AGRICULTURA BIODINÂMICA - A ARTE DE CUIDAR DA TERRA


Agricultura Biodinâmica - A arte de cuidar da Terra

O preparado chifre-sílica    Assim como o olho humano possui uma lente cristalina que recebe os raios luminosos do exterior...

Uma compreensão profunda das leis da vida, adquirida através de uma abordagem qualitativa e global da Natureza - esta é a base da agricultura biodinâmica. Ela abre novas vias para que o Homem se reconcilie com a Natureza e cumpra a sua missão de mediador entre o céu e a terra.
A agricultura biodinâmica foi fundada na Alemanha, em 1924, por Rudolf Steiner. Em resposta a um grupo de agricultores, que lhe solicitaram orientações para resolver os problemas de degradação ambiental decorrentes das práticas agrícolas, Steiner criou então o “curso aos agricultores”. As conferências que o integraram estão reunidas num livro que constitui os fundamentos da biodinâmica.
A abordagem proposta por Steiner baseia-se numa compreensão profunda das leis que regem o que é vivo, tendo por pano de fundo “a fecundação das forças terrestres pelas forças cósmicas”. Esta ciência agrícola não é um simples método ou um conjunto de receitas; é antes um caminho, uma arte de cuidar da terra, onde cada agricultor ou jardineiro precisa de desenvolver uma percepção e sensibilidade abrangentes. Através delas, pode adaptar a prática agrícola às condições concretas de cada região e entender o que se passa na sua quinta ou jardim. Segundo a concepção biodinâmica, a Natureza está de tal modo degradada pelo Homem que já não é capaz de se regenerar por si mesma. Hoje, é necessário que o mesmo Homem exerça uma acção terapêutica para incrementar a vitalidade e a saúde do solo, das plantas e dos animais. Esta acção é essencial para se produzir alimentos saudáveis e melhorar a qualidade do ambiente.


Em sintonia com o universo

Na perspectiva biodinâmica, o Homem tem uma missão a cumprir na terra: trazer a ordem do Universo à matéria virgem, espiritualizando-a. Para isso, deve procurar entender a dinâmica da vida e equilibrar as duas categorias de forças que actuam nos seres vivos: as forças da luz e as forças da terra. Assim, o agricultor biodinâmico coopera com as diferentes formas de vida, criando relações com todos os reinos da Natureza, e promove a canalização e concentração de energias para transformar a matéria. A ideia subjacente é a de que “o Céu faz nascer, a Terra alimenta e o Homem afina”.
As quintas biodinâmicas funcionam como antenas que captam a energia cósmica e impregnam a matéria com essa informação. Como resultado, o agro-sistema é vivificado e são produzidos alimentos que, pelas suas qualidades, ajudam o homem a sintonizar-se com a sua natureza espiritual.
Na prática, a agricultura biodinâmica partilha alguns aspectos com a agricultura biológica. As unidades produtivas têm uma elevada diversidade biológica, o que minimiza o desenvolvimento de pragas e doenças. São usadas a rotação e a consociação de culturas, bem como a fertilização orgânica e é totalmente rejeitado o uso de agro-químicos. No entanto, a biodinâmica toma em consideração outros aspectos para além dos meramente materiais.
O que a distingue são três elementos fundamentais: o uso de preparados biodinâmicos para tratar o solo e as plantas, o composto usado como fertilizante e a utilização de um calendário astrológico na escolha dos momentos para realizar as actividades agrícolas.


Religar a Terra ao Céu

Este calendário, desenvolvido por Maria Thun, indica, para os dias de cada ano, as actividades que devem e não devem ser realizadas, de acordo com as energias cósmicas que chegam à Terra (interpretadas à luz de conhecimentos astrológicos). Através dele, o agricultor sabe quais são os momentos favoráveis para impregnar o solo e as plantas com as qualidades que os vivificam. Por exemplo, ao lavrar um solo num momento favorável a esta prática, ele concentra energias que promovem a vida microbiana e a microfauna que nele vivem - e são fundamentais à sua fertilidade.

