produzida naturalmente pelo corpo por meio da pele, estimulada pela exposição moderada ao sol. A Sociedade de Endocrinologia recomenda que pessoas com risco de deficiência de vitamina D sejam examinadas com frequência para determinar o nível do nutriente no sangue. E o especialista é quem vai determinar o melhor tratamento para cada caso”, explica.

O clínico geral Breno Figueiredo Gomes esclarece que a vitamina D é fundamental na absorção do cálcio no organismo. Sendo assim, a estrutura óssea é diretamente ligada a esta. “Além da ação musculoesquelética, exerce influência sobre o sistema imune e cardiovascular. A falta de vitamina D pode causar problemas como osteoporose, aumento do risco de quedas, devido à fraqueza muscular, e fraturas. Por outro lado, o excesso pode elevar o nível de cálcio no sangue, levando à fraqueza, confusão mental, náuseas, vômitos, perda de apetite e ao aumento na excreção de cálcio urinário. O excesso de exposição ao sol não leva a uma produção excessiva de vitamina D.”


"A sociedade científica vem discutindo bastante as indicações para dosagem e reposição de vitamina D, com inúmeras controvérsias" - Breno Figueiredo Gomes, clínico geral
Breno explica que a vitamina D é conseguida por meio da dieta (leite, suco de laranja, salmão e óleo de fígado de bacalhau, entre outros) e da síntese da nossa pele a partir da exposição à luz solar. “Atualmente, inúmeros produtos, como cereais, leites e iogurtes, têm adição de vitamina D. Hoje, todo mundo está dosando a vitamina D no sangue, porém a indicação é apenas para as pessoas com risco de deficiência, ou seja, aquelas sem exposição alguma ao sol, portadoras de doença celíaca, pessoas com osteoporose e aquelas com fraturas após quedas simples. Caso a pessoa não se enquadre em nenhuma dessas indicações, a dosagem se torna desnecessária. A sociedade científica vem discutindo bastante as indicações para dosagem e reposição de vitamina D, com inúmeras controvérsias.”

ABSORÇÃO 

Para o farmacêutico Adriano Basques, gerente técnico do laboratório médico Geraldo Lustosa, a hipovitaminose D (baixos níveis de vitamina D) é um problema de saúde pública com elevada prevalência no Brasil. “A vitamina D, embora considerada vitamina, tem ações de um pré-hormônio e é essencial para a manutenção dos níveis de cálcio, aumentando a sua absorção pelo intestino e atuando no metabolismo ósseo, fortalecendo a massa óssea e a função muscular”, explica o farmacêutico.

De acordo com Adriano, existem grupos mais susceptíveis à deficiência e à insuficiência de vitamina D, como pacientes com síndrome de má absorção, mulheres pós-menopausa, crianças, gestantes, obesos, pacientes pós-cirurgia bariátrica e idosos, principalmente os institucionalizados. “A fraqueza muscular proximal é um sinal clínico de hipovitaminose D, que ocorre devido ao prejuízo do relaxamento e da contração muscular e pode aumentar o risco de quedas e de fraturas. A perda de massa óssea e o desenvolvimento de osteoporose ocorrem devido ao aumento da reabsorção óssea.”

Vitamina D: saúde que vem do sol

Médico americano lança um livro no qual reforça o quão poderosa é a vitamina D e garante que o melhor meio de produzi-la é mesmo se expor ao sol


Não raro, a ciência e a medicina nos confundem. Isso acontece com a vitamina D, por exemplo, produzida pelo organismo, principalmente, a partir da exposição à luz solar. O problema, como explica Michael Holick, endocrinologista, professor e pesquisador, é que, para que o corpo a produza, é preciso tomar sol entre 10h e 15h, período completamente diferente daquele considerado seguro. “O horário do dia faz diferença, pois o sol muda de ângulo. É muito difícil produzir vitamina D nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde, mesmo durante o verão”, justificou o especialista em seu recém-lançado livro Vitamina D — Como um tratamento tão simples pode reverter doenças tão importantes (Editora Fundamento).

A vida moderna, agitada e, geralmente, enclausurada em escritórios à prova de luz natural, porém, nos afasta do sol. Também o medo das complicações provocadas pelo excesso da exposição nos faz evitá-lo. O que o médico salienta é que psoríase, doenças cardíacas e autoimunes, depressão, insônia, artrite, fibromialgia, autismo, diabetes e outras enfermidades podem ser prevenidas com a vitamina D. Mas, para isso, é preciso tomar sol. “A vitamina D pode reduzir o risco de muitas doenças ao longo da vida”, reforça Michael Holick. “Tomar sol faz as pessoas se sentirem melhores e deixa os ossos fortes, prevenindo fraturas no futuro.”




