O cérebro tem muitos mais a ver com o intestino do que você imagina. (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
Intestino: Seu Segundo Cérebro
Ele tem 9 metros de comprimento e 500 milhões de neurônios. Controla muito do que você faz e influencia tudo o que você pensa.
(Toco-oco/Superinteressante)
Quase todo mundo é ansioso. Segundo a Associação Internacional de Controle do Stress (ISMA), 72% dos trabalhadores brasileiros são estressados. Mais da metade da população está acima do peso e tem problemas de sono – hoje se dorme 1h30 a menos, por noite, que na década de 1990. E nunca houve tanta gente, no mundo, sofrendo de depressão. De onde vem tudo isso? Cada um desses problemas tem suas próprias causas. Mas novos estudos têm revelado um ponto em comum entre todos eles: a sua barriga.
Dentro do sistema digestivo humano existe o que alguns pesquisadores já chamam de “segundo cérebro”, com meio bilhão de neurônios e mais de 30 neurotransmissores (incluindo 50% de toda a dopamina e 90% da serotonina presentes no organismo). Tudo isso para controlar uma função essencial do corpo: extrair energia dos alimentos. Mas novas pesquisas estão revelando que não é só isso. Os neurônios da barriga podem interferir, sem que você perceba, com o cérebro de cima, o da cabeça – afetando o seu comportamento, as suas emoções e até o seu caráter. E o mais incrível é como eles fazem isso. Mas primeiro: que história é essa de neurônios lá embaixo?
Ao longo da evolução, animais foram desenvolvendo uma rede de neurônios no sistema digestivo
Sem energia, não existe vida. Você precisa dela. E, ao contrário das plantas, que se viram com CO2 e luz solar, os animais obtêm energia comendo – e digerindo – outros seres. É um processo fundamental da nossa vida, mas não é nada simples. Tanto que, ao longo da evolução, animais primitivos – como os vermes de 600 milhões de anos atrás – foram desenvolvendo uma rede de neurônios no sistema digestivo. Lá, eles coordenavam o processamento da comida, que graças a isso se tornou mais sofisticado (ou seja, capaz de extrair energia de mais e mais tipos de alimento). E também desempenhavam outra função crucial: detectar e expulsar substâncias tóxicas, evitando que o bicho morresse ao comer algo venenoso. Deu certo. Tão certo que a rede de neurônios digestivos foi aumentando e se sofisticando, até chegar ao que, hoje, é conhecido como sistema nervoso entérico (SNE).
Essa rede de neurônios percorre todo o abdômen: são de 6 a 9 metros
Ele existe em todos os animais vertebrados e, nos humanos, é uma rede de neurônios que percorre todo o abdômen: são de 6 a 9 metros, começando no esôfago, passando pelo estômago e pelo intestino e indo até o reto (os neurônios ficam numa espécie de “forro”, atrás das mucosas que processam os alimentos). Você já nasce com eles, mas o SNE aprende e evolui com o tempo – o que ajuda a explicar por que os bebês nascem com dificuldade para digerir qualquer coisa, até o leite materno.
Quando você coloca na boca aquela batatinha frita do boteco, provavelmente ignora a verdadeira alquimia que está prestes a ocorrer: ao final do processo, a batata será parte de você. Mágico, não? Mas, para que o feitiço ocorra, uma série de processos precisam estar sincronizados. Enquanto você mastiga a batata, o estômago começa a ser preparado para recebê-la. Assim que engole, os neurônios da barriga mandam liberar enzimas e sucos gástricos. São eles também que, algum tempo depois, decidem que a batata já foi suficientemente dissolvida pelo estômago, e pode seguir para o intestino (ou que, ao detectar comida estragada, fazem você vomitar). Ao mesmo tempo, outros neurônios mandam o intestino empurrar o bolo alimentar da refeição passada para abrir espaço. Quando sente que você já comeu o suficiente, o SNE manda o organismo parar de liberar grelina, hormônio que causa a fome. Algumas horas depois, ou no dia seguinte, ele avisa que é hora de ir ao banheiro. E só aí o seu cérebro reassume o comando.