As constelações zodiacais simbolizam (ou informam sobre) as forças formadoras que actuam na Terra. O calen-dário leva em linha de conta não apenas os signos em que os planetas transitam mas também os ângulos que estes formam entre si, tomando a Terra como referencial. São ainda considerados os movimentos ascendentes e descendentes do Sol e da Lua (relativamente à altura máxima face ao horizonte terrestre), pois a eles está ligada a actividade dos elementais.
As três actividades agrícolas mais fortemente influenciadas pela energia que chega do céu, e que, portanto, devem seguir mais de perto as indicações do calendário são: as lavouras, as sementeiras, e a dinamização e aplicação do preparado 501, que regula a assimilação da luz por parte da clorofila.
Nas palavras de Xavier Florin, engenheiro agrónomo do Mouvement de Culture Bio-Dynamique (confederação das associações de biodinâmica francesas), “o calendário ajuda a pôr-nos novamente em contacto com o cosmos”. Porém, não basta seguir as indicações nele contidas para promover esta ligação: um sistema agrícola convencional (onde a fertilização é química e se utilizam pesticidas e herbicidas) praticamente não reage à utilização do calendário.


O organismo agrícola

Para que uma unidade agrícola possa responder às influências cósmicas, é necessário que nela se cultive segundo o método biodinâmico já há algum tempo, dado que este permite reduzir a poluição (que está na base da não resposta face às forças da luz). Aliás, quanto maior for o número de anos de cultura biodinâmica, maior é essa resposta.
Ao contrário da agricultura convencional, o método biodinâmico não tem por objectivo a maximização das produções no curto prazo. No centro do seu interesse está a vida. Toda a prática converge no sentido da busca da saúde, da beleza (como resultado da harmonia) e da perenidade. Assim, as quintas biodinâmicas são concebidas como um organismo vivo, onde as suas componentes mine-ral, vegetal e animal estão em equilíbrio. Enquanto que na agricultura biológica pode haver uma unidade que apenas produz vegetais, numa quinta biodinâmica há sempre uma grande diversidade de animais, em relação de equilíbrio com as produções vegetais.
Essa diversidade também é procurada relativamente às plantas, incluindo-se muitas que não se destinam à produção agrícola. Cada planta tem uma relação com o céu e nela há influências planetárias dominantes. Por isso, a escolha das plantas e da sua disposição espacial numa quinta tem em conta estas influências, para criar harmonia e equilíbrio de forças. É respeitada também a simpatia e a antipatia que existe entre plantas vizinhas para que se desenvolvam melhor.
O solo de uma quinta biodinâmica é considerado um órgão vivo do sistema e não um mero suporte para as culturas. A própria fertilização, mais do que alimentar quantitativamente as plantas, visa manter e estimular a vitalidade do solo. É por isso que é dada uma tão grande importância ao processo de compostagem, com vista a integrar os mine-rais em formas vivas e utilizáveis pelas plantas. Para guiar o processo de maturação do composto são usadas preparações feitas a partir de aquilea milfolhas, camomila, urtiga, casca de carvalho, dente de leão e valeriana.
Procurando minimizar os danos à estrutura do solo, as lavras são superficiais e em número reduzido. O solo é modelado em micro-relevos (faixas sobrelevadas de 60 ou 120 centímetros de largura) para promover um maior arejamento e, portanto, uma maior interpenetração das forças terrestres e da água com as energias cósmicas. Para além das vantagens ao nível de uma maior estruturação do solo e do incremento da infiltração e retenção da água, o cultivo em montículos estimula o desenvolvimento radicular profundo, tornando as plantas menos frágeis face às variações externas.

À semelhança das chamadas medicinas alternativas, a biodinâmica considera que os parasitas surgem em plantas doentes. As plantas atraem-nos para corrigir o dano que existe na sua força vital. Por isso, a atenção do agricultor centra-se nas causas desse dano. Entretanto, são muitos os truques usados para proteger as culturas de pragas e doenças. Usam-se plantas que atraem os pulgões, para que estes não ataquem as árvores de fruto. Planta-se eufórbia para afastar as toupeiras. Dispõem-se algas marinhas calcáreas sobre o solo para afastar as lesmas. Coloca-se rede sobre as culturas para as proteger dos pássaros.