"Como tudo na vida, moderação é o caminho. Então, o ideal é tirar vantagem da exposição solar e usar protetor para não ter queimaduras nem aumentar o risco de desenvolver câncer de pele"

A maioria das pessoas pensa que a vitamina D é importante apenas para ajudar o corpo a absorver o cálcio. Quais seriam os outros benefícios?
Para a vitamina D funcionar, ela tem que interagir com um receptor, que existe no intestino, nos ossos e também no cérebro, no coração, nos pulmões. Basicamente, todos os tecidos e células do corpo têm o receptor para vitamina D, incluindo as células imunológicas. Então, não é uma surpresa que ela tenha outros benefícios importantes para a saúde. Sabemos que a maioria das grávidas apresentam uma deficiência de vitamina D, então têm maiores riscos de pré-eclâmpsia (doença no qual a gestante desenvolve hipertensão). Também é mais provável que elas precisem de uma cesariana, pois a vitamina D é muito importante para o funcionamento dos músculos. Há evidências de que, se recém-nascidos tivessem quantidades adequadas da vitamina, isso poderia diminuir em quase 88% o risco de eles desenvolverem diabetes tipo 1 em idades mais avançadas. Estudos associam a deficiência dela à esclerose múltipla e a outras doenças crônicas. Há boas evidências de que reduza o risco de infecções, tanto em adultos quanto em crianças, além do risco de cânceres sérios, como de próstata, de mama e de outros tipos. Como o cérebro é um receptor de vitamina D, as pessoas se sentem bem quando expostas à luz do sol. Há também evidências de que algumas disfunções neurológicas, como esquizofrenia e depressão, têm sido associadas com a deficiência dessa vitamina.

Por que a recomendação é que se tome sol principalmente nos braços e nas pernas?
A razão se baseia na “regra dos nove”: 18% do seu corpo está dividido entre seus dois braços; 36% nas suas pernas; 18% na sua barriga tórax; 18% nas suas costas; apenas 9% no seu rosto e 1% no resto. Seu rosto é a parte mais exposta ao sol e não há razão para expô-lo ainda mais, além de ser a área mais propensa a desenvolver câncer de pele. Então, se você expõe os braços e as pernas, não terá câncer de pele, porque eles não pegam tanto sol assim e ainda estará expondo quase 30%, 40% da superfície do seu corpo.

Qual deve ser esse horário de exposição?
Entre 10 horas da manhã e 15 horas. Antes disso, os raios são pobres em radiação UVB, necessária para garantir uma produção considerável de vitamina D. Logo cedo ou no fim da tarde, a luz do sol é igual aos raios solares do inverno. Nesses horários, você não pode produzir vitamina D, mesmo que tenha um elevado índice de raios UVB. Você só começa a produzi-la depois das 10h e o processo termina por volta das 15h.

Em locais como o Brasil, onde o sol parece ser mais forte do que em outros lugares, é possível produzir e absorver quantidades maiores de vitamina D?
Aqui, você precisa se expor a menos luz do sol para produzir a mesma quantidade de vitamina D do que uma pessoa que vive em Boston, por exemplo. Geralmente, recomendo ficar exposto cerca de 30% a 50% do tempo que demoraria para ter uma queimadura solar, duas a três vezes por semana, seguido de boa proteção solar. Nós desenvolvemos recentemente um aplicativo para celular chamado D Minder, que diz se a pessoa está produzindo vitamina D. O usuário insere seu tipo de pele e o aplicativo avisa quando a pessoa deve sair do sol, pois está sendo exposto demais. É um jeito de tirar vantagens dos efeitos benéficos do sol sem correr riscos.

Crianças e idosos precisam se expor mais ao sol do que adultos?
Conforme você envelhece, não produz tanta vitamina D, mas estudos mostram que mesmo idosos de 70, 80 anos, tanto homens quanto mulheres, se expostos à luz do sol pelo período de tempo recomendado, produzem uma quantidade adequada da vitamina.

É possível consumir vitamina D por meio de alimentos?
O problema é que não há vitamina D em muitos alimentos. Apenas peixes oleosos, como o salmão, têm vitamina D, mas ainda assim você teria que comê-lo todos os dias. Cogumelos expostos ao sol também têm. E é isso. Como resultado, se não houver nenhuma exposição ao sol, todos serão deficientes em vitamina D.

Há sintomas indicativos de que a pessoa está com deficiência de vitamina D?
Os sintomas são muito inespecíficos. Geralmente, crianças e adultos sentem-se cansados; têm dores nos músculos e nos ossos; não querem se levantar da cama pela manhã.

Quanto tempo depois de começar a se expor ao sol ou a tomar suplementos vitamínicos uma pessoa com deficiência de vitamina D começa a se sentir melhor?
De modo geral, levam-se meses para uma pessoa se tornar deficiente da vitamina. Então, geralmente passam várias semanas até que a pessoa comece a melhorar. Eu recomendo às crianças mil unidades de vitamina D por dia e dois mil unidades diárias para adultos.

O senhor pesquisa esse tema há cerca de 30 anos, mas a importância da vitamina D para a saúde parece ser uma preocupação mais recente. Por que acha que o assunto está despertando atenção das pessoas agora?
Apenas na última década começaram a surgir muitas publicações sobre o assunto, que demonstraram os benefícios da vitamina D, incluindo a redução do risco de doenças cardíacas e diabetes. O principal motivo desse interesse é que os pesquisadores e as pessoas estão finalmente começando a prestar atenção à mensagem de nunca se expor ao sol sem protetor solar. Isso agora está causando um grande problema médico, que é a deficiência em vitamina D. Mais e mais revelações estão surgindo sobre os benefícios dessa vitamina. Como tudo na vida, moderação é o caminho. Então, o ideal é tirar vantagem da exposição solar e usar protetor para não ter queimaduras nem aumentar o risco de desenvolver câncer de pele. A maioria dos melanomas, inclusive, ocorrem nas áreas menos expostas ao sol. São aqueles que ficam com queimaduras por ficarem na praia aos fins de semana que têm alto risco da doença.

