CORONAVÍRUS: QUAIS OS NÍVEIS IDEAIS DE VITAMINA D


Durante o confinamento, é importante achar algum lugar da casa para tomar sol — Foto: Shutterstock


Durante o confinamento, é importante achar algum lugar da casa para tomar sol — Foto: Shutterstock

Coronavírus: quais são os níveis ideais de vitamina D?

Novo estudo americano relaciona a taxa de mortalidade por Covid-19 a baixos níveis de vitamina D. Mas quais são as consequências da superdosagem? Como encontrar o equilíbrio? E quais os efeitos de deficiência e do excesso da substância em atletas?

Por Marina Borges, para o Eu Atleta — Bauru, São Paulo
 

Baixos níveis de vitamina D estão fortemente relacionados com a taxa de mortalidade da Covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus. Essa foi a conclusão de um estudo publicado no último dia 30 de abril, liderado por pesquisadores da Northwestern University, dos Estados Unidos, após o acompanhamento de dados clínicos de pacientes de dez países: China, França, Alemanha, Itália, Irã, Coreia do Sul, Espanha, Suíça, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Mas quais os riscos da superdosagem? Como encontrar um equilíbrio? Com a adoção da quarentena como medida de proteção, quando temos menos contato com o sol, e com a chegada do inverno, todos devemos tomar suplemento de vitamina D?

Segundo o estudo, há uma relação entre deficiência de vitamina D é a chamada tempestade de citocina, uma reação imune que pode ser fatal e tem sido observada em pacientes com coronavírus. A relação entre deficiência de vitamina D e altas taxas de mortalidade também foi confirmada. No entanto, é válido ressaltar que, embora a vitamina D faça bem para diversas funções corporais, o ditado “quanto mais, melhor” não se aplica aos níveis ideais recomendados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). A explicação para isso é que existem quantidades limites determinadas para a presença dessa vitamina no corpo humano; ou seja, quando esses limites são ultrapassados, há uma superdosagem de vitamina D no nosso organismo, o que pode causar complicações à saúde, principalmente para as pessoas que estão no grupo de risco. Equilíbrio, portanto, é fundamental.
A vitamina D desempenha um papel fundamental no nosso organismo, agindo no equilíbrio de diferentes órgãos e funções do corpo humano. Responsável por regular a absorção de cálcio e fósforo, ela mantém o cérebro ativo, além de fortificar ossos, dentes e músculos — inclusive o coração, e regular o crescimento, os sistemas imunológico e cardiovascular, o metabolismo e a insulina. Em atletas, a deficiência de vitamina D fará com que o corpo tenha uma resposta muscular inferior. Contudo, com o confinamento em casa, os níveis de vitamina D presentes no organismo podem sofrer uma baixa, visto que o processo de sintetização da mesma ocorre a partir da exposição da pele ao sol. Durante a quarentena, os passeios e atividades ao ar livre ficam comprometidos, então é importante reservar alguns minutos do dia para um banho de sol, seja no quintal, na sacada ou em frente à janela.
Segundo a SBEM, estão no grupo de risco: idosos, gestantes, lactantes, pessoas que sofrem quedas e fraturas recorrentes, pacientes com raquitismo, osteoporose, hiperparatiroidismo, doenças inflamatórias, doenças autoimunes, doença renal crônica e síndromes de má absorção (clínicas ou pós-cirúrgicas, como a bariátrica). De acordo com o endocrinologista Guilherme Renke, essa pessoas devem fazer exames constantes para avaliação dos níveis de vitamina D no sangue, tendo em mente que, para se ter uma boa saúde óssea, a concentração recomendada para um adulto jovem é de 20 nanogramas por mL de hidroxivitamina D no sangue.

Níveis ideais no sangue e suplementação

·         Deficiência - abaixo de 10 nanogramas por mL;
·         Insuficiência - entre 10 e 20 nanogramas por mL;
·         O ideal - entre 20 e 60 nanogramas por mL;
·         Acima da dosagem ideal - entre 60 e 100 nanogramas por mL;
·         Superdosagem - acima de 100 nanogramas por mL.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), os níveis ideais de suplementação de vitamina D para cada faixa etária devem ser avaliados individualmente por médicos, após exame de sangue, mas em média podem ser estipulados em:

·         Para adultos, doses de manutenção variam entre 400 e 2.000 UI/dia, a depender da exposição solar e da coloração da pele;
·         Para idosos, as doses recomendadas variam de 1.000 a 2.000 UI/dia ou 7.000 a 14.000 UI/semana, também de acordo com o grau de exposição ao sol e à cor da pele;
·         Para lactentes, crianças e adolescentes, recomenda-se a ingestão de pelo menos 400 UI/dia de vitamina D.
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As consequências da superdosagem

A principal função da vitamina D é a absorção do cálcio. Sendo assim, o grande risco de uma superdosagem é o desenvolvimento de hipercalcemia — que é o acúmulo de cálcio acima dos valores limítrofes estabelecidos no exame de sangue.
- Quando a vitamina D ultrapassa valores entre 120 e 150 ng/mL, pode representar um quadro de hipercalcemia no sangue, o que pode causar arritmias cardíacas. Dessa forma, além dos pacientes de risco já citados, pessoas que possuem histórico prévio de doenças cardiovasculares ou arritmias também merecem uma atenção especial - destaca Renke.
Muitas vezes os pacientes com deficiência ou insuficiência de vitamina D precisam recorrer a altas doses de suplementação para atingirem a concentração considerada ideal (20 ng/mL). Porém, na tentativa de corrigir a carência, é comum provocar uma situação de toxicidade, ocasionada pelo excesso de vitamina D no organismo.

