NUTRIÇÃO QUE POTENCIALIZA AS CANETAS EMAGRECEDORAS

  

Canetas têm efeitos positivos, mas podem mudar composição corporal — Foto: Freepik

Nutrição que potencializa as canetas emagrecedoras

Alimentação de pacientes que usam novos medicamentos para perda de peso exige atenção

Por 

Priscilla Primi

09/10/2025 04h01  Atualizado há 4 semanas

 

Nos últimos meses, tenho acompanhado um novo perfil de pacientes encaminhados por endocrinologistas que utilizam ou já utilizaram medicamentos como semaglutida, liraglutida e tirzepatida, as conhecidas “canetas emagrecedoras”. As principais queixas envolvem efeitos gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia e constipação), perda de massa muscular e óssea, deficiências nutricionais, baixa adesão a longo prazo e altos custos.

Essas medicações atuam imitando os hormônios GLP-1 (no caso da semaglutida e liraglutida) e GLP-1 + GIP (na tirzepatida), promovendo saciedade, retardando a digestão e aumentando a liberação de insulina, o que leva à redução do apetite e da ingestão calórica.

Entretanto, o apetite reduzido faz com que muitos pacientes pulem refeições, o que pode comprometer a composição corporal e favorecer perdas musculares. Por isso, o desmame, fase de retirada gradual e monitorada da medicação, deve ser acompanhado por uma alimentação equilibrada e mudanças no estilo de vida, ajudando o organismo a se adaptar e diminuindo o risco de reganho de peso.

Um grupo internacional elaborou e divulgou no fim do mês passado, no American Journal of Clinical Nutrition, um posicionamento que define prioridades nutricionais e de estilo de vida voltadas a potencializar os resultados e favorecer a integração entre a nutrição e a terapia com GLP-1.

Antes de iniciar o tratamento, é importante realizar uma avaliação nutricional completa, identificando hábitos alimentares, deficiências nutricionais e riscos de perda muscular ou óssea. Durante o uso da medicação, o acompanhamento contínuo com nutricionistas e o uso do modelo 5As (do inglês, avaliar, aconselhar, acordar, assistir e organizar) fortalecem a parceria com o paciente e favorecem a adesão duradoura às mudanças de estilo de vida.

Entre os efeitos adversos mais comuns desses medicamentos estão náuseas, vômitos, diarreia e constipação, especialmente no início ou quando há aumento de dose. Algumas estratégias simples ajudam a reduzir esses desconfortos: fazer refeições pequenas e frequentes (a cada três a quatro horas), evitar alimentos gordurosos e muito ricos em fibras nos primeiros dias, consumir chás como gengibre ou hortelã, manter uma boa hidratação e reduzir o consumo de álcool.

Com a diminuição do apetite e da ingestão calórica, que pode chegar a 40%, aumenta o risco de deficiências de micronutrientes, como vitamina D, cálcio e vitamina B12. Por isso, é importante priorizar uma alimentação rica, com destaque para feijões, lentilhas, laticínios, ovos, peixes, castanhas e carnes magras. A ingestão adequada de proteínas deve ser mantida entre 80 e 120 g por dia, distribuídas pelas refeições. A prática regular de exercícios de resistência e atividades aeróbicas, pelo menos três vezes por semana, é fundamental para preservar a massa muscular. Em alguns casos, o uso de suplementos ou multivitamínicos pode ser necessário.

Vale lembrar que o aumento exagerado de proteínas não traz benefícios adicionais. O excesso pode ser convertido em gordura no fígado, contribuindo para o aumento da adiposidade visceral. Além disso, a perda de peso rápida pode levar à redução da densidade óssea, tornando importante o consumo adequado de cálcio, vitamina D e proteínas, aliado à prática de exercícios físicos.

Os medicamentos também afetam o comportamento alimentar. Eles reduzem a chamada “food noise” — a preocupação constante com comida — e diminuem a alimentação emocional, a compulsão e o desejo por ultraprocessados. Muitos pacientes relatam menor vontade de comer doces e fast food. Por outro lado, alguns passam longos períodos sem se alimentar ou desenvolvem aversões alimentares. Nessas situações, o acompanhamento nutricional e psicológico é essencial para garantir uma dieta equilibrada e evitar recaídas.

Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/espiritualidade-e-bem-estar/post/2025/10/nutricao-que-potencializa-as-canetas-emagrecedoras.ghtml