Em busca do corpo ideal, cresce o uso de substâncias como anabolizantes, suplementos e termogênicos

A promessa é de ganho de massa muscular e energia, além da queima de gordura. Nos consultórios médicos, no entanto, pacientes tentam sanar problemas no fígado, rins e nos músculos


A “ditadura do corpo perfeito”, pregada a ferro e fogo pela sociedade, tem se transformado em armadilha para aqueles que acreditam que a felicidade está em músculos grandes, em corpos magros e sem gordura. Em busca da beleza escultural, homens e mulheres ingerem e injetam substâncias capazes de fazer milagres. Por um lado, deixam o corpo bonito, forte e aparentemente saudável em pouco tempo. Em contrapartida, os produtos cobram um preço alto por isso: funcionam como um tsunami interno no organismo, causando doenças graves e, em alguns casos, até a morte. Preocupados com o cenário que já se tornou uma obsessão global, muitos especialistas dizem tentar convencer as pessoas sobre os riscos que correm, mas o esforço, segundo contam, tem sido em vão, principalmente entre os jovens que buscam essa fórmula da beleza a qualquer custo.

Recentemente, o Brasil se chocou com o relato da ex-BBB Maria Melilo sobre seu estado de saúde. No mês passado, ela precisou retirar quase 70% do fígado por causa de um câncer provavelmente provocado pelo uso de anabolizantes durante 10 anos. Outro famoso que faz parte desse drama é o cantor baiano Netinho, que, no início do ano, foi internado em estado grave com forte dor abdominal, em função de uma hemorragia no fígado. De acordo com médicos, tudo leva a crer que seu quadro também foi provocado pelo uso de anabolizantes. "As pessoas estão cada vez mais apostando que a felicidade está no físico e no culto ao corpo. Há uma necessidade muito grande de cuidar da casca e elas acabam se tornando dependentes de substâncias que podem se transformar em um verdadeiro veneno", alerta a especialista em nutrição clínica e alimentação detox Juliana Nakabayashi.


Recentemente, o Brasil se chocou com o relato da ex-BBB Maria Melilo. No mês passado, ela precisou retirar quase 70% do fígado por causa de um câncer provavelmente provocado pelo uso de anabolizantes
Segundo o cardiologista e médico do esporte do Minas Tênis Clube e do Clube Atlético Mineiro Haroldo Christo Aleixo, sempre há casos de internação grave devido ao uso dessas substâncias. Recentemente, vários jovens foram internados em Belo Horizonte, conforme destaca Haroldo. "Quando você vê essas pessoas, elas estão bonitas por fora, porém, perderam o limite e o medo. Usam estimulantes, anabolizantes e medicações  perigosas", alerta o médico, já preocupado com a proporção que isso tem tomado. "Os usuários já sabem que sofrerão efeitos colaterais como calvície ou acne e, quando os efeitos demoram a aparecer, eles pensam que os anabolizantes não estão funcionando. Daí, aumentam a dose", lamenta.

Segundo explica Haroldo, o esteroide anabolizante, assim chamado, é usado com o objetivo de aumentar a massa muscular. "Mas há uma série de efeitos colaterais. Um deles, que temos observado com maior incidência em pacientes, é a hepatite. O fígado é o órgão que metaboliza essas substâncias, mas essas megadoses superam sua capacidade de trabalho, sobrecarregando o órgão e podendo levar à falência hepática ou até à morte do indivíduo”, alerta. Um dos perigos para quem toma os anabolizantes, segundo lembra o médico, é a falsa segurança de dizer que “faz exames regulares no corpo”. “Muitos argumentam que estão com acompanhamento médico e fazem exames de rotina, porém, não existe essa segurança. Quando o problema surge é tão rápido que ao se manifestar em exames é porque ele já está ocorrendo há um tempo”, diz.

NADA DE INOCÊNCIA 

Mas nessa história os anabolizantes não são os únicos vilões. Os aparentemente inocentes suplementos também representam riscos, segundo os especialistas. “Eles têm a função de complementar a alimentação, muitas vezes com substâncias que vão auxiliar na queima de gordura. Há riscos de problemas renais, insônia e irritabilidade”, avisa a nutricionista Juliana Nakabayashi, lembrando que não é preciso fazer uso disso, uma vez que por meio de uma boa alimentação se conseguem os resultados. "O problema é que as pessoas querem alcançar seus objetivos muito rapidamente e acabam contaminadas pelo ambiente de academia", critica.

Segundo destaca o cardiologista Haroldo Aleixo, hoje em dia o uso dos suplementos está tão enraizado que as pessoas já não acreditam que possam ser saudáveis sem eles. "Tive um cliente atleta que afirmou ser impossível ser atleta hoje em dia sem usar suplementos. Disse a ele que Pelé e Garrincha nem sabiam o que era isso", comenta. O médico destaca que os suplementos normais têm riscos menores, mas não podem ser negligenciados.

SOBRECARGA 

"Uma pessoa deve ingerir uma taxa de proteína de 1 a 2 gramas por quilo. Ou seja, se ela pesa 50 quilos, deve comer por dia 100 gramas. Mas, quando se ultrapassa essa quantidade, o excesso pode sobrecarregar ou lesar os rins a longo prazo", esclarece. Uma das febres entre os suplementos são os termogênicos, que oferecem energia e uma queima rápida de gordura aos usuários. "Esses estimulantes provocam arritmias cardíacas. Hoje em dia está difícil convencer esses usuários sobre esse problema", acrescenta Haroldo.

