'ADAPTEI TODAS AS COMIDAS PARA MINHA FILHA CELÍACA NÃO PASSAR VONTADE, E A FAMÍLIA SEGUE SUA DIETA POR AMOR'
'Adaptei todas as comidas para minha filha celíaca não passar vontade, e a família segue sua dieta por amor'
Quando Isabella tinha 1 ano e 5 meses, a criadora de conteúdo e dona de casa Graceli Chiquetti, de 45 anos, descobriu que a filha tem doença celíaca. Desde então, ela se dedica a preparos sem glúten para a caçula e é um exemplo para outras mães nas redes sociais
Por Alice Arnoldi, em colaboração para a Marie Claire — de São Paulo (SP)
31/10/2024 16h54 Atualizado há um dia
Chiquetti conta que a vinda da caçula foi planejada, mas com desafios já na gestação. Inicialmente, a gravidez era gemelar, só que o outro bebê parou de se desenvolver com nove semanas. Já Isabella nasceu saudável.
“Minha filha mamava no peito normalmente. Só que, como eu tive depressão pós-parto depois das duas gestações, tinha medo de ficar doente e não conseguir alimentá-la. Conversei com meu marido sobre acostumarmos a Bella com um pouco de fórmula e assim fizemos com orientação da pediatra”, relata.
A filha ficou 18 dias constipada com a fórmula e a mãe foi orientada apenas a usar supositório na bebê. Chiquetti voltou ao aleitamento materno exclusivo e o problema cessou.
Quando a criadora de conteúdo iniciou a introdução alimentar da filha, aos seis meses, ela priorizava frutas e caldos, o que não afetou a bebê. Além disso, a amamentação continuou normalmente.
O cenário mudou aos oito meses, quando Chiquetti colocou a filha em uma creche para voltar a trabalhar. A caçula fazia as principais refeições no local e, inevitavelmente, os alimentos ofertados tinham glúten.
"Ela se tornou uma criança chorosa e irritada. Como a Bella era bebê e não sabia falar, acredito que ela sentia dores de barriga e se expressava assim. Os episódios de diarreia eram mais espaçados. Além disso, ela começou a ficar muito doente -- parecia estar sempre gripada", relata a mãe.
A descoberta da doença celíaca
Chiquetti tirou a filha da creche e passou a levá-la consigo para o trabalho. Ainda assim, a caçula continuava mal e a mãe com a certeza de que havia algo errado. "Chegou um ponto que a Bella ficou magrinha, com a barriga muito estufada e pouco cabelo", relata.
Ao procurar por diferentes pediatras, a única doença cogitada foi intolerância à lactose que, posteriormente, veio a ser confirmada. A mãe retirou o leite e seus derivados da dieta da filha, mas os sintomas continuaram.
A criadora de conteúdo foi para a internet procurar o que poderia estufar a barriga e leu, pela primeira vez, sobre doença celíaca. Ao marcar uma consulta com uma gastroenterologista pediátrica, a condição foi confirmada a partir da análise clínica da bebê e com os exames de sangue e endoscopia.
Além do susto com o diagnóstico, Chiquetti foi surpreendida com a notícia de que a filha estava quase desnutrida com um 1 e 5 meses.
A mudança da rotina da família após o diagnóstico
A internet continuou a ser uma fonte de informação para a mãe quando ela descobriu um grupo nas redes sociais de pessoas que conviviam com a doença celíaca. Foi assim que ela soube sobre os riscos da contaminação cruzada por glúten.
Ao explicar para a família que o ideal seria que todos aderissem à dieta para proteger a caçula da exposição ao glúten, o pai logo aceitou. No entanto, a filha mais velha Heloísa, com 13 anos na época, teve dificuldade para entender o que estava acontecendo. Afinal, ela era uma criança também. "Ela chorou muito porque pensava que não poderia comer mais nada de gostoso. Então, por amor as duas, arregacei as mangas e fui para a cozinha", lembra.