Ação terapêutica

Os desequilíbrios ao nível da força vital das plantas são corrigidos com a aplicação de preparados biodinâmicos, feitos a partir de plantas, minerais e estrume de vaca, e administrados como se de medicamentos se tratassem.
Para além das preparações usadas no composto (da 502 à 507), utiliza-se uma preparação sobre o solo (a 500), antes de este receber as sementeiras ou plantações, a fim de incrementar a vida microbiana, essencial à absorção de minerais por parte das plantas. A aplicação deste preparado, feito a partir de bosta de vaca, estimula o desenvolvimento das raízes.
Sobre as plantas utiliza-se o preparado 501. Consiste em cristais de quartzo moídos, que foram enterrados no solo, da Páscoa ao Outono, dentro de um corno de vaca. Este preparado intervém ao nível da maturação e frutificação, tendo uma acção determinante nos processos ligados à formação do gosto, do aroma e da coloração dos frutos.
Os preparados 500 e 501 são dinamizados antes da aplicação. Após diluição numa grande quantidade de água, submetem-se a uma agitação rítmica, feita manualmente, durante uma hora. Esta prática permite estabelecer uma ponte com alguns dos princípios da homeopatia.
As preparações biodinâmicas chamam as forças necessárias às plantas e ao solo, quando aplicadas no momento cósmico favorável. Não actuam como adubos químicos, que restituem uma substância em falta, nem combatem os sintomas; agem estimulando o organismo vivo no seu meio natural, levando-o a um estado óptimo, de sanidade.


Qualidade versus quantidade

Devido a esse facto, a utilização de preparados biodi-nâmicos não tem relação directa com a produtividade das culturas agrícolas. Os estudos científicos realizados desde os anos 50, comparando os efeitos dos métodos convencionais, biológicos e biodinâmicos, mostraram que em solos naturalmente ricos os preparados tendem a baixar o rendimento das culturas. Pelo contrário, em solos pobres, conduzem a produções mais abundantes do que os dois outros métodos agrícolas.
A explicação destes resultados reside no efeito de harmonizar e compensar os desequilíbrios devidos ao solo, clima ou outros factores externos. Se uma cultura tende a produzir demasiadas substâncias por um crescimento desmesurado, os preparados baixam um pouco o rendimento em favor da qualidade.
Apesar dos inequívocos benefícios ambientais decorrentes da prática da biodinâmica, é neste ponto - a qualidade dos alimentos - que reside a maior distinção entre os três métodos agrícolas. Ao falar-se aqui de qualidade nutritiva, alude-se não apenas ao aumento do teor de certas substâncias essenciais, como as vitaminas, mas também ao incremento de uma certa forma de vitalidade.
Recorrendo a métodos qualitativos, que permitem uma abordagem global, pode testar-se esta qualidade supra-material. As cristalizações sensíveis de cloreto de cobre, desenvolvidas por Ehrenfried Pfeiffer, permitem objectivar e verificar essa vitalidade, ou seja, a vida na matéria. Uma solução do produto a ser testado e cloreto de cobre é crista-lizada sobre uma placa de vidro, resultando uma imagem que traduz a qualidade do produto.
É curioso comparar-se, por exemplo, as cristalizações sensíveis de uma amostra de leite biodinâmico cru e do mesmo leite após ter sido submetido a 2 minutos de fervura. O padrão de cristalização encontrado no primeiro é meramente residual no segundo, apesar de quimicamente o produto se manter inalterado.
São usados ainda outros métodos qualitativos, como a morfocromotografia ou as gotas sensíveis (que não cabe aqui descrever) para testar objectivamente a qualidade subtil dos produtos. Estes testes têm revelado que a agricultura biológica traz um acréscimo de vitalidade (forças de crescimento) aos alimentos, enquanto que o contributo da bio-dinâmica se traduz numa estruturação mais equilibrada (forças de organização).
Costuma dizer-se que “somos aquilo que comemos”. Não será de estranhar, então, que vários autores refiram que comer alimentos biodinâmicos facilita uma ligação mais consciente com o universo. Peter Kunz afirma que “Todas as percepções estimulam processos interiores no ser humano, vivificam ou perturbam parcialmente órgãos específicos e influenciam o nosso estado geral”. Reforçando a qualidade sensorial dos alimentos, permite-se aos seres humanos reencontrar as suas forças formativas.
Neste momento, em que o ser humano mergulhou profundamente na materialidade, e a poluição cria um ambiente de “excesso de forças da terra”, a biodinâmica parece ser um caminho certo para nos ajudar a evoluir no sentido de uma maior espiritualização.