Outro alerta recai sobre os produtos naturais. "O grande problema deles é que eles entram para o mercado e para o modismo, assumindo funções antes de serem testados cientificamente", critica Haroldo, que acrescenta: "Temos que ficar atentos também para a indicação de produtos por profissionais que recebem alguns benefícios ao prescrever aquela fórmula". Para ele, ninguém precisa de suplementos. "A resposta para ter saúde e um corpo bacana está na alimentação adequada."

Muito exagero nas atividades físicas 

Além de todas as substâncias ingeridas por quem busca o corpo perfeito, há a dedicação extrema aos exercícios físicos. Aos 34 anos, a consultora de moda Tatiana Ferragini teve que largar a corrida, a academia e as aulas de muay thai. Ela desenvolveu hérnia de disco e, segundo muitos médicos, o problema pode ter sido causado pelo excesso de atividades físicas. Hoje, fazendo fisioterapia, ela reconhece que, muitas vezes, durante seus treinos, tentou ultrapassar os limites do corpo. "Você sente aquela dorzinha, mas quer mais", conta. Tatiana diz que já usou termogênicos para ter energia e queimar gorduras. "Uma nutricionista foi quem me passou. Mas não tomei muito. Sei que isso já virou febre nas academias."

De acordo com o fisioterapeuta e especialista em coluna vertebral da clínica FortaleSer/ITC Vertebral Rodrigo Moura, com o fim do ano há aumento de lesões causadas por exercícios físicos. "As pessoas tentam compensar em um período de dois e três meses um ano parado", comenta, lembrando que o excesso muitas vezes é motivado por outros fatores, como os medicamentos tomados para o corpo ideal. "Com os estimulantes, por exemplo, a pessoa se sente com mais energia e vai ultrapassando os limites corporais. É uma energia perigosa, pois os músculos e tendões podem não estar preparados para esse treinamento. O efeitos podem ser desde uma lombalgia mais simples até uma patologia grave, que deixa a pessoa incapacitada." O ideal, segundo ele, é fazer atividades físicas sem o consumo de substâncias e de forma gradual.


Uso indiscriminado de esteroides oferece riscos incalculáveis à saúde

Tumores no fígado, disfunção erétil e problemas cardíacos atingem quem abusa desse tipo de medicamento

Restrições quanto ao uso de medicamentos deveriam ser seguidas à risca pelas pessoas. Todavia, a automedicação é prática comum até mesmo pela facilidade com que se pode obter um fármaco específico. Comercializados com o objetivo de auxiliar pacientes com hipogonadismo, déficit de crescimento ósseo ou muscular, que necessitem de estímulo para desenvolver apetite, os esteroides androgênicos anabólicos acabam sendo “vilanizados” por causa de um grupo que os usa (geralmente em excesso) sem prescrição médica apenas para ter um corpo escultural sem a necessidade de maiores esforços. Tal uso descabido pode acarretar diversos problemas que comprometem a saúde do usuário e pode levá-lo à morte.

Os anabolizantes são administrados tanto por via oral quanto por meio de injeções. As substâncias variantes da testosterona adentram o organismo e se espalham por órgãos e tecidos. “Há a estimulação das células musculares com retenção de líquido em demasia, o que acaba provocando um inchaço”, comenta o oncologista Volney Soares Lima. A capacidade de contração do tecido também aumenta, devido ao crescimento da produção de proteínas nas células. Com o maior poder de contratilidade aliado ao inchaço celular, fica mais fácil para o músculo “crescer” e esse processo é o primeiro passo para se adquirir o tônus muscular tão desejado.

Apesar desses benefícios, alguns efeitos colaterais em decorrência do uso dos esteroides androgênicos anabólicos – principalmente quando em excesso e sem acompanhamento médico – devem ser ressaltados. Como são metabolizados no fígado, os anabolizantes tendem a provocar maior dano nesse órgão. “Aumenta-se e muito o risco de desenvolvimento de tumores hepáticos”, destaca o médico. Além da elevação da pressão sanguínea, aumento do LDL (lipoproteína de baixa densidade) em detrimento do HDL (lipoproteína de alta densidade) e alterações no ventrículo esquerdo do coração, os hormônios esteroides podem comprometer a fertilização tanto feminina quanto masculina e causar disfunção erétil no homem. De acordo com o especialista em ginecologia e obstetrícia Antônio Eugênio Motta Ferrari, no caso da mulher a nocividade é ainda maior.

“A quantidade exacerbada de hormônios masculinos no organismo feminino desregula totalmente a ovulação e a menstruação. Além disso, há grande aumento do risco de cisto nos ovários”, afirma Ferrari. Ademais, as alterações corporais também são mais perceptíveis nas mulheres. “O engrossamento da voz é irreversível, ocorre um aumento no clitóris e há também o surgimento da acne na pele, tal qual nos homens”, destaca. “A mulher sofre um processo de masculinização que pode chegar a interferir na relação entre gêneros inclusive”, completa o médico.

No caso do homem, a atrofia do testículo é dos problemas mais corriqueiros, já que produz-se testosterona em menor quantidade e ingere-se ou injeta-se o hormônio com frequência maior. “O cérebro atua como um estimulante da produção do hormônio. No entanto, quando se usam anabolizantes em excesso, o principal órgão do sistema nervoso supõe que a produção segue normalmente. Isso acaba levando à atrofia dos testículos”, informa o especialista.