Você pode perguntar: mas e daí? O sistema digestivo não está fazendo mais que a obrigação, certo? Certo. Só que ele vai além – e graças a uma força que nem humana é.
Você e elas
Desde que a ciência descobriu as bactérias (graças ao cientista holandês Antoine van Leeuvenhoek, em 1676), a humanidade sempre desprezou, odiou e temeu essas criaturas. Com alguma razão: podem causar infecções mortais. Mas o fato é que as bactérias nem sempre são nocivas. A maior parte é fundamental para o organismo – tanto que o corpo humano abriga uma enorme quantidade delas. Um homem de 1,70 m e 70 kg possui aproximadamente 30 trilhões de células humanas, segundo um estudo publicado este ano pelo Weizmann Institute of Science, de Israel. E 39 trilhões de bactérias. Ou seja: o seu corpo contém mais células não humanas do que humanas.
Essa população de micro-organismos é chamada de microbiota, e a esmagadora maioria dela vive no sistema digestivo, onde existem 300 espécies de bactéria. Elas moram lá porque, como você, precisam de energia para sobreviver: no caso, a comida que você come. As bactérias da sua barriga são benéficas, ajudam na digestão dos alimentos. Mas também podem provocar efeitos estranhos e surpreendentes. Isso foi demonstrado pela primeira vez em 2011, quando cientistas da Universidade Cork, na Irlanda, descobriram que bactérias da espécie Lactobacillus rhamnosus, encontradas em iogurtes, eram capazes de alterar o comportamento de ratos de laboratório. Os pesquisadores dividiram os ratinhos em dois grupos, alimentados com dois tipos de iogurte: um com essa bactéria e outro sem. Os camundongos que tomaram o iogurte turbinado tiveram o dobro de disposição para atravessar labirintos e nadar. Ratos de laboratório nadam por 4 minutos, em média, antes de desistir de lutar contra a água (eles simplesmente boiam depois disso). Os bichos que tomaram iogurte com L. rhamnosus nadaram 50% mais.
“Talvez, no futuro, os antidepressivos possam ser comprados no supermercado, na forma de iogurte”
Também ficaram mais relaxados, como se tivessem tomado um calmante. Um exame de sangue, feito depois, comprovou que eles tinham 50% menos corticosterona, uma substância ligada ao stress, e melhor distribuição do ácido gama-aminobutírico (GABA), um neurotransmissor que ajuda a conter a ansiedade. Ou seja: as bactérias do iogurte mexeram com o “segundo cérebro” dos ratinhos – que alterou os níveis de várias substâncias e, por sua vez, influenciou o cérebro principal. “A microbiota pode se comunicar com o cérebro”, explica o neurocientista brasileiro Gilliard Lach, do laboratório que fez o estudo. “Talvez, no futuro, os antidepressivos possam ser comprados no supermercado, na forma de iogurte”, acredita.
Para não deixar dúvida, os pesquisadores fizeram um último teste. Pegaram os ratinhos e cortaram seu nervo vago, que conecta o sistema digestivo com o cérebro (e também existe em humanos). E o iogurte turbinado deixou de fazer efeito. Ou seja: eram mesmo os neurônios da barriga, influenciados pelas bactérias, que estavam manipulando o comportamento dos ratinhos.
Em seres humanos, acontece a mesma coisa. Isso ficou provado em 2013, quando cientistas da Universidade da Califórnia recrutaram 36 voluntárias. Elas foram divididas em três grupos. O primeiro tomou iogurte com quatro tipos de bactéria (bifidobacterium, streptococcus, lactococcus e lactobacillus) ao longo de um mês. O segundo consumiu uma bebida que tinha gosto de iogurte, mas não continha essas bactérias. O terceiro não tomou nada – manteve a dieta de sempre. Os cérebros das mulheres foram analisados, em exames de ressonância magnética, antes e depois da experiência. O resultado foi claro. As bactérias modificaram várias regiões que processam sensações do corpo, emoções e até funções cognitivas. Caiu a atividade de regiões como a ínsula (responsável por processar certos estímulos do corpo, como fome) e o córtex somatossensorial (que processa o tato e outros sentidos). E aumentaram as conexões entre a substância cinzenta periaquedutal, que ajuda no controle da dor, e o córtex pré-frontal – a área racional do cérebro. Ou seja: alterações no sistema digestivo provocaram alterações no cérebro.