Texto por Cristina Nogueira Baptista*
 

*Licenciada em Engenharia do Ambiente; Editora dos Cadernos de Educação Ambiental, do Instituto de Promoção Ambiental

Fonte:http://biosofia.net/2001/01/17/agricultura-biodinamica-a-arte-de-cuidar-da-terra/



O QUE É A AGRICULTURA BIODINÂMICA

Bernardo Thomas Sixel
(Original de 2003; última revisão de V.W.Setzer em 13/3/10)


Rudolf Steiner (1861-1925), fundador da Antroposofia, colocou, durante o Congresso de Pentecostes, em 1924, a pedra fundamentalespiritual do Movimento Biodinâmico, em forma de um ciclo de 8 palestras para agricultores (*). Esse congresso teve lugar no castelo Koberwitz perto de Wroclaw/Breslau, que hoje abriga a prefeitura de Kobierzyce, Polônia.

O impulso da Agricultura Biodinâmica, sendo uno com a Antroposofia, tem como conseqüência natural da renovação do manejo agrícola, o sanar do meio ambiente e a produção de alimentos realmente condignos ao ser humano.

Esse impulso quer devolver à agricultura sua força original criadora e fomentadora cultural e social, força que ela perdeu no caminho da industrialização direcionada à monocultura e da criação em massa de animais fora do seu ambiente natural.

A Agricultura Biodinâmica quer ajudar aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista na concepção da natureza, para que eles possam, cada um por si mesmo, achar uma relação espiritual/ética com o solo, com as plantas e os animais e com os coirmãos humanos.

A Biodinâmica quer lembrar todos os seres humanos que "A agricultura é o fundamento de toda cultura, ela tem algo a ver com todos".

O ponto central da Agricultura Biodinâmica é o ser humano que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais baseadas numa verdadeira cognição da natureza. Ele quer transformar sua fazenda ou sítio em um organismo em si, concluso e maximamente diversificado; um organismo do qual a partir de si mesmo for capaz de produzir uma renovação. O sítio natural deve ser elevado a umaespécie de individualidade agrícola"

O fundamento para tal é a integração de todos os elementos ambientais agrícolas, tais como culturas do campo e da horta, pastos, fruticulturas e outras culturas permanentes, florestas, sebes e capões arbustivos, mananciais hídricas e várzeas etc.. Caso o organismo agrícola ordene-se em torno desses elementos, nasce uma fertilidade permanente e atinge-se a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos.

A partida e a continuidade desse desenvolvimento ascendente da totalidade do organismo/empresa é assegurado pelo manejo biodinâmico dos tratos culturais agrícolas e do uso de preparados apresentados pela primeira vez por Rudolf Steiner durante o Congresso de Pentecostes. Trata-se de preparados que incrementam e dinamizam a capacidade intrínseca da planta a ser produtora de nutrientes, seja por mobilização química, transmutação ou transubstanciação do mineral morto ou por harmonização e adequação na reciclagem das sobras da biomassa produzida. Esses preparados apóiam a planta a ser transmissor, receptor e acumulador do intercâmbio da Terra com o Cosmo.

Adubar na biodinâmica significa, portanto, aviventar ou vivificar o solo e não simplesmente fornecer nutrientes para as plantas. A grande preocupação que devemos ter é o que fazer para que isso aconteça. Nesse caso é possível abster-se de muito do que hoje em dia parece ser imprescindível. Na Agricultura Biodinâmica não se usam adubos nitrogenados minerais, pesticidas sintéticos, herbicidas, hormônios de crescimento, etc. A concepção do melhoramento biodinâmico dos cultivares ou das raças está em irrestrita oposição à tecnologia transgênica. A ração para os animais é produzida no próprio sítio ou fazenda e a quantidade dos animais mantidos está em relação com a capacidade natural da área ocupada.