Os homens ainda são acometidos por um problema que lhes causa extremo constrangimento, além de outros prejuízos à saúde: a ginecomastia. “Indivíduos que sofrem deste problema, o crescimento anormal das mamas, geralmente têm ou já tiveram um histórico de uso de esteroides anabólicos androgênicos”, afirma Clécio Lucena, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais. O especialista acrescenta que muitos dos pacientes que o procuram passam por determinado embaraço. “O público masculino acaba passando por certo constrangimento. Muitos pacientes chegam para mim já com esse comportamento. Ressalto que a única forma de reverter o quadro é por meio de intervenção cirúrgica. Medicamentos não ajudam em absoluto na reversão”, ressalta.

NA ACADEMIA O personal trainer Gustavo Malva reforça o coro dos outros profissionais e revela que a convivência com os anabolizantes num ambiente de academia é constante. “Na minha área pode-se ver a todo momento pessoas à procura ou fazendo uso de anabolizantes, algumaspor total falta de informação e outras por vontade própria mesmo”, explica. “Atualmente, esse culto ao corpo que a mídia tanto difunde faz que alunos me perguntem com frequência sobre os efeitos dos esteroides, sobre os benefícios e malefícios. Até mesmo os que já utilizam os hormônios estão a todo momento buscando informações de venda de novas substâncias no mercado”, explica o profissional.

Malva informa que muitos ainda confundem suplementos alimentares com anabolizantes. “Como já diz no nome, suplementos são complementos com o objetivo de suprir a dieta, fornecendo vitaminas, nutrientes, entre outros que sejam consumidos de maneira insuficiente pela pessoa. Muitos confundem estes com os esteroides anabólicos”, destaca. Quanto à melhor maneira de ficar em boa forma, o personal trainer comenta que é de suma importância ter acompanhamento médico e de profissionais para auxiliar nos treinamentos e afins. “Para ganhar massa muscular, manter o corpo saudável e em forma sem se agredir ou prejudicar a saúde tem de praticar exercícios físicos, especialmente os que mais lhe deem prazer, e ter uma alimentação balanceada. Além disso, é mandatório o acompanhamento de profissionais que possam orientar adequadamente”, finaliza.


NOS ESPORTES


Caso emblemático, o multicampeão da Volta da França, o ciclista Lance Armstrong, foi banido do esporte pelo uso de diversas substâncias ilegais, incluindo esteroides anabolizantes. Vale frisar que uma crise se instaurou no mundo do ciclismo, levando um grande número de profissionais a admitir a culpa quanto à utilização dessas drogas. No Brasil, a nadadora Rebeca Gusmão foi flagrada no exame antidoping que detectou o uso de esteroides anabolizantes em 2007, durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro. Tal qual Armstrong, Rebeca não mais pode competir.


ERITROPOIETINA


A eritropoietina, comumente conhecida como EPO, não deve ser confundida com esteroides anabolizantes. Seu uso médico tem como enfoque o tratamento de anemias graves. O estímulo provocado pelo hormônio de glicoproteína na produção de hemácias faz com que a substância seja a favorita de muitos atletas que enfrentam provas que demandam bastante esforço. Lance Armstrong utilizava eritropoietina a fim de ajudá-lo nas competições.





Consumo de energéticos pode levar à síndrome da morte súbita por arritmia

Grupo internacional de pesquisadores detecta que a bebida em excesso faz mal ao coração. A alta taxa de cafeína no produto explica o fenômeno

Ingeridos para aliviar a fadiga, melhorar o desempenho físico e cognitivo e turbinar a diversão, os energéticos se popularizaram entre jovens e adultos. Pesquisas vêm demonstrando que, por se tratarem de desreguladores endócrinos, essas bebidas afetam as batidas do coração, com riscos de consequências graves. Um novo estudo reforça o alerta. Cientistas da Universidade Europeia de Madri (Espanha), do Hospital Acadêmico de Parma (Itália) e da Texas A&M University (Estados Unidos) constataram que o consumo regular desses produtos por jovens aparentemente saudáveis pode levar à síndrome da morte súbita por arritmia.

Liderada por Fabian Sanchis-Gomar, do Instituto de Pesquisa do Hospital 12 de Outubro, em Madri, a equipe avaliou jovens com 13 anos. Os participantes ingeriram energéticos e foram avaliados durante partidas de futebol. Os cientistas detectaram quadros de fibrilação atrial, quando o ritmo dos batimentos cardíacos se torna rápido e irregular. A situação, porém, é incomum em adolescentes e crianças sem doença cardíaca estrutural.

Diretor do Laboratório de Treinamento e Simulação em Emergências Cardiovasculares do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Sergio Timerman explica que o problema está na alta quantidade de cafeína presente nos energéticos. “Ela aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, fazendo com que suba a probabilidade de arritmia, ataques cardíacos, crises de pressão arterial” detalha. “As bebidas energéticas são consumidas pelos jovens como um refrigerante. O problema é que elas deixam o metabolismo constantemente acelerado, e isso acaba criando um quadro de estresse propiciando ainda mais arritmias e ataques cardíacos”, completa.

Junta-se ao perigo o fato de nem sempre a porcentagem da substância informada nos rótulos corresponder à realidade. Segundo Timerman, os fabricantes mascaram a cafeína informando apenas a presença de componentes como o guaraná, o ginseng e a taurina, que a contêm em sua composição. O guaranine presente no guaraná, por exemplo, nada mais é do que a cafeína, com concentração cerca de duas vezes maior que a dos grãos de café.

