Existe um açúcar mais 'saudável' ou apenas diferentes versões dele? Freepik
Mascavo, refinado, melado: existe um açúcar mais saudável?
Especialista fala dos mitos e verdades de diferentes tipos de açúcar
Por Malu Pandolfo, La Nacion
19/05/2023 04h30 Atualizado 23/05/2023
Branco, preto, mascavo, mel... Na hora de adoçar há variedades à escolha, das quais ainda não se sabe muito. Na busca por uma alimentação cada vez mais saudável, existe uma opção de açúcar que tenha melhor impacto na saúde ou apenas diferentes versões do mesmo produto?
Os açúcares são carboidratos simples que são rapidamente absorvidos. Embora para muitos o açúcar seja um dos vilões da alimentação, existe uma classificação que ajuda a entendê-lo: intrínseco versus livre. Os primeiros são provenientes de frutas, vegetais frescos inteiros e leite, enquanto os livres são aqueles adicionados aos alimentos, seja durante sua fabricação ou no momento do cozimento. A este último grupo acrescentam-se os incluídos no mel e nos sumos de fruta.
— Nosso corpo não diferencia as calorias fornecidas pelos açúcares intrínsecos dos açúcares livres. Ambos fornecem quatro quilocalorias por grama — diz Marianela Ackermann, especialista em nutrição, diretora do Departamento de Nutrição e Diabetes do Centro CIEN e coordenadora do Grupo de Obesidade da Sociedade Argentina de Nutrição.
— Alimentos que contêm açúcares intrínsecos, como frutas, vegetais e leite, tendem a ser mais nutritivos do que alimentos com adição de açúcares, porque o açúcar é encontrado em um alimento que contém outros nutrientes, como proteínas, vitaminas, minerais, e fibra — enfatiza a especialista.
Branco, preto, mascavo, mel, o que diferencia uma variedade da outra é, além da cor, a textura e o uso que lhe é dado. Ackermann destaca que, de acordo com o Código Alimentar Argentino, o açúcar se refere à sacarose, que é extraída de vegetais como a cana-de-açúcar e a beterraba, entre outras. A cana-de-açúcar é processada para obter o açúcar branco.
— Nesse processo, o açúcar perde vitaminas, minerais e sais naturais, tornando-se um elemento -porque não alimenta - que contém calorias e nada mais. Por isso são chamadas de “calorias vazias”. Contém 99,5% de sacarose — detalha a nutricionista.
O mais refinado de todos, o açúcar branco, é altamente purificado e por isso tem essa cor e um sabor muito doce, devido ao alto teor de sacarose, descreve María Claudia Sempé, nutricionista. Menos utilizado em nosso país, mas presente em confeitaria e preparações de certas regiões da Ásia, o açúcar mascavo é uma mistura de açúcar e melaço. Retém alguns nutrientes porque o melaço tem um pouco de ferro. Sua textura é muito mais pegajosa e seu sabor é mais forte. Por isso você pode consumir menos quantidade, observa Sempé.
Por sua vez, o açúcar mascavo tem a mesma origem e processamento da versão branca ou refinada. No entanto, evita-se separar o melaço dos cristais. Ou seja, os cristais são manchados de marrom pelo melaço. E há outra diferença no processo em relação ao açúcar branco: ele não é refinado.
— Por não ser refinado, não perde muitos nutrientes ao longo do processo. Esse tipo de açúcar contém pequenas quantidades de nutrientes típicos do caldo de cana, como algumas vitaminas do complexo B e minerais, como potássio, cálcio, sódio, magnésio, fósforo, selênio e ferro — detalha Marianela Ackermann.
A médica esclarece que a quantidade desses nutrientes é muito pequena para ser significativa.
— Sua fabricação envolve o cozimento do caldo da cana até cristalizar, incluindo o resíduo do melaço. Uma vez evaporado o líquido, resta um bloco sólido pronto para ser moído e transformado em açúcar mascavo. Contém entre 96 e 98% de sacarose — explica Ackermann. O que torna esse tipo de açúcar especial, tanto para adoçar infusões quanto para receitas culinárias, é seu cheiro e sabor especiais, além de sua textura úmida e pegajosa.
Se for considerado o aporte calórico do açúcar branco e do mascavo, é quase o mesmo: a cada cem gramas, 387 e 380 kcal.