O agricultor biodinâmico está empenhado em fazer somente aquilo pelo qual ele mesmo pode responsabilizar-se, a saber, o que serve ao desenvolvimento duradouro da "individualidade agrícola". Isso inclui o cultivo e a seleção das suas próprias sementes, como também a adaptação e a seleção própria de raças de animais. Além disso, significa uma orientação renovada na pesquisa, consultoria e formação profissional.

O agricultor biodinâmico aprende, dentro do processo de trabalho, a ser ele mesmo um pesquisador, aprende a participar e transmitir sua experiência a outros e a estabelecer dentro do seu estabelecimento um local de formação profissionalizante para gerações vindouras.

Uma renovação desta natureza desperta o interesse das pessoas que vivem nas cidades. Elas ligam-se com esta ou aquela fazenda ou sítio, apóiam e ajudam como podem, tornando-se fieis fregueses. Elas colaboram na formação de mercados regionais tornando-se associados solidários mútuos. Há iniciativas novas de importância fundamental em toda parte para que a agricultura possa enfrentar com sua autonomia regional a globalização do mercado mundial. Agricultura não é somente profissão para ganhar dinheiro, mas é principalmente encargo de vida, é vocação.

Em mais de 50 países a Agricultura Biodinâmica é praticada ao serviço do cultivo do meio ambiente e alimentação saudável do ser humano. No mundo inteiro os produtos biodinâmicos são uniformemente comercializados sob a marca DEMÉTER. A marca DEMÉTER garante uma cultura agrícola baseada em medidas novas nos campos culturais/espirituais, políticos/legais, econômicos e ecológicos.

Para o desenvolvimento da agricultura e da cultura em geral no Brasil será de maior significação, achar personalidades suficientes que tenham a coragem e a força de iniciativa de se colocar ao serviço dessa renovação da agricultura.

(*) Steiner, R. Fundamentos da Agricultura Biodinâmica. 8 palestras dadas en Korberwitz, 7-16/6/1924, GA (Gesamtausgabe, catálogo geral) 327. Trad. Gerard Bannwart. São Paulo: Editora Antroposófica, 1993.

 

Fonte:http://www.sab.org.br/portal/agricultura-biodinamica/45-o-que-e-a-agricultura-biodinâmica