Com álcool

O estudo também alerta que a famosa casadinha — a combinação de energéticos com álcool — pode surtir efeitos ainda mais catastróficos. Isso porque os desreguladores endócrinos, ao deixarem o usuário mais alerta, aumentam o risco de ele beber uma quantidade maior de álcool. O exagero aumenta os efeitos biológicos da cafeína, intensificando, assim, o potencial arritmogênico. “Essa mistura é perigosa por dar uma falsa impressão de que o estado de embriaguez está menor do que ele realmente está, mascarando os sintomas de quem bebe a mistura e possibilitando uma ingestão ainda maior”, explica a nutricionista Erika Reinehr.

A nutricionista esportiva Narayana Ribeiro faz outro alerta: a combinação evita ainda mais que o jovem perceba que está com habilidades comprometidas. “Grande parte do efeito colateral aparece. A pessoa não percebe tão bem que está com a capacidade motora fina debilitada, podendo se sentir apta a dirigir, quando não está”, exemplifica. Segundo a especialista, a toxicidade neurológica do álcool também é potencializada, aumentando a perda de células cerebrais. “Isso é uma bomba que pode levar à morte súbita. Os pais e os médicos devem ser educados para limitar o consumo excessivo ou o abuso de desreguladores endócrinos por seus filhos”, completa Timerman.

Estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina Geisel da Dartmouth College, nos Estados Undos, indica que os efeitos do drinque podem também aumentar a vulnerabilidade de adolescentes a comportamentos de risco, como o abuso e a dependência de álcool. Feita com jovens entre 15 e 17 anos, a pesquisa demonstrou que aqueles que consomem a mistura têm quatro vezes mais chances de desenvolver disfunções alcoólicas em comparação aos que bebem apenas álcool. “Esses resultados são preocupantes. É importante destacar que o misto de álcool e energéticos pode sinalizar o desenvolvimento de comportamentos como o consumo abusivo entre os adolescentes”, comentou Jennifer Edmond, uma das autoras, no artigo publicado no The Journal of Pediatrics.

As análises com os 3.342 participantes revelaram ainda que esse grupo está não apenas mais suscetível a bebedeiras, mas apresenta tendências para transtornos de uso de álcool, como dependência e abuso da substância. “Identificar os grupos de risco para o uso de álcool é importante, dado que se trata de uma questão sensível. É possível que os médicos, os pais e os educadores possam abrir diálogos sobre o uso dessa substância com adolescentes, iniciando a discussão sobre o tema das bebidas energéticas”, sugere Edmond.

Lituânia controla vendas

No fim de 2014, a Lituânia tornou-se o primeiro país do mundo a regular sobre o consumo de bebidas energéticas. A nação báltica restringiu a venda dessas substâncias somente para maiores de 18 anos. O controle aplica-se a energéticos não alcoólicos que têm mais de 150mg de cafeína por litro. Quem o desrespeitar  corre o risco de pagar multa de até 400 litas (cerca de R$ 450), enquanto os compradores menores de idade terão de pagar até 200 litas (R$ 220).

A decisão do Parlamento foi justificada tendo como base resultados de estudos científicos atestando que o consumo excessivo de cafeína pode levar à dependência e à hiperatividade. Estudo encomendado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos em 2013 revelou que os jovens são mais propensos a consumir bebidas energéticas do que os adultos, e que 68% dos europeus com 10 a 18 anos ingeriam, na época, a bebida.

Em outubro de 2013, a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que produtos com alto teor de cafeína estão sendo amplamente consumidos por jovens e comercializados de maneira “agressiva” para crianças. À época, especialistas da agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) pediram a adoção de regras mais severas, como a “restrição de rotulagem e venda de bebidas energéticas para crianças e adolescentes”.  Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas (Abir), a venda de energéticos teve um crescimento de 325% entre 2006 e 2010, principalmente devido ao aumento do poder de consumo da população e das estratégias de publicidade das empresas no setor.

Para a nutricionista Erika Reinehr, há uma propaganda esportiva que tem aumentado o consumo entre pessoas de todas as idades. “As bebidas energéticas podem afetar idosos, adultos, crianças e adolescentes. Esse marketing está fazendo com que elas sejam usadas por atletas e esportistas, independentemente da idade. Crianças estão tomando energéticos para participar de campeonatos na escola, para fazer provas, para ter disposição em dias de cansaço”, alerta. A especialista explica que a quantidade de cafeína de uma lata de bebida energética é muito mais alta para uma criança, se levados em conta a quantidade da substância e o peso do pequeno consumidor.

“Tomar 100g de cafeína para um adulto de 80kg é bem diferente do que para uma criança de 40kg. É esperado que os sintomas sejam potencializados em crianças, como o aumento da ansiedade, da taquicardia e da falta de ar. Também não se sabe ao certo o que o excesso de consumo de estimulantes pode trazer de danos a crianças e adolescentes, que ainda estão em formação estrutural e hormonal”, afirma.

OMS alerta sobre os perigos dos energéticos

A cafeína presente nos energéticos é o maior perigo. Como não são consumidos quentes, a ingestão é mais rápida e em maior quantidade, o que aumenta o risco de intoxicação

As bebidas energéticas se tornaram populares no mundo após ganharem o mercado europeu em 1987. Desde então, pesquisadores têm buscado compreender qual é exatamente a interação delas com o organismo humano. Uma revisão de literatura conduzida pelo Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa alerta: o aumento do consumo desse produto pode representar perigo para a saúde pública, especialmente entre os jovens. Os resultados do levantamento foram publicados na revista de acesso aberto Frontiers in Public Health.

