OS PRÓS E CONTRAS DOS ALIMENTOS INTEGRAIS

Veja os prós e contras dos alimentos integrais que ganham cada vez mais espaço no cardápio dos brasileiros

Para se ter uma ideia da importância desses alimentos, Ministério da Saúde colocou os integrais na base da pirâmide alimentar

Que eles são mais saudáveis e indicados para compor as refeições, não há dúvidas. O próprio Ministério da Saúde reconheceu a importância dos alimentos integrais e os colocou na base da pirâmide alimentar elaborada com o intuito de melhorar a qualidade da dieta dos brasileiros. Mas você sabe ao certo por que eles são melhores que suas versões refinadas? Mais importante do que isso: consegue identificar esses produtos entre as dezenas de opções expostas nas gôndolas? Tem ideia de que muitos dos que estampam a palavra “integral” no rótulo não o são de fato? O Bem Viver, do Jornal Estado de Minas, resolveu mergulhar no mundo dos integrais para esclarecer os prós e contras desses alimentos que estão ganhando cada vez mais espaço nos supermercados e virando sinônimo de saúde e bem-estar.

A polêmica em torno do enquadramento de pães, massas e biscoitos como alimentos integrais é tanta que um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados pretende colocar ordem no mercado. Isso porque não se tem uma definição clara do que pode ou não ser classificado como integral. Sem uma legislação específica, ingredientes enriquecidos com grãos, vitaminas e minerais se passam por integrais sem qualquer cerimônia. A verdade é que a composição continua rica em farinha branca, amplamente refinada e desprovida de seus nutrientes naturais. Quem paga é o consumidor, que não só desembolsa mais para ter um produto de melhor qualidade, como não terá o retorno esperado para a saúde.

A proposta apresentada na Câmara pelo deputado Onofre Santo Agostini (PSD-SC) prevê que só poderá estampar a expressão integral na embalagem o produto que contiver mais de 51% de grãos integrais em sua composição. Se esse percentual for de 15% a 51%, o correto é informar que se trata de um alimento “semi-integral ou com adição de farinha integral”. Abaixo de 15%, não poderá haver qualquer referência ao termo. A proposta está em fase de avaliação conclusiva pelas Comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Defesa do Consumidor e Constituição e Justiça e de Cidadania e, se aprovada, poderá seguir diretamente para o Senado.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconhece a necessidade de estabelecer requisitos mínimos para classificação desses alimentos. Por isso, já informou que pretende discutir o assunto quando for aberta a revisão do "Regulamento técnico para produtos de cereais, amidos, farinhas e farelos", ainda sem data para ocorrer.

Passo importante para que o consumo seja feito de forma consciente, mas ainda não é suficiente, na avaliação da nutricionista especialista em nutrição funcional Glesiane Alves. “Por esse motivo, peço aos pacientes que têm disponibilidade para fazer em casa as receitas integrais que passo”, afirma. 

Cada vez mais consumidos, saiba se os biscoitos integrais fazem realmente bem à saúde

Nutrólogo alerta que nem tudo que é industrializado é ruim

Corpo saudável, mente sã. A conquista desse equilíbrio exige alimentação de qualidade. Nessa busca, o cuidado com o que se consome tem de ser uma escolha diária. Cada vez mais ingeridos, os biscoitos com receitas ricas em cereais, leite, mel, cacau, avelã e vitaminas ganham evidência. Será que fazem bem? O nutrólogo e professor Carlos Alberto Nogueira de Almeida, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), explica quais características um biscoito precisa ter para ser considerado saudável. Antes, ele alerta a população de que nem tudo que é industrializado é ruim. O especialista afirma ser esse um conceito errado que prejudica tanto o consumidor quanto o produtor, já que bons produtos não são consumidos e a indústria fica desestimulada a pesquisar e produzir bons alimentos, perdendo o interesse, já que o gasto é maior. "Nós mesmos, médicos, falamos que o natural é sempre melhor. Mas é possível comer biscoitos industrializados sem fazer nada errado."

