ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E O RISCO DE CÂNCER

 

Ultraprocessados,alerta sobre incidência de doenças no coração, diabetes e até câncer

Eles são vilões do carrinho de supermercado!

Consumir alimentos ultraprocessados pode aumentar o risco de câncer

Vamos combinar: não é fácil andar pelo supermercado e passar pela seção de biscoitos recheados e salgadinhos sem resistir aquela tentação de colocar um pacotinho de cada dentro do carrinho e levar para casa. E é bom mesmo evitar o corredor destas guloseimas porque os alimentos ultraprocessados podem trazer danos reais para a saúde, inclusive aumentando o risco de câncer.

Um estudo feito por pesquisadores franceses da Universidade de Sorborne sobre alimentos ultraprocessados, publicado na revista médica British Medical Journal, observou um risco mais elevado de câncer, em geral, em pessoas que tem uma dieta a base de macarrão instantâneo, bebidas açucaradas, salgadinhos, nuggets, almôndegas, embutidos (salame, presunto com aditivos) e pratos congelados. A pesquisa, que foi feita com 104.980 pessoas, apontou que um aumento de apenas 10% na ingestão destes alimentos pode ser associado a elevação no risco da doença, especialmente os cânceres de mama (entre 2% e 22%), estômago e intestino (cólon e reto).

Mas o que seria um alimento ultraprocessado? Ana Paula Santos, que atua como nutricionista ortomolecular no Rio de Janeiro e Niterói, explica que esses alimentos são formulações industriais prontas para serem consumidas. “São produzidos inteiramente ou prioritariamente de substâncias extraídas de alimentos, derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou produzidas em laboratório – corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e outros aditivos usados para alterar propriedades sensoriais”.

Nesse sentido, esses alimentos passam por técnicas e processamentos com alta quantidade de sal, açúcares, óleos ou vinagre, gorduras, realçadores de sabor e texturizantes, ou seja, substâncias que podem trazer riscos à saúde se consumidas com frequência. “O fato de serem muito agradáveis ao paladar acaba por interferir nos processos de sinalização do apetite e da saciedade e induzem ao consumo excessivo de fontes alimentares ricas em gorduras prejudiciais e aditivos químicos”, alerta a especialista.

Isso sem falar que, além do risco de câncer, consumir alimentos ultraprocessados pode também contribuir para acelerar o envelhecimento celular, o desenvolvimento de obesidade, inflamação crônica silenciosa, hipertensão arterial, elevação do colesterol, diabetes, compulsão alimentar, alergias, alteração da flora intestinal benéfica, dentre outros distúrbios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% dos casos de câncer podem estar relacionados com o estilo de vida.

E engana-se quem pensa que apenas os alimentos considerados vilões da dieta fazem mal para o nosso organismo, pois os processados também estão nesse pacote. Eles são resultantes de alimentos in natura com adição sal, açúcares, óleos e vinagre, a fim de aumentar seu tempo de conservação e sabor, bem como torná-lo mais atraente ao consumidor. “São exemplos, os vegetais em conserva – como cenoura, pepino, ervilhas e palmito –, compotas de frutas em calda, carnes salgadas e defumadas, sardinha e atum em lata, queijos feitos com leite, sal e coalho, além de pães a base de farinha, fermento e sal”, pontua Ana Paula.

Todos os profissionais e estudos concordam: é sempre melhor optar pelos alimentos naturais, aqueles não sofreram alterações industriais após serem extraídos da natureza, pois eles expressam maior quantidade de nutrientes, especialmente se forem orgânicos ou de agricultura natural. E a nutricionista dá a dica: “Alimentos in natura têm mais compostos bioativos que protegem nosso corpo contra doenças, ajudam na promoção da saúde e na longevidade com qualidade. Quanto mais próximo da terra, com mais casca e menos embalagem, melhor! Pensem bem: se coisas de comer industrializadas fossem boas para a nossa saúde, estariam penduradas em árvores ou saindo da terra”.

Então, agora que você já sabe que o aparecimento de um câncer pode estar correlacionado com o nosso estilo de vida, é hora de se movimentar! “Pratique atividades físicas com regularidade, se proteja das doenças sexualmente transmissíveis, priorize alimentos in natura, não fume, cuide das suas emoções e gerencie o estresse. Esses são pilares para evitar não apenas o câncer, mas várias outras doenças crônicas não-transmissíveis”, orienta Ana Paula.

Alimentos ultraprocessados e o risco de câncer

Em estudo realizado na Espanha, pesquisadores concluíram que o consumo desses produtos está associado a um risco aumentado de câncer colorretal

André Murad

Oncologista, diretor Executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e Oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília - Cettro e do Instituto Kaplan de Porto Alegre

 12/04/2021 06:00

Os hábitos de vida não saudáveis, incluindo a alimentação desequilibrada, podem contribuir para o surgimento de tumores. Um novo estudo vem justamente confirmar, mais uma vez, essa relação: o consumo de produtos alimentícios ultraprocessados pode aumentar o risco de desenvolver câncer colorretal e outros tumores variados.