Os cientistas ainda estão tentando entender de que forma os neurônios ‘abdominais’ agem sobre o cérebro. Mas ficou provado que a barriga realmente pode mandar na cabeça – e, como qualquer pessoa que já teve dor de barriga porque ficou ansiosa sabe, também pode ser influenciada por ela. “É um caminho de duas mãos. Tanto o seu humor pode afetar o aparelho digestivo, quanto o seu aparelho digestivo pode afetar o humor”, diz o médico Carlos Francesconi, professor da UFRGS e especialista em neurogastroenterologia, área da medicina que estuda os neurônios do sistema digestivo. E esses processos são influenciados por bactérias. “Elas exercem um papel regulatório, como se fossem um órgão a mais”, diz Marcio Mancini, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da USP. Qualquer modificação nesse pool de inquilinos do seu corpo pode provocar um desequilíbrio – e estar na raiz de várias doenças.
Ansiedade, por exemplo. Pesquisadores da Universidade McMaster, no Canadá, descobriram que ratos com maiores níveis de bactérias lactobacillus e bifidobacterium no sistema digestivo são menos ansiosos. E o oposto também é verdadeiro. Os cientistas coletaram bactérias do intestino de um rato ansioso, e injetaram em um ratinho calmo. Os micro-organismos mataram a maior parte das bactérias “boas” – e, como consequência, o camundongo passou a ter comportamento ansioso e nervoso.
Em pessoas, também há indícios de que seja assim. No ano passado, um estudo da Universidade de Oxford avaliou 45 voluntários, divididos em dois grupos. O primeiro recebeu placebo. O outro, doses de um carboidrato chamado galactooligossacarídeo (GOS), naturalmente presente no leite materno e em alimentos como cebola, alho, banana, soja e chicória. Esse carboidrato é o alimento preferido das bactérias lactobacillus e bifidobacterium (as mesmas da pesquisa com ratos). A ideia era turbinar a população desses micro-organismos, e ver se fazia algum efeito sobre as pessoas. Os voluntários que ingeriram o tal carboidrato desenvolveram mais bactérias – e ficaram com níveis 50% mais baixos de cortisol, o hormônio do stress. Também se saíram melhor numa bateria de testes psicológicos, apresentando respostas mais otimistas e menos sinais de ansiedade.
Outros estudos já encontraram relação entre a falta de lactobacillus e doenças como depressão e anorexia. Esses micro-organismos ajudam a manter a camada de muco que protege o intestino. Quando eles não estão presentes, essa barreira fica mais fraca, e surgem pequenas inflamações no intestino – que são encontradas em 35% das pessoas deprimidas. Para tentar entender o porquê, os cientistas autores da descoberta injetaram lactobacilos em ratos. As bactérias protegeram o intestino e produziram efeitos semelhantes aos de remédios antidepressivos.
As bactérias do sistema digestivo também estão relacionadas ao sono.
As bactérias do sistema digestivo também estão relacionadas ao sono. Isso foi descoberto nos anos 1990, quando cientistas da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, deram antibióticos para ratos de laboratório durante uma semana. Previsivelmente, os níveis de bactérias despencaram. O surpreendente foi outra coisa: os ratinhos passaram a dormir menos e pior, passando menos tempo na chamada fase REM (movimento rápido dos olhos, em inglês), a fase em que o corpo mais descansa – e, também, em que o indivíduo sonha.
Há estudos mostrando que pessoas com autismo, Parkinson, Alzheimer e obesidade possuem uma seleção diferente de micro-organismos na barriga. Tanto que o transplante de fezes tem sido considerado como possível tratamento para o autismo. Dois pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Pasadena, na Califórnia, descobriram uma relação entre bactérias intestinais e autismo. Pelo menos em ratos. Eles criaram uma ninhada de ratinhos autistas (o que foi feito de um jeito meio cruel: infectaram uma rata grávida com um vírus que ataca os fetos). Depois, analisaram a população de micro-organismos no sistema digestivo deles. Descobriram que era bem diferente da encontrada em ratos normais.