Alguns biscoitos apresentam em sua composição mais de 50% de cereais, têm vitaminas B1, B3 e E e são assados lentamente
Agora, o que o biscoito precisa ter para ser saudável? Conforme Carlos Alberto, a primeira exigência é entender que carboidrato não é ruim. Açúcares e farinhas têm de estar entre 50% e 60% presentes na nossa dieta, ou seja, o correspondente a metade das calorias. Os biscoitos são boas fontes. "Entretanto, a regra é: metade dos carboidratos têm de vir na forma integral. Isso vale para macarrão, arroz, pão e biscoito. Na composição do biscoito, é importante que a maior parte seja integral."

A segunda característica para a qual Carlos Alberto chama a atenção é a quantidade de gordura. "O produto livre de gordura não é bom. Dentro da alimentação, precisamos consumir 30% de gordura, desde que seja a saudável e balanceada. A saturada, polissaturada e monossaturada têm de estar em equilíbrio. A trans fica de fora, está vetada." O mesmo raciocínio é levado em conta para o uso do sódio (sal). "Ele é um nutriente importante para a saúde e tem de estar presente. Aliás, sua falta ou escassez traz mais malefícios do que benefícios. Precisamos dele para viver. Porém, tem de ser na quantidade adequada. Em doses pequenas, com baixo percentual. Ele é essencial, já que o sódio dá sabor, o ponto da massa e é conservante."

Carlos Alberto destaca outra faceta fundamental para o consumo do biscoito saudável: ser funcional. "É quando o produto, além de nutrir, agrega outra função e traz mais benefícios à saúde. É tendência. Por exemplo, o fitosterol na margarina significa que, além de passar no pão para dar sabor, o consumidor leva como brinde um produto que melhora o colesterol. O biscoito pode agregar fibras com características específicas, que vão melhorar o funcionamento do intestino."

Alguns biscoitos apresentam em sua composição mais de 50% de cereais, têm vitaminas B1, B3 e E e são assados lentamente. É o caso dos biscoitos belVita, marca de produtos integrais com cereais, de origem francesa, e que chegou ao Brasil em 2010. Com sabores de mel e cacau, aveia com leite, avelã com cacau e coco com gotas de cacau e cereais, também têm características funcionais.

Carlos Alberto Nogueira, nutrólogo: "É possível comer biscoitos industrializados sem fazer nada errado"

O diferencial é que o carboidrato de sua receita é de digestão mais lenta. Para o nutrólogo, os benefícios que essa característica carrega é que "traz saciedade pelo processo mais demorado, lento". Ele explica que essa ação é possível quimicamente. "E é fundamental diante de epidemia de obesidade. Mais de 50% das pessoas são obesas e muitas vezes apresentam quadro de diabetes. Produtos com essa característica investem no conceito de índice glicêmico baixo. Por isso é importante o consumidor ficar de olho nas informações dos rótulos dos alimentos."

Conforme o nutrólogo, o biscoito saudável tem a capacidade de ter mais benefícios quando há preocupação com a fortificação. "É quando se reconhece o perfil de deficiência nutricional de uma região e, baseado em dados, é feito um biscoito rico em ferro para consumidores com anemia. O importante é seja uma receita dirigida para aquela necessidade."

Ricos em fibras, benefícios dos alimentos integrais estão na casca

Os produtos integrais têm a seu favor o fato de não terem sido processados industrialmente. É na película desses alimentos que se concentram fibras e certa quantidade de vitaminas

O que os integrais têm que os refinados não têm? Basicamente a casca do grão. A diferença parece pouca, mas nessa película está concentrada a maior parte dos nutrientes naturais do alimento. “Os integrais estão em sua forma completa e não passaram pelo processo industrial de refinamento, que retira a casca que não só é rica em fibras, como ainda tem alguma quantidade de vitaminas”, explica Eduardo Paulo Coelho Rocha, médico nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Esse processamento faz parte das técnicas utilizadas pela indústria para aumentar a validade do produto, modificar sua textura e sabor e baratear o preço. Não é por acaso que a aparência e o gosto são as principais barreiras a serem vencidas para a adoção dos integrais na dieta. Em geral, são alimentos mais escuros, secos e com consistência mais firme.

Quem superou esses obstáculos garante que valeu a pena. “A saciedade foi o resultado mais imediato”, conta o engenheiro ambiental Leandro Baeta, de 28 anos. Motivado a perder os quilos a mais, ele fez uma revolução nos hábitos alimentares e resolveu incorporar de vez os integrais nas refeições. “Eles nutrem, ao contrário da farinha branca, que é vazia”, afirma.