— Uma porção é uma colher de chá, ou cinco gramas, que fornece cerca de vinte kcal. Assim como o açúcar refinado, o consumo excessivo de açúcar mascavo pode contribuir para elevar o valor calórico da dieta, aumentando os níveis de glicose e triglicerídeos no sangue — alerta a nutricionista.
Ackermann é direta: o efeito do açúcar branco e do açúcar mascavo é exatamente o mesmo no nível da saúde.
— Embora o açúcar mascavo seja um produto menos refinado, ele eleva os níveis de glicose no sangue. Cuidado, ambos são açúcares, ambos contêm alto percentual de sacarose — enfatiza.
Como em tudo relacionado à nutrição, proibir é contraproducente porque produz um efeito rebote. Contrariando as posições talibãs, segundo Ackermann o açúcar, comum ou mascavo, não é um elemento proibido, mas devemos consumi-lo de forma controlada, evitando excessos.
Os benefícios do mel
Já o mel, que é obtido do néctar das flores, tem uma ingestão calórica semelhante à do açúcar.
— Tem algumas propriedades nutricionais e é muito saboroso. Algumas pesquisas sugerem que os antioxidantes do mel podem estar associados à redução do risco de algumas doenças. No entanto, nenhuma propriedade terapêutica pode ser atribuída a ela com respaldo científico — detalha Ackermann.
Assim como o açúcar, seu consumo excessivo é desencorajado.
— Ele contém vitaminas e minerais e tem um pouco menos de calorias que o açúcar. O mel, embora possua açúcares simples, como a frutose e a glicose, apresenta índices glicêmicos um pouco mais baixos que o açúcar branco. Isso significa que não causará picos tão altos nos níveis de açúcar no sangue. Independentemente disso, ainda é um produto muito calórico que leva ao ganho de peso. O consumo descontrolado não é aconselhável — adverte María Claudia Sempé. Quanto ao valor nutricional do mel, para cada cem gramas contém 304 kcal, 0 grama de gordura e 82 gramas de carboidratos.
Todos os açúcares são decompostos em glicose e frutose no corpo.
— Isso aumenta o açúcar no sangue e faz com que a liberação de insulina aumente. O consumo excessivo de açúcar pode ter efeitos negativos para a saúde: aumenta o risco de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças coronárias. Mel e açúcar mascavo contêm alguns antioxidantes. Mas, esses nutrientes são contrabalançados pelo seu alto teor de açúcar — resume Sempé.
Uma publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS) observa que “existem mecanismos plausíveis e evidências de pesquisa que apoiam a sugestão de que o consumo excessivo de açúcar promove o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e diabetes tipo 2 (DM2), direta e indiretamente. A via direta envolve a absorção hepática desregulada e o metabolismo da frutose, levando ao acúmulo de lipídios no fígado, dislipidemia, diminuição da sensibilidade à insulina e aumento dos níveis de ácido úrico”.
Substituir o açúcar branco por outros não parece ser a solução. Quais são as consequências diretas do consumo excessivo de açúcar?
— É fonte de cárie dentária, sobrepeso/obesidade e das mais de duzentas doenças associadas à obesidade — detalha Ackermann.
Sempé lembra que a OMS recomenda que pessoas saudáveis não ultrapassem 25 gramas por dia no caso de adultos, ou seja, não mais que seis colheres de chá por dia. A American Heart Association indica essa quantidade para mulheres e aumenta para não mais que nove (36 gramas) para homens. Enquanto a Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos recomenda limitar a ingestão de açúcar adicionado a menos de 10% do total de calorias na dieta.
— Todas as variedades de açúcares devem ser consumidas com moderação. Não se pode dizer que um é melhor que o outro. Recomendo usar aquele que dá mais saciedade para usar menos. O objetivo ideal é reduzir o consumo de açúcar total na dieta, independente de qual seja. O excesso de açúcar se transforma em gordura, causando outras patologias — conclui María Claudia Sempé.
Mais uma vez, o equilíbrio parece ser a chave. É possível e até saudável cuidar de si, sempre no âmbito de uma alimentação saudável que priorize o que vem da natureza. E siga as recomendações baseadas em pesquisas científicas.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/05/mascavo-refinado-melado-existe-um-acucar-mais-saudavel.ghtml
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