Os energéticos são bebidas não alcoólicas que contêm cafeína, guaraná, taurina e ginseng, entre outros ingredientes. Normalmente, são ingeridos por quem deseja aumentar o desempenho físico e mental antes de uma festa ou de uma maratona de estudo, por exemplo. Mas há um grupo de consumidores mais frágil: as crianças. Elas, alerta João Breda, o autor sênior do estudo, não estão preparadas para metabolizar a quantidade de substâncias contidas nesse produto.



Pesquisa mostrou também que 70% dos adolescentes misturam energéticos com álcool e se tornam mais propensos a a se envolver em comportamentos de risco, como direção irresponsável

A cafeína é, segundo Breda, o maior perigo. Ao contrário do café, os energéticos não são consumidos quentes. Logo, a ingestão é mais rápida e em maior quantidade, o que aumenta os riscos de intoxicação. Na Europa, um estudo da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) constatou que as bebidas energéticas eram responsáveis por 43% do consumo de cafeína entre as crianças. Para adolescentes e adultos, as quantidades correspondiam a 13% e 8%, respectivamente.

“O potencial de toxicidade aguda causada pela cafeína pode ser maior nas bebidas energéticas do que em outras fontes alimentares”, constatou Breda, acrescentando que a potencialidade é incrementada pelo “marketing agressivo direcionado aos consumidores jovens e inexperientes”. De acordo com dados da EFSA, as crianças integram uma parcela expressiva dos consumidores — pelo menos 18% das que têm menos de 10 anos ingerem esse tipo de bebida. O número é mais expressivo entre adolescentes (68%), seguidos dos adultos (30%).

A pesquisa mostrou ainda que os adolescentes — pelo menos 70% deles misturam os energéticos com álcool — se tornam mais propensos a se envolver em comportamentos de risco, como direção irresponsável e abuso de substâncias, ao ingerir energéticos. “Raramente, as vendas são reguladas por idade, como acontece com o álcool e o tabaco. Há um efeito negativo comprovado nas crianças, o que nos indica que existe potencial para um problema significativo de saúde pública no futuro”, conclui Breda, ressaltando que as reformulações na regulação do comércio de energéticos são uma medida urgente.

Álcool mais energético: combinação potencializa a vontade de continuar a beber

Mistura muito apreciada por jovens pode resultar em complicações cardíacas e hepáticas


Uma combinação cada vez mais comum em festas e bares, a junção de energéticos e bebidas alcoólicas pode prolongar perigosamente a diversão, colocando em risco a saúde dos baladeiros. Segundo um experimento conduzido por pesquisadores da Austrália, a mistura aumenta a vontade de dar continuidade à bebedeira. Eles acreditam que esse efeito pode ser resultado da ação de substâncias presentes na composição do drinque e alertam que os resultados da pesquisa já servem de base para a discussão de possíveis mudanças na venda desses estimulantes.

A suspeita de que energéticos misturados ao álcool aumentam o desejo pela bebida ronda o meio científico há tempos, segundo Rebecca McKetin, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Universidade Nacional Australiana de Pesquisa sobre Envelhecimento, Saúde e Bem-estar. “A cafeína presente nessas bebidas aumenta os efeitos estimulantes da intoxicação alcoólica. Chamamos isso de beber em binge, que é o surgimento da vontade de continuar a beber logo depois da primeira 
dose”, explica.

O estudo foi publicado na revista americana Alcoholism Clinical & Experimental Research. “Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos encontrou efeito semelhante, mas as pessoas estavam céticas em relação aos resultados. Por isso, a nossa replicação desse dado é importante”, destaca McKetin.

Os cientistas da instituição australiana selecionaram 75 participantes (46 mulheres e 29 homens), com 18 a 30 anos. Elas receberam duas misturas: um coquetel contendo 60ml de vodca e uma lata de bebida energética, e outra com 60ml de vodca e soda. Minutos após a ingestão, responderam a um questionário sobre a vontade de continuar a beber álcool. A sensação foi maior entre as pessoas do primeiro grupo.

“Nosso estudo, por si só, não fornece provas suficientes para avisos sobre o consumo de energético com o álcool, mas é um passo importante porque aponta a evidência de um mecanismo pelo qual as bebidas estimulantes podem aumentar o consumo excessivo de álcool, além de destacar a necessidade de investigar essa possibilidade ainda mais”, destaca McKetin.

Choque de sensações


Professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Luciana Diniz Silva acredita que o efeito arriscado pode ser explicado pela presença, nos energéticos, de substâncias que incitam o sistema nervoso central a continuar bebendo. “O estimulante, que é composto por cafeína e taurina, associado com o álcool, que é um depressor, forma uma mistura que vai contrabalançar as sensações. Ou seja, a pessoa vai se sentir menos embriagada, permitindo que ela ingira uma quantidade maior do álcool, e aumentará as chances do efeito de intoxicação”, explica.

Yara Aguiar, cardiologista do Hospital do Coração do Brasil, explica que o consumo de energéticos sempre foi uma preocupação para pessoas que sofrem de problemas cardíacos devido ao risco de sobrecarga ao coração, efeito provocado pelas mesmas substâncias estimulantes. “A cafeína e a taurina podem causar o aumento da frequência cardíaca, palpitações e arritmias quando ingeridas em excesso, principalmente em pessoas que não sabem que têm problema (cardíaco)”, completa.