Boa parte dos benefícios trazidos pelos integrais se resume à quantidade de fibras solúveis e insolúveis que fornece. Para ter uma ideia, a farinha de trigo que carrega a casca tem quase sete vezes mais fibras que a versão refinada, segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco), divulgada pela Unicamp. No pão, a relação chega a três vezes.

 As fibras solúveis são as principais responsáveis pelo aumento da saciedade trazida pelo consumo regular dos integrais. “O organismo gasta mais tempo para digerir esses alimentos, sem contar que reduz os picos de açúcar no sangue, já que a liberação ocorre de forma lenta”, explica Glesiane Alves, nutricionista e especialista em nutrição funcional.

Os reflexos se estendem à atuação da insulina, hormônio responsável por retirar o açúcar de circulação e transportá-lo para dentro das células. “Quando há picos de açúcar no sangue ao se consumir um doce, por exemplo, a insulina não consegue atuar de forma a levar todo esse nutriente para dentro das células. A alternativa que encontra, então, é transformá-lo em gordura”, explica Glesiane.

As fibras solúveis impedem que esse quadro se instale, reduzindo, inclusive, a absorção de gorduras como o colesterol. Bom não apenas para diabéticos, hipertensos e obesos em geral, mas para qualquer pessoa que busca uma alimentação mais saudável. Já as fibras insolúveis são as principais responsáveis por aumentar o bolo fecal e garantir um trânsito intestinal adequado. Não é por acaso que elas sempre estão associadas à melhora do quadro de prisão de ventre. Mesmo que em menor quantidade, não se pode ignorar a presença das vitaminas do complexo B, fósforo, ferro, manganês, entre outros minerais essenciais fornecidos em pães, bolos, massas e biscoitos integrais.

LENTO E GRADUAL 

Para quem não suporta o gosto e tem dificuldade de incorporá-los à rotina de alimentação, a dica é ir com calma. “O primeiro passo é se acostumar com o sabor dos cereais. Uma boa alternativa é adicionar linhaça, amaranto, chia e aveia a uma fruta, iogurte ou vitamina”, aconselha a nutricionista da Clinlife, Juliana Castilho. A partir daí, os pães, massas e biscoitos podem ser inseridos aos poucos, sempre intercalando refeições com e sem os integrais.

O ideal é retirar a farinha branca e o arroz branco da dieta, mas, se não for possível, incorporar os cereais integrais à rotina já é de grande valia. “O importante é que as refeições tenham bastante fibra, para auxiliar nessa saciedade prolongada”, alerta Glesiane. Outro passo é acabar com o preconceito de que os integrais são indicados apenas para quem está de dieta. “Eles têm muito mais nutrientes e vão trazer benefícios a todos”, garante Juliana Castilho.

Especialistas sugerem produzir próprio alimento e fugir dos falsos produtos integrais

Para fugir de produtos que se dizem integrais mas não são, especialistas em nutrição sugerem que as pessoas produzam as refeições ou pesquisem a fundo os rótulos 

Nem tudo que carrega o selo de integral no rótulo tem realmente essa composição. Essa tem sido a grande pedra no sapato dos nutricionistas, que apelam, em muitos casos, para a indicação do preparo em casa como forma de garantir as propriedades desejadas. Para quem não tem essa disposição, a alternativa é fazer uma inspeção nas embalagens para ter mais segurança sobre o que se está comprando.

Para isso, uma boa análise da lista de ingredientes utilizados no preparo do produto é fundamental. “Não é a tabela nutricional, mas sim a descrição dos ingredientes que deve estar na mira do consumidor. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que os itens apareçam por ordem de concentração. Aqueles com maior proporção no alimento devem ser informados primeiro”, orienta a nutricionista especialista em nutrição funcional Glesiane Alves.

Portanto, para ser classificado como integral, é preciso que a farinha de trigo integral seja a primeira a ser citada nessa lista. “Mas, em muitos casos, o que aparece é farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico. Essa, na verdade, é a farinha branca”, alerta Glesiane. A nutricionista Juliana Castilho lembra que há versões de farinhas apresentadas como enriquecidas com cereais processados. O que também não pode ser enquadrado como integral.

