EIXO INTESTINO-CÉREBRO: RELAÇÃO DA DOENÇA DE PARKINSON COM A CONSTIPAÇÃO INTESTINAL

Eixo Intestino - Cérebro: Relação da Doença de Parkinson com a Constipação Intestinal

Bruna Calegari Nutricionista Clínica


Publicado em 21 de junho de 2018
A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que causa danos as células nervosas do cérebro causando uma diminuição na produção de dopamina.
Estudos tem mostrado que há uma importante relação entre a doença e a saúde intestinal;
Além dos sintomas motores como tremores, rigidez, lentidão e instabilidade postural, a doença de Parkinson apresenta sintomas gastrointestinais importantes como náuseas, vômitos, constipação crônica, dispepsia, dor abdominal e outros sintomas como baixo peso, anorexia e disfagia. 1
      As manifestações clínicas da disfunção gastrointestinal na doença de Parkinson incluem desnutrição, distúrbios bucais e dentários, sialorréia, disfagia, gastroparesia, constipação e disfunção defecatória. Essas condições são bastante angustiantes para os pacientes e requerem investigações relevantes e gerenciamento adequado. 15
      A constipação intestinal é uma condição multifatorial, que pode ser subdividida em primária e secundária, onde a secundária tem causas bem definidas como doenças endócrinas, neurológicas ou uso inadvertido de substâncias obstipantes. A constipação pode ser referida como fezes endurecidas, esforço excessivo no ato evacuatório, evacuações infrequentes (menos que 3X na semana), ou sensação de evacuação incompleta. 9
       Segundo J L. Barboza et al. (2015) “A constipação é definida como dificuldade em passar fezes ou ter menos de três movimentos intestinais por semana. Está associado com esforço, evacuação incompleta e fezes duras.” 11
      Na doença de Parkinson a constipação deve-se principalmente ao trânsito colônico mais lento ou a dissinergia puborretal, - O tempo de trânsito normal é inferior a 72 horas - mas o uso de medicações antiparkisonianas, para dores e antidepressivas podem piorar o quadro. Os sintomas não motores e gastrointestinais na doença de Parkinson trazem uma influência negativa na terapia com a medicação, podendo variar de problemas de deglutição dos comprimidos, disfagia, má absorção devido a constipação ou perda de substâncias medicamentosas devido a sialorréia, trazendo grande desconforto ao paciente. 17
O diagnóstico da constipação auxilia no tratamento do sintoma e previne complicações como oclusão intestinal e assegura uma boa resposta clínica a levodopa. 5, 9
      Estudos revelam que pacientes que já possuíam constipação anterior ao diagnóstico da doença de Parkinson ou Síndrome do Intestino irritável tem maior predisposição a desenvolver a doença de Parkinson. Em alguns pacientes a constipação precede a doença de Parkinson cerca de 2 décadas antes de desenvolver os sintomas motores. 6, 11,15
Os distúrbios gastrointestinais encontrados na doença de Parkinson tem um importante impacto na qualidade de vida do paciente, aumentando custos anuais da terapia, visitas a postos de emergências devido aos sintomas, e hospitalizações.
      A etiologia da disfunção gastrointestinal na doença de Parkinson é de origem multifatorial; Segundo estudos essa disfunção ocorre devido ao depósito de alfa sinucleína no sistema nervoso entérico; A alfa-sinucleína é uma proteína abundantemente expressa no Sistema Nervoso Central, principalmente nos terminais pré sinápticos estando envolvida na regulação da neurotransmissão e homeostase sináptica.
O acúmulo de alfa-sinucleína estão associadas com dano nos neurônios entéricos e possivelmente promovem a disfunção gastrointestinal; eles afetam tanto os plexos mientéricos e submucosos do intestino em pacientes com doença de Parkinson e vão do esôfago até o reto.10
Em autopsias de pacientes portadores da doença, foi encontrada alfa sinucleína nas glândulas mandibulares, esôfago, estômago, intestino delgado, cólon e reto. 22
O sistema nervoso central também está envolvido com um alto nível de corpos de Lewy encontrado no núcleo motor dorsal do nervo vago, que tem uma forte influência na motilidade gastrointestinal. 6, 7 Corpos de Lewy e neurites de Lewy são acumulações intracitoplasmáticas de proteínas, incluindo a alfa-sinucleína. 12
      A constipação prolongada em pacientes com doença de Parkinson pode levar a complicações gastrointestinais, como necrose intestinal causada por ulceração de pressão, podendo levar a uma mortalidade elevada, em torno de 57%. 7
O tratamento para constipação na doença de Parkinson não deve começar com abordagens farmacológicas, sendo o tratamento dietético a primeira escolha. 19
       Segundo estudos, a ingestão de Psyllium juntamente com mudanças alimentares aumentou o número de evacuações semanais em pacientes portadores da doença; 11 Assim como  consumo de um leite fermentado contendo múltiplos probióticos e a fibra prebiótica foi superior ao placebo na melhora da constipação em pacientes com  a doença. 14
      Recentemente, identificou-se que as interações intestino-cérebro podem ser essencialmente influenciadas pela microbiota intestinal. Em um estudo mostrou-se que pessoas que desenvolvem a doença de Parkinson, antecedem a doença apresentando sintomas de constipação crônica, havendo relação com a microbiota intestinal, e que pacientes portadores da doença possuem maior número de bactérias patogênicas no intestino. O crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado de pacientes portadores da doença, tem sido associada a piora da função motora. 10, 12
      A terapia nutricional tem grande importância na doença de Parkinson, além das alterações gastrointestinais, observa-se acentuada perda de peso em pacientes portadores da doença, que deve ser corrigida através das calorias ingeridas.
      A constipação é um sintoma não motor prevalente na doença de Parkinson, portanto os pacientes são orientados a aumentarem sua ingestão de fibras, ingestão hídrica e a abandonar o sedentarismo.
      Alguns estudos mostram que a constipação interfere negativamente no tratamento com a levodopa, sendo essa transportada através do intestino delgado. 13
      Para otimizar o tratamento com levodopa, deve-se manter controle da constipação e ingestão proteica, sendo essa indicação de 0,8 g/kg/dia para o paciente e manter a ingestão concomitante com alimentos em horários afastados. 11,13
Os sintomas gastrointestinais não motores estão associados a própria doença, porém a medicação dopaminérgica pode afetar tanto positivamente, como negativamente os sintomas do  trato gastrointestinal, inibindo a motilidade intestinal tornando o transito colônico mais lento.  19
       A doença é altamente prevalente e os sintomas envolvem todos os níveis do trato gastrointestinal, tendo influência tanto da doença como da medicação antiparkisoniana. 19
      Através dos estudos pode-se notar que a constipação precede o desenvolvimento da doença de Parkinson, e é um sintoma não motor com alta prevalência que afeta a qualidade de vida e o tratamento do paciente.  20
Bibliografias:
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