Caso o sangue possua uma concentração de vitamina D abaixo do ideal, pode ser necessário recorrer à suplementação — Foto: Istock
Caso o sangue possua uma concentração de vitamina D abaixo do ideal, pode ser necessário recorrer à suplementação — Foto: Istock

Vale destacar que a alimentação com salmão selvagem ou de cativeiro, sardinha, cavala e atum em lata, cogumelo shitake, gema de ovo e carne é rica em vitamina D, e que o banho de sol é fundamental para sintetizá-la no organismo e atingir os níveis ideais. Porém muitas pessoas têm deficiência desta mesmo se submetendo à exposição solar, sendo necessário recorrer à suplementação.

Nesse cenário de restrição da luz solar devido à quarentena, quando se está preso em apartamentos, recomenda-se que os indivíduos do grupo de risco, especialmente os idosos, façam exames periódicos para avaliação dos níveis de vitamina D e, caso seja necessário aumentá-los, apenas tomar banho de sol não será suficiente, sendo preciso aumentar as doses de vitamina D no sangue por meio da suplementação.
Contudo, o banho de sol continua sendo a forma natural mais eficaz do corpo sintetizar vitamina D. De acordo com Renke, para o nosso organismo catalisar a substância, é necessário se expor à luz solar entre 10h e 15h, pois são nesses horários em que há maior intensidade de raios ultravioleta B (UVB), os quais sintetizam a vitamina D. Por outro lado, é importante frisar que a exposição prolongada à luz solar nesse período não é recomendada pelos dermatologistas devido ao risco de câncer de pele. Portanto, cerca de 15 minutos diários no sol são suficientes para garantir a produção da substância.

A vitamina D em números

De acordo com Renke, a vitamina D é uma vitamina lipossolúvel. Ela se acumula no organismo, e algumas pessoas têm a capacidade de acumular mais que outras. No entanto, embora haja uma variação de pessoa para pessoa, existe um consenso entre as sociedades médicas quando o assunto são os níveis de vitamina D no sangue. Abaixo, o endocrinologista determina os parâmetros de acordo com cada concentração.
- Existe um consenso de que níveis abaixo de 10 ng/mL de vitamina D representam uma deficiência; níveis abaixo de 20 ng/mL são considerados uma insuficiência; níveis a partir de 20 ng/mL são considerados ideais, no entanto, para pessoas que fazem parte do grupo de risco, recomenda-se os níveis de vitamina D entre 30 e 60 ng/mL. Já os níveis entre 60 e 100 ng/mL são considerados acima da média, mas não são classificados como superdosagem. Por último, valores acima de 100 ng/mL são considerados casos de hipervitaminose, ou seja, há doses muito elevadas de Vitamina D no sangue, ocasionando um risco de toxicidade e hipercalcemia - explica Renke.

Como os atletas são atingidos

É importante que os atletas mantenham a concentração ideal de vitamina D no sangue para que o desempenho muscular não seja afetado — Foto: iStock
Para qualquer pessoa, a deficiência de vitamina D fará com que o corpo tenha uma resposta muscular inferior, inclusive para os praticantes de atividade física. Além disso, essa falta pode acarretar prejuízos à saúde óssea e ao sistema imunológico — o qual devemos nos atentar ainda mais em tempos de coronavírus. E, embora não seja necessária uma dosagem maior de vitamina D para os atletas, muitos destes utilizam de suplementos com doses elevadas da substância, o que não é recomendado. De acordo com Renke, diferentemente da deficiência, a superdosagem de vitamina D em si não tem influência no desempenho do atleta.
- O que pode interferir no desempenho do esportista é a consequência dessa superdosagem. Por exemplo, caso seja apresentado um quadro grave de hipercalcemia, este atleta estará mais passivo a quadros de arritmia. Porém, em uma pessoa saudável, é mais difícil que isso aconteça, teria que ser um quadro de intoxicação muito grave. Devido ao risco de complicações maiores durante as aplicações de exercícios, não é recomendado que seja feita uma superdosagem para atletas - frisa o médico endócrino.
Sendo assim, é importante que os atletas mantenham a concentração de vitamina D dentro do ideal (20 ng/mL já é suficiente), afinal, como qualquer outra pessoa, devem estar com a saúde em dia. Contudo, caso haja necessidade de suplementação, é fundamental que o atleta procure um médico e siga as dosagens recomendadas pelo profissional. Deve-se evitar excessos e buscar apenas o equilíbrio.
- Nos atletas, há evidências de que a vitamina D é importante para a massa muscular e massa óssea. Dessa forma, o ideal é que este grupo mantenha um nível de vitamina D entre 20 e 60 ng/ml. Por outro lado, não há evidência de benefícios atrelados à superdosagem, apenas há consciência do risco que pode acometer esses indivíduos. Então, o que não queremos é que o atleta tenha um baixo nível de vitamina D, mas sim atinja a concentração no sangue considerada ideal - ressalta Renke.
Portanto, não deixe que a quarentena interfira na concentração de vitamina D presente no seu sangue sangue. Afinal, a substância regula o sistema imunológico — o qual deve ser mais preservado ainda em tempos de Covid-19. Encontre algum lugar da sua residência em que bata sol e aproveite os benefícios que a luz solar traz à saúde!

É importante que os atletas mantenham a concentração ideal de vitamina D no sangue para que o desempenho muscular não seja afetado — Foto: iStock

A deficiência da vitamina D no atleta pode acarretar prejuízos à saúde óssea, ao músculo e ao sistema imunológico — Foto: Istock Getty Images




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