Sem contar as várias opções de biscoitos, pães e massas que, além da farinha integral na composição, ainda possuem a versão refinada entre os ingredientes principais. “A branca dá uma cor mais bonita para o alimento, além de maciez e um sabor mais agradável. Aquele que é 100% integral é escuro e seco. Por isso, muitas vezes, é preciso fazer a mistura”, reconhece Glesiane. Tudo para atrair a preferência do consumidor, que ainda tem resistência ao integral.

A fisioterapeuta Laura Francielle de Castro, de 32 anos, sabe bem disso e, durante muito tempo, consumiu os produtos inadequados. “A farinha de trigo integral não era o primeiro componente e sim a enriquecida com ferro e ácido fólico. Com a ajuda de uma nutricionista consegui eliminar esses alimentos e incorporar os que são realmente integrais. Hoje, minha alimentação é 100% integral”, garante.

Outra alternativa utilizada pela indústria alimentícia para amenizar a rejeição ao integral é aumentar a quantidade de gordura e sal. “Há alimentos que, para ficarem saborosos, precisam ter maior quantidade de gordura, sal e até de açúcar, e esses nutrientes, em excesso, são prejudiciais à saúde. Então comer um pão integral que tem maior quantidade de fibra é melhor do que o pão feito com farinha refinada, mas se ele tiver mais gordura e mais sal, é necessário consumir com moderação”, pondera a nutricionista Márcia Vitolo, professora associada do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

CAUTELA Não é por serem mais nutritivo que os alimentos integrais podem ser consumidos sem restrição. Ao contrário do que muitos pensam, esses produtos não possuem menos calorias que os refinados e, por isso, devem ter as quantidades reguladas dentro de uma rotina de dieta balanceada. “O consumidor está comendo alimentos mais saudáveis e benéficos tanto na prevenção de doenças como na regulação intestinal, mas a quantidade de calorias em relação ao alimento não integral é semelhante”, garante Eduardo Paulo Coelho Rocha, médico nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Portanto, a ingestão em excesso certamente significará calorias a mais, além de carboidrato e gorduras, ingredientes perfeitos para o ganho de peso. “Se a pessoa consome habitualmente, no almoço, quatro colheres de sopa de arroz branco, ela comerá quatro colheres de sopa de arroz integral. As porções devem ser iguais”, orienta Márcia Vitolo.
A nutricionista Glesiane Alves diz que a descrição dos ingredientes deve estar na mira do consumidor
A nutricionista Glesiane Alves diz que a descrição dos ingredientes deve estar na mira do consumidor

O fato de ser mais saudável também não deve ser usado como motivo para introduzir os integrais na alimentação dos bebês. “O intestino ainda não consegue processar a quantidade de fibra oferecida por esse alimento, que é mais completo”, alerta Juliana. O ideal é introduzir na alimentação dos pequenos que tenham mais de 5 anos, caso contrário, pode causar desconforto abdominal e gases.

Aliás, o desconforto abdominal e os gases podem estar relacionados ao aumento do consumo de fibras, inclusive nos adultos. Para ter melhor atuação e reduzir esses efeitos indesejados, é fundamental consumir bastante água. “No início, é uma reação muito comum, porque há uma fase de adaptação do intestino à nova alimentação. Mas toda fibra deve ser hidratada para ter melhor efeito. Se isso não acontecer, haverá gases e desconforto abdominal”, reconhece Glesiane.

DAQUI PARA O FUTURO

Panificação se prepara

De olho nas tendências de consumo, as padarias estão se preparando para oferecer o produto adequado à demanda dos brasileiros. O projeto Panificação do Futuro, do Sindicato e da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão), pretende implantar a panificação fresca nos estabelecimentos. Na esteira desses produtos, também deve aumentar a oferta de opções integrais. “Estamos realizando cursos para produtos frescos e funcionais e temos a expectativa de que este projeto siga até o ano que vem”, afirma Sarah Faria, gerente do projeto. A intenção é que esses alimentos não fiquem restritos apenas às padarias gourmet e mais sofisticadas. “Já há uma onda de agregar elementos funcionais como as sementes, mas a maioria ainda trabalha com o pão francês tradicional”, reconhece Sarah. Daqui para frente, a expectativa é de que cada vez mais empresários reconheçam a importância dos produtos naturais e funcionais e os agreguem ao mix do estabelecimento.

Fonte:http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/

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