Conceitos e princípios


A agricultura biodinâmica é um dos desenvolvimentos das teorias de Rudolf Steiner, junto com a medicina antroposófica e a pedagogia Waldorf.
Rudolf Steiner (1861 – 1925), fundador da Antroposofia, colocou, durante o Congresso de Pentecostes, em 1924, a pedra fundamental do berço do Movimento Biodinâmico, em forma de um ciclo de oito palestras para agricultores. Esse congresso teve lugar no castelo Koberwitz, perto de Wroclaw/Breslau, que hoje abriga a prefeitura de KobierzycePolônia.
O impulso da Agricultura Biodinâmica, sendo uno com a Antroposofia, tem como conseqüência natural à renovação do manejo agrícola, a sanação do meio ambiente e a produção de alimentos realmente condignos ao ser humano.
Esse impulso quer devolver à agricultura sua força original criadora e fomentadora cultural e social, força que ela perdeu no caminho à industrialização direcionada à monocultura e à criação em massa de animais fora do seu ambiente natural.
A Agricultura Biodinâmica quer ajudar aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista na concepção da Natureza, para que eles possam, cada um por si mesmo, achar uma relação espiritual–ética com o solo, com as plantas e os animais e com os coirmãos humanos.
A Biodinâmica quer lembrar todos os homens que: "A Agricultura é o fundamento de toda cultura, ela tem algo a ver com todos".
O ponto central da Agricultura Biodinâmica é o Ser Humano que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais baseadas numa verdadeira cognição da Natureza.
Esse quer transformar sua fazenda ou sítio em um organismo em si concluso e maximamente diversificado; um organismo que a partir de si mesmo for capaz de produzir uma renovação. O sítio natural deve ser elevado a uma "espécie de individualidade agrícola".
O fundamento para tal é a integração de todos os elementos ambientais agrícolas como culturas do campo e da horta, pastos, fruticulturas e outras culturas permanentes, florestas, sebes e capões arbustivos, mananciais hídricas e várzeas etc. Caso o organismo agrícola se ordene em volta desses elementos, nasce uma fertilidade permanente e a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos.
A partida e a continuidade desse desenvolvimento ascendente da totalidade do organismo-empresa é assegurado pelo manejo biodinâmico dos tratos culturais agrícolas e do uso de preparados apresentados pela primeira vez por Rudolf Steiner durante oCongresso de Pentecostes. Trata-se de preparados que incrementam e dinamizam a capacidade intrínseca da planta a ser produtora de nutrientes, seja por mobilização química, transmutação ou transubstanciação do mineral morto ou por harmonização e adequação na reciclagem das sobras da biomassa produzida. Preparados que simultaneamente apóiam a planta a ser transmissor, receptor e acumulador do intercâmbio da Terra com o Cosmo.
Adubar na biodinâmica significa, portanto, aviventar ou vivificar o solo e não apenas fornecer nutrientes para as plantas.
A única preocupação que devemos ter é o que fazer para que isso aconteça. Nesse caso é possível abster-se de tudo que hoje em dia parece ser imprescindível. Na Agricultura Biodinâmica não se usam adubos nitrogenados minerais, pesticidas sintéticos,herbicidas e hormônios de crescimento etc. A concepção do melhoramento biodinâmico dos cultivares ou das raças está em irrestrita oposição à tecnologia transgênica. A ração para os animais é produzida no próprio sítio ou fazenda e a quantidade dos animais mantidos está em relação com a capacidade natural da área ocupada.
O agricultor biodinâmico está empenhado em fazer somente aquilo pelo qual ele mesmo pode responsabilizar-se, a saber, o que serve ao desenvolvimento duradouro da "individualidade agrícola". Isso inclui o cultivo e a seleção das suas próprias sementes como também a adaptação e a seleção própria de raças de animais. Além disso, significa uma orientação renovada na pesquisa, consultoria e formação profissional.
O agricultor biodinâmico aprende, dentro do processo de trabalho, a ser ele mesmo um pesquisador, aprende a participar e transmitir sua experiência a outros e formar dentro do seu estabelecimento um local de formação profissionalizante para gerações vindouras.
Uma renovação desta natureza desperta o interesse das pessoas que vivem nas cidades. Elas ligam-se com esta ou aquela fazenda ou sítio, apóiam e ajudam como podem, tornando-se fieis fregueses. Elas colaboram na formação de mercados regionais tornando-se como associados solidários mútuos. Há iniciativas novas de importância fundamental em toda parte para que a Agricultura possa enfrentar com sua autonomia regional a globalização do mercado mundial. Agricultura não é somente profissão para ganhar dinheiro, mas é principalmente encargo de vida, é vocação.
Em mais de cinqüenta países da Terra, a Agricultura Biodinâmica é praticada ao serviço do cultivo do meio ambiente e alimentação saudável do ser humano. No mundo inteiro os produtos biodinâmicos são uniformemente comercializados sob a marca deméter. A marca garante uma cultura agrícola baseada em medidas novas nos campos culturais, espirituais, políticos, legais, econômicos e ecológicos.
Para o desenvolvimento da agricultura e da cultura em geral no Brasil, será de maior significação achar personalidades suficientes que tenham a coragem e a força de iniciativa de se colocar ao serviço desta renovação da agricultura.