 

A conclusão é de uma grande pesquisa publicada por Romaguera et al na Revista Médica Clinical Nutrition, com base em questionários sobre comportamentos alimentares respondidos por cerca de 8 mil pessoas, na Espanha. Também foi analisada a relação entre o consumo desses produtos e dois outros cânceres: mama e próstata.

 

Alimentos ultraprocessados, ou seja, que passam por mais processamento, são formulações industriais com mais de cinco ingredientes, que geralmente contêm substâncias adicionais como açúcar, gorduras, sal e aditivos. Refrigerantes açucarados, refeições prontas e produtos industrializados de padaria produzidos em massa são bons exemplos.

O problema é que as mudanças sociais, econômicas e industriais levaram a um aumento no consumo desses alimentos, que atualmente representam entre 25% e 50% do consumo total de energia em dietas na Europa e em países de alta e média renda. A tendência é que o fenômeno seja observado também em países em ascensão econômica, conforme mais produtos industrializados entrarem na dieta.

Vários estudos mostram que o consumo desses produtos ultraprocessados é também fator de risco para o surgimento de outras doenças, como as cardiovasculares e o diabetes tipo 2, além de repercutir no aumento do risco de morte prematura.

 

Análises

Para chegar aos resultados encontrados, os pesquisadores realizaram um estudo caso-controle de 7.843 adultos que viviam em diferentes províncias espanholas: metade dos participantes tinha diagnóstico de câncer colorretal (1.852), de mama (1.486) ou de próstata (953). A outra metade incluía pessoas sem diagnóstico de câncer.

Os dados foram obtidos do estudo de controle de multicasos MCC-Espanha. Já os dados dietéticos foram coletados por meio de um questionário validado, desenvolvido para avaliar a frequência de consumo de alimentos e bebidas habituais, durante o período de um ano.

Os resultados foram, então, organizados de acordo com o nível de processamento usando a classificação Nova, que agrupa todos os alimentos e bebidas em quatro categorias, de acordo com a quantidade de processamento a que são submetidos.

Resultados

Os pesquisadores concluíram que o consumo de comidas e bebidas ultraprocessadas está associado a um risco maior de câncer colorretal, pois um aumento de 10% no consumo desses itens foi relacionado a um crescimento de 11% no risco de desenvolver a doença.

Essa relação pode ser explicada, em parte, pela baixa ingestão de fibras, frutas e vegetais, que são alimentos conhecidos por oferecerem proteção contra o câncer colorretal, mas também pelos aditivos e outras substâncias com potencial carcinogênico, tipicamente utilizadas em produtos alimentícios processados.

No caso do câncer de mama, nenhuma relação forte foi encontrada, mas uma associação foi observada em um grupo de fumantes e ex-fumantes. Fumar é um fator de risco para câncer de mama. Somados a isso, certos fatores dietéticos - como o consumo de comidas e bebidas ultraprocessadas - são conhecidos por terem efeitos sinérgicos no desenvolvimento do câncer.

Nenhuma associação foi encontrada entre o câncer de próstata e uma dieta rica em produtos ultraprocessados. Esta descoberta não é surpreendente e é consistente com os resultados de estudos anteriores de fatores dietéticos e risco de câncer de próstata, nos quais nenhuma ligação foi encontrada.

Casos de câncer colorretal e de mama: dietas menos saudáveis


Os resultados do estudo mostraram que as pessoas com câncer de mama e colorretal relataram dietas menos saudáveis do que aquelas sem câncer no grupo de controle. Diferenças em termos de ingestão de energia, fibra, densidade energética e ácidos graxos saturados foram detectadas no estudo. O consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados foi maior entre os casos de câncer colorretal e de mama do que nos controles.

Os grupos de alimentos que representaram a maior proporção de ultraprocessados foram bebidas açucaradas (35%), produtos açucarados (19%), alimentos prontos (16%) e carnes processadas (12%). Estas, inclusive, já foram classificadas como cancerígenas pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC).

No entanto, as comidas e bebidas ultraprocessadas em geral ainda não são classificadas como cancerígenas, porque o objetivo do órgão não é avaliar o risco geral da dieta de um indivíduo, mas, sim, focar em componentes específicos que podem ser perigosos, como carnes processadas.

Os resultados, mais uma vez, reforçam que a política alimentar e a saúde pública devem incluir um foco no processamento de alimentos ao formular as diretrizes dietéticas com objetivo de reduzir a incidência do câncer, especialmente, o colorretal. Por outro lado, serve mais uma vez de alerta para que cada indivíduo seja protagonista no cuidado de sua saúde buscando dietas e hábitos de vida anticâncer.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

Fonte: https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/colunistas/andre-murad/2021/04/12/noticias-saude,270927/alimentos-ultraprocessados-e-o-risco-de-cancer.shtml

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