Restrições pelo mundo
A mistura entre álcool e energéticos tem sido uma preocupação tão recorrente entre autoridades de saúde pública que a venda da bebida estimulante vem sofrendo severas restrições pelo mundo. Peter Miller, professor associado de psicologia na Universidade de Deakin, na Austrália, destaca uma recente proibição da Lituânia com relação ao comércio desses estimulantes para menores de 18 anos. “Já na Austrália, a embalagem precisa conter um aviso alertando que as pessoas não consumam mais do que duas latas de 250ml por dia do produto, que nunca deve ser ingerido por crianças, grávidas e pessoas com problemas cardíacos”, complementa.

Segundo Luciana Diniz Silva, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as restrições na França foram adotadas depois que um jovem de 17 anos teve problemas de saúde por ingerir uma grande quantidade de energéticos. “O que nos deixa preocupados é a pouca informação fornecida às pessoas quanto ao efeito dessas bebidas caso sejam consumidas em excesso.”

Há energéticos que têm uma quantidade de cafeína três vezes maior do que a de uma xícara de café, segundo a cardiologista Yara Aguiar. De acordo com um estudo da Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), uma lata de energético concentra de 50mg a 500mg da substância, enquanto que uma xícara de café tem de 75mg a 150mg. No Canadá, o produto pode ter até 180mg de cafeína. No Brasil, 80mg. Alguns estados pedem na Justiça a proibição da venda da bebida para menores de 18 anos.


Isotônicos e os energéticos têm diferenças nutricionais; saiba como e quando usá-los

Com uma enorme variedade de opções no mercado de bebidas e suplementos nutricionais, produtos acabam causando confusão no consumidor, que, muitas vezes, não tem as informações sobre o uso correto

Qualquer pessoa que pratica algum exercício perde líquidos e sais minerais por meio do suor. A reposição desses sais, geralmente, é suprida com energéticos e isotônicos. Eles são ingeridos para repor os líquidos do corpo e dão um plus na atividade física. Com uma enorme variedade de opções no mercado de bebidas e suplementos nutricionais, porém, esses produtos acabam causando confusão no consumidor, que, muitas vezes, não tem as informações sobre o uso correto.

A maior dúvida está entre a ingestão de isotônicos e a de energéticos. As duas bebidas são desenvolvidas para melhorar o desempenho esportivo, mas têm diferenças na composição nutricional. O energético age como estimulante para o corpo. Como contém cafeína e taurina — o que deixa a pessoa em estado de alerta e pode causar dependência —, deve ser ingerido moderadamente. O uso de cafeína em doses muito altas, por parte dos atletas, era inclusive, até 2004, considerado dopping.


Já os isotônicos são recomendados em caso de exercícios de longa duração e, assim como os energéticos, devem ter consumo regrado. “Há muito sódio na composição. Também pode ter muita caloria e açúcar”, explica a empresária e personal trainer Renata Costa. “O isotônico é recomendado
para atividades com duração de mais de uma hora. Maratonas, ciclismo e exercícios aeróbicos são os mais indicados para esse tipo de bebida”, explica o personal Marcos Prazeres. Ainda segundo o professor de educação física, o ideal é procurar um nutricionista para orientar o uso correto desses produtos.

A hora certa de tomar é outro ponto importante. Energéticos devem ser ingeridos antes de atividades físicas. O isotônico, durante ou depois da malhação. Antes do exercício, pode acumular calorias, pois a bebida tem um alto teor de carboidrato.

O professor Maurício Padilha, 47 anos, prefere o isotônico ao energético. Ele fez triatlo durante 20 anos. Depois de um bom tempo sem treinar, resolveu retornar aos exercícios com a intenção de perder peso. “Eu prefiro isotônicos, pois estou voltando a uma rotina de exercícios mais intensa”, conta o professor. Há quatro anos, Padilha treina corrida de moto com o filho, mas não considera um esporte adequado. “Eu engordei e quero perder peso. Então estou investindo em outras atividades.” Ele ainda pratica corrida, ciclismo e natação. Sempre com ajuda dos isotônicos durante e após a atividade.

Crianças não podem tomar energéticos. Os componentes, como cafeína e taurinas, não são recomendados para o organismo infantil. No caso de isotônicos, somente se a criança for atleta e sempre consultando um pediatra para saber das indicações. Quem prefere evitar esse tipo de bebida pode apostar em alimentos naturais. A água de coco, por exemplo, age como um repositor de minerais e hidratante para o corpo. Sucos naturais e frutas também fornecem açúcar para dar energia e hidratação necessárias.

Para escolher o isotônico ou o energético correto, primeiramente, deve-se procurar um nutricionista. Ele saberá avaliar a necessidade e a indicação para cada pessoa. É importante lembrar que a bebida depende muito do tipo de atividade que é praticada. O energético também não deve ser ingerido com álcool. O líquido retarda os efeitos da embriaguez, fazendo com que a pessoa consuma uma quantidade maior de bebida alcoólica.

Quem não pode tomar?

Energéticos
Pessoas com problemas cardíacos
Gestantes
Crianças
Pessoas com insônia
Pessoas com hiperatividade

Isotônicos
Pessoas com insuficiência cardíaca
Hipertensão arterial
Doenças renais

Consumo excessivo de cafeína pode causar
Insônia
Transtorno de ansiedade
Gastrite
Dor de cabeça
Arritmia cardíaca
Intoxicação
Tremores


Fonte:http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/





Comentários