Ver também

Ligações externas


Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Agricultura_biodinamica




Agricultura e sustentabilidade


Valdemar W. Setzer
www.ime.usp.br/~vwsetzer
23/10/11


Henrique Régis, o coordenador do blog Espirit Book, pediu-me para escrever sobre agricultura e sustentabilidade. Existe uma agricultura antroposófica, isto é, uma das aplicações da Antroposofia, chamada de Agricultura Biodinâmica (ABD), introduzida por Rudolf Steiner em 1924 [1]. Desde aquela época, inúmeras fazendas que usam o método de cultivo biodinâmico (BD) têm sido formadas no mundo todo, havendo várias no Brasil. Um caso digno de nota é o arroz Volkmann, de Sentinela do Sul, RS (www.volkmann.com.br) que, aliás, traz o selo Demeter que indica, no mundo todo, um produto genuinamente BD. Muito se tem falado da excelência dos vinhos BDs (apesar de a Antroposofia ser contra o uso de bebidas alcoólicas, por prejudicarem hoje em dia o desenvolvimento espiritual pessoal). Provavelmente muitos dos leitores já viram nos invólucros de produtos agrícolas a marca IBD, do Instituto Biodinâmico, que certifica produtos orgânicos e BDs; ele tem as características de integridade de todas as iniciativas antroposóficas.

Em 1971, nos EEUU, assisti uma palestra do presidente da associação americana de agricultores orgânicos, e lhe perguntei o que achava da ABD. Ele disse "É o máximo em agricultura orgânica." Por que será? A distinção está nos fundamentos espiritualistas antroposóficos da ABD, a maneira como a terra, as plantações e os animais são tratados e o fato de que cada fazenda tem, como tudo na Antroposofia, o ser humano como centro. Se for feita uma visita a uma fazenda BD, como por exemplo a Estância Demétria em Botucatu, SP, a pioneira no Brasil, e se falar com os agricultores, logo notar-se-á algo muito especial: o amor e respeito que todos os que trabalham numa fazenda BD têm pela terra, pelas plantas e animais, e o fato de sempre se constituírem em uma comunidade harmônica de trabalho, que oferece dignidade e cultura para todos. Em particular, obviamente não são usados adubos, pesticidas e herbicidas químicos, e muito menos transgênicos. O ideal é que as sementes sejam produzidas na própria fazenda, para evitar origens desconhecidas. Mas, diferente dos cultivos orgânicos, nos BD usam-se métodos específicos para literalmente curar a terra, e há uma integração entre pecuária e agricultura, para que todo o adubo seja, na medida do possível, originário da própria fazenda. Além disso, é seguido um calendário agrícola que leva em conta as influências cósmicas que ocorrem durante cada ano. O cuidado e o carinho com a terra são tão grandes que, na Demétria, organizaram-se bairros residenciais em volta dela para proteger seus campos e riachos da contaminação pelos inseticidas e adubos dos vizinhos.

O Brasil é o maior consumidor de pesticidas do mundo. Estamos envenenando nossas terras e sendo literalmente envenenados por eles, pelos herbicidas e adubos químicos – basta ver, por exemplo, frutas sendo vendidas sem terem sido lavadas para se ver nelas a quantidade de resíduos (ilegais) dos inseticidas. No Sacolão de Santo Amaro, em São Paulo, onde compro o que não conseguimos de produtos orgânicos e BDs, costumo apontar para mangas, horrorosamente brancas de inseticidas, e dizer para algum colega freguês: "Olhe só, esqueceram de pôr manga no inseticida!". Fiquei estarrecido ao visitar em 2002 a região serrana no Rio Grande do Sul e ver vinhedos totalmente brancos de inseticidas, com os galões desses últimos espalhados pelo chão. Sempre que compro frutas examino cada uma para ver se ela apresenta esses resíduos, e gosto de comprar no sacolão pois lá não estão as maiores e mais bonitas – sempre desconfio de verduras e frutas grandes e lindas. Compare-se uma maçã ou laranja orgânica com uma normal para se ver a diferença de aspecto. É uma lástima que as pessoas prefiram o que é bonito e não o que é saudável – e com muito mais gosto! É muito ilustrativo comparar a cor de uma cenoura de cultivo BD com outra de cultivo tradicional – nós perdemos a noção do que deveria ser a cor "cenoura"! Em particular, fico sempre contente quando encontro um verme dentro de uma fruta, sinal de que não houve muito tratamento. Lembrem-se que estamos no Brasil, onde praticamente não há fiscalização e, se a há, os fiscais são muitas vezes corrompidos pelo capital. Por exemplo, vejam-se as queimadas, essa maneira criminosa de limpar a terra, pois vai destruindo seus nutrientes e tornando-a cada vez mais ácida. As localizações das queimadas são perfeitamente detectadas pelo sistema por satélite desenvolvido pelo INPE em São José dos Campos, SP; simplesmente não se faz praticamente nada para evitá-las e para multar e prender quem as produziu. Aliás, fui informado por um dos pesquisadores do INPE sobre um dos truques usados pelos agricultores: colocam fogo em suas matas e logo vão correndo fazer um Boletim de Ocorrência. na delegacia de polícia mais próxima dizendo que alguém tinha posto fogo em suas terras... Isso é o Brasil! Ignorância e egoísmo matam.

