QUAL O LIMITE SAUDÁVEL DE UMA DIETA RESTRITIVA

 

Dietas restritivas: até onde insistir? (Foto: Victor Amirabile)

Dietas restritivas: até onde insistir? (Foto: Victor Amirabile)

Qual o limite saudável de uma dieta restritiva

Especialistas conversam  e mostram os riscos - e ineficácias - de regimes radicais

  • LEONARDO ÁVILA TEIXEIRA

27 NOV 2020 - 08H05 ATUALIZADO EM 27 NOV 2020 - 08H05

Dieta Militar, Dukan ou a do Dr. Nowzaradan. Com o maior tempo em casa nos últimos meses, além de grandes preocupações sobre a saúde e boa forma durante o distanciamento, é possível que algum desses nomes estejam aí no seu histórico de busca do Google. Mas como qualquer termo, é importante conhecê-lo na fonte.

“A dieta, de acordo com a etimologia da palavra, significa modo de viver”, diz à GQ o Dr. Daniel Coimbra, nutricionista da Les Cinq Gym. “Representa a sua alimentação diária, seja ela saudável ou não.” Nada a ver com a ideia de um programa ou estratégia temporária - você não está em dieta, mas a vive cada dia da sua vida.

Ao mesmo tempo os nomes muitas vezes pomposos podem enganar. “A Dieta Militar não está associada nem chancelada a nenhum programa de nutrição militar em qualquer lugar do mundo”, exemplifica a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR. Para Garcez, em sua maioria elas “não passam de estratégias de marketing”, escondendo o fato de que é muito difícil precisar os efeitos a longo prazo desses regimes da moda na perda de peso.

Mas há um fato, um ponto em comum entre elas: todas promovem períodos nos quais a alimentação é restringida radicalmente. No caso da Dukan, há uma fase restrita apenas a proteínas. A Militar propõe 4 dias de refeições super moderadas. Já na do Dr. Nowzaradan há um ‘teto de gastos’ diário de 1.200 calorias - “Lembrando que um homem médio, moderadamente ativo, precisa de aproximadamente 2.400 a 2.600 delas por dia”, aponta a Dra. Garcez.

“Resguardar o seu corpo de calorias e nutrientes por 3 dias e depois consumir à vontade o que você deseja, não tem como ser uma opção nem saudável nem duradoura”, diz o Dr. Coimbra. "Isso não faz sentido algum, e ainda pode desenvolver diversos transtornos”, completa.

Em 2018, especialistas da Universidade Federal de Pernambuco estudaram 3.500 trabalhos sobre o impacto de dietas restritivas, como a cetogênica e a low carb. O que descobriram é que a adoção desses regimes, somado a filosofias rigorosas e a natural perda de nutrientes, têm o potencial de agravar quadros de bulimia e levar à compulsão alimentar. De acordos com dados organizados pela ONG estadunidense National Eating Disorder Association (Neda), dietas moderadas podem aumentar em 5 vezes a chance de contrair distúrbios alimentares. As mais restritivas fazem essa possibilidade subir para 18 vezes.

Estamos falando acima sobre chances estatísticas. O risco existe, mas não se aplica a 100% de quem começa uma dieta da moda. Mesmo assim, o resultado dessa privação toda nem sequer é garantido.

Vale uma pausa para introduzir um termo científico ao seu vocabulário: taxa metabólica basal. “É o cálculo de quantas calorias o seu corpo gasta no dia para se manter vivo, quanta energia seus órgãos precisam para se manter ativos”, resume à GQ o Dr. Pedro Henrique Luiz da Silva, endocrinologista da Human Clinic. Segundo Luiz da Silva, no momento que o organismo percebe um déficit calórico, uma situação na qual o consumo de calorias está abaixo do que se gasta, ele naturalmente cria mecanismos para baixar a taxa metabólica basal, na tentativa de reequilibrar essa relação. E daí, restringir alimentos começa a ter efeito menor na perda de peso. “Você passa a funcionar no modo avião”, diz o especialista. 

Afinal, não importa o esforço de marketing por trás delas, uma dieta da moda não é um comportamento que se encontra na natureza. “Seu corpo vai achar isso uma lesão, vai achar que está sofrendo uma agressão”, resume o Dr. A taxa metabólica basal explica em boa parte o efeito sanfona, o ganho de peso seguido de períodos de restrição. Pesquisa da Neda aponta que 95% das pessoas que se dedicam a uma dieta recuperam seu peso em 5 anos.

Mesmo esse efeito tem particularidades. “É muito importante estratificar que tipo de déficit calorico foi feito. Se foi uma intervenção mais lowcarb ou cetogênica, quando a gente volta para nossa alimentação habitual, com carboidratos em níveis normais, você retém muito líquido. É comum em poucos dias você ver um aumento na balança considerável, de 5 a 6 quilos. Isso não é gordura, é retenção vinda da entrada do carboidrato”, explica o Dr. Luiz da Silva.

Se seu objetivo é perder peso, a dica é procurar ajuda médica sempre que possível, e ficar de olho: primeiro, nem mesmo os profissionais indicam longos períodos de restrição; segundo, há maneiras seguras de controlar a taxa basal. “A gente adota certas estratégias para que não haja queda: treino de musculação, treino com protocolo de HIIT são excelentes formas de jogar para cima de taxa metabólica basal. Fazer na semana algumas refeições livres também”, diz o endocrinologista.

"Não há benefícios, nem pontos positivos para prática de dietas restritivas sem indicação nem orientação médica", completa a Dra. Garcez, "pois as chances de insucesso são muitas e os riscos para a saúde física e emocional são grandes".


Fonte:https://gq.globo.com/Corpo/noticia/2020/11/qual-o-limite-saudavel-de-uma-dieta-restritiva.html


 

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