Só que a preparação das comidas sem glúten não foi uma jornada fácil para Chiquetti. Ela relata que a maioria das receitas disponíveis era vendida e difícil de ser colocada em prática.
Chiquetti entrava em contato com os donos de blogs, implorando para lhe passarem as receitas sem glúten. Ela explicava que o intuito não era vendê-las: era só uma mãe querendo alimentar a filha. Ainda assim, a dona de casa não recebia nenhuma resposta.
"Em uma noite, estraguei duas receitas, uma de bolo e outra de pão. Chorei muito. Fragilizada, fiz uma promessa a Nossa Senhora de que se ela me capacitasse, eu não iria negar o preparo das comidas para ninguém", lembra.
A persistência da criadora de conteúdo fez com que suas comidas ficassem cada vez mais saborosas. Ao saber como fazê-las corretamente, ela decidiu levar as receitas para as redes sociais e ajudar outras mães com a mesma vivência que a dela. "Foram sete anos postando sem ganhar nenhum dinheiro em troca", conta.
Uma nova forma da filha enxergar a doença celíaca
Tanto nas redes sociais quanto na vida real, as lancheiras preparadas por Chiquetti chamaram atenção e ajudaram a filha a enxergar a condição que tem de outra forma. "Eu comecei a caprichar para encantar a Bella e ela não olhar para a lancheira do amiguinho, porque eu tinha muito medo dela pegar alguma comidinha dali", explica.
A dedicação da mãe trouxe resultados positivos: além de a caçula não querer nada da lancheira alheia, ela sentia orgulho do que levava para a escola, porque os colegas começaram a querer experimentar sua comida. "Transformei a dor em algo bom", celebra Chiquetti.
Atualmente, a família mora em um sítio em Rio do Sul, Santa Catarina, em que todos os processos envolvendo alimentação não têm contaminação por glúten. Além da segurança em relação à doença celíaca, a caçula tem experiências ricas para a infância, como colher fruta do pé, conviver com animais e brincar ao ar livre.
Doença celíaca em crianças: o que é, sintomas e tratamentos
A doença celíaca é uma condição sistêmica causada pela exposição ao glúten e proteínas relacionadas a ele em indivíduos com predisposição genética ao quadro.
"A ingestão destas proteínas, por indivíduos suscetíveis a elas, gera uma inflamação da mucosa do intestino delgado, ocasionando a maioria dos sintomas relacionados à doença, especialmente os que acometem o trato gastrointestinal, como a má absorção de nutrientes", explica a gastroenterologista pediátrica Cristiane Boé, coordenadora do serviço de gastroenterologia pediátrica do Sabará Hospital Infantil.
Os principais sintomas são gastrointestinais, como diarreia crônica, dor e distensão abdominal, baixo peso e, em alguns casos, vômitos. No entanto, por ser uma condição sistêmica, ela pode afetar outras áreas do organismo e gerar manifestações que não estão ligadas ao trato digestório.
"Alguns exemplos são baixa estatura, alternações menstruais, anormalidades neurocomportamentais, deficiência de ferro, dermatite herpetiforme, defeitos do esmalte dentário, doença metabólica óssea e artrite", detalha Boé.
O diagnóstico da doença celíaca parte de exames de sangue relacionados a anticorpos associados a condição. Mas, na maioria dos casos, é confirmado com biópsias endoscópicas do intestino delgado, que mostram sinais clássicos da condição.
"O tratamento estabelecido e comprovado cientificamente para a doença celíaca é a dieta isenta de glúten por toda vida, desde seu diagnóstico. Tem-se debatido recentemente sobre alguns medicamentos que poderiam ser utilizados para a condição, porém nenhum deles com comprovação científica até o momento", pontua Boé.
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/saude/noticia/2024/10/adaptei-todas-as-comidas-para-minha-filha-celiaca-nao-passar-vontade-e-a-familia-segue-sua-dieta-por-amor.ghtml
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