Sustentabilidade quer dizer não estragar o meio ambiente do qual dependemos, pelo contrário, deveríamos melhorá-lo, pois ele já foi em grande parte contaminado ou destruído. A industrialização da agricultura, e a invasão nela do capitalismo selvagem, egoísta e totalmente materialista, significa retirar dos produtos sua qualidade e só se pensar em quantidade – por exemplo, usando-se como critério de eficiência a produção por hectare plantado, ignorando-se totalmente a qualidade do produto, bem como o custo para produzi-lo. Os terríveis transgênicos são uma consequência dessa mentalidade – estamos mudando a natureza introduzindo seres que jamais existiram nela, como se tivéssemos sabedoria suficiente para suplantar a da própria natureza que, para qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade, mostra uma sabedoria infinita, muito maior daquilo que nosso parco conhecimento pode apreender. Dessa maneira, estamos prejudicando a nossa própria sobrevivência, isto é, estamos nos tornando insustentáveis. Mas isso também ocorre com o próprio solo, que vai perdendo sua vida, representada tão bem por suas bactérias e insetos; por outro lado, os mananciais vão sendo envenenados, o que está tornando insalubre a água em muitas regiões do globo. Nossa cultura de base, a agricultura, está tornando nosso planeta insustentável! A Terra não é um objeto, muito menos artificial – é um organismo vivo, e assim deveria ser tratada, e para isso deveríamos desenvolver para com ela um profundo respeito e veneração.

Rudolf Steiner disse uma vez que o tipo de agricultura que se praticava em sua época estava retirando toda a espiritualidade dos alimentos, o que prejudicava enormemente o desenvolvimento espiritual de cada pessoa. E isso foi no começo do século passado, imagine-se hoje como está essa situação!

Aos que dizem: "Mas os produtos orgânicos e BDs são muito mais caros!" gostaria de perguntar: "Quanto vale sua saúde, física, anímica e espiritual?" A última economia que se deveria fazer é em saúde, alimentação e educação.

Para maiores informações, artigos, entrevistas e vídeos sobre ABD, veja-se http://www.sab.org.br/agric-biod.

[1] Steiner, R. Fundamentos da Agricultura Biodinâmica. GA (obra completa) No. 327. Trad. G. Bannwart. São Paulo: Editora Antroposófica, 3ª ed. 2010.


História da Biodinâmica no Brasil-Seguir link abaixo:Print


Os textos abaixo são parte da revista comemorativa pelos 30 anos da Estância Demétria e 80 anos de Biodinâmica no mundo, evento ocorrido em Botucatu, na VI Conferência Brasileira de Agricultura Biodinâmica, em outubro de 2004.

Link:http://www.biodinamica.org.br/

Campanha

Campanha

Locais das feiras

São Paulo, SP - Alto da Boa Vista, ao lado do Convento - quinta 7h30 às 13h
Botucatu, SP - Bairro Demétria, em frente a Escola Aitiara - toda quinta das 11h30 às 13h
Gonçalves, MG - Associação Orgânicos da Mantiqueira, Rua Fausto Resende, 183 - aos sábados das 8h30 às 13h
Maria da Fé, MG - Rua Cap João Reibeiro, ao lado da Câmara Municipal - de quinta à sábado das 8h às 13h
Agricultura Biodinâmica - Inclui  Matérias do Globo Rural (VÍDEOS)





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