Cientistas da Universidade Columbia e do Hospital Geral de Massachusetts já haviam observado que pessoas autistas costumam ter déficit de um tipo de bactérias, as bacteroides. Também costumam apresentar problemas gastrointestinais.
Se existe mesmo essa relação entre bactérias e autismo, pode haver um tratamento em comum que mire os dois alvos. Os pesquisadores de Pasadena decidiram alimentar os ratinhos autistas com bacteroides. Resultado: os animais pararam de fazer os movimentos repetitivos típicos do autismo severo, e ficaram mais sociáveis e abertos a interações com outros ratos. Ainda é cedo para saber se bactérias – no caso, a falta delas – são as culpadas pelo autismo. Mas, se a hipótese se confirmar, o tratamento desse transtorno pode passar também por um prosaico pote de iogurte.
Em todos esses casos, é preciso fazer mais estudos. “Não se sabe ainda se estamos diante do ovo ou da galinha”, explica Dan Waitzberg, professor de medicina da USP e especialista em aparelho digestivo. Quer dizer: a diferença na população de bactérias pode tanto ser a causa quanto mera consequência dessas doenças. Mas o sistema digestivo, e os bichinhos que moram nele, têm uma conexão nítida com os dois grandes males do mundo moderno: a obesidade e o câncer.
Guerra e paz
A medicina tem feito progresso na luta contra o câncer. Mas vários dos remédios mais modernos estão envoltos em um enigma: funcionam em certas pessoas, mas em outras não produzem o menor efeito. E ninguém sabe o porquê. Uma das respostas pode estar no tipo de bactérias que habitam a barriga de cada pessoa.
O francês Mathias Camaillard e sua equipe da Universidade de Ille, na França, descobriram, após fazer testes em ratos, que uma droga usada no tratamento do melanoma (o câncer de pele mais agressivo) não funciona na ausência das bacteroidales. Os cientistas descobriram isso ao examinar ratinhos tratados com o remédio, que se chama ipilimunab e faz o sistema imunológico atacar o câncer. Ele é usado em casos graves, quando o melanoma já se espalhou pelo corpo, e pode prolongar a vida dos pacientes em cinco anos. Para saber se as bactérias eram mesmo decisivas, a turma de Camaillard fez um novo (e meio nojento) teste: coletou fezes de 25 pacientes humanos, todos portadores de câncer, e injetou no intestino dos ratinhos. Ou seja, transplantou as bactérias dos humanos para os camundongos. Adivinhe só: nos ratos que receberam bacteroidales, o remédio anticâncer começou a fazer efeito, como que por milagre. Não era milagre, claro, mas os cientistas ainda não sabem explicar o resultado. Eles suspeitam que as bactérias ajudem a “acordar” o sistema imune, turbinando o efeito da medicação. No futuro, a ideia é que pacientes com melanoma avançado tenham suas fezes analisadas antes de começar o tratamento. Se o teste apontar que eles carregam poucas bacteroidales no organismo, poderão recebê-las via transplante de fezes.
Em 2009, um estudo liderado pelo médico americano Jeffrey Gordon, da Universidade Washington, em St. Louis, começou a desvendar a relação entre bactérias e obesidade. Ele analisou o sistema digestivo de um grupo de gêmeas com uma característica bem peculiar: em todos os casos, uma irmã era obesa e a outra não. Depois de analisar as bactérias intestinais das 154 voluntárias, os pesquisadores concluíram que as irmãs obesas tinham flora intestinal menos diversa e com menos bacteroidetes. Um resultado instigante, mas ainda restava uma dúvida: essa diferença na quantidade de bactérias era a causa da obesidade, ou o efeito dela?
O grupo decidiu, então, buscar a resposta em experimentos com ratos. Ficou quatro anos fazendo uma experiência que se mostraria revolucionária. Os cientistas pegaram ratinhos recém-nascidos e estéreis, ainda sem nenhum micro-organismo intestinal, e injetaram neles bactérias tiradas de intestinos humanos. Metade dos ratinhos recebeu bactérias “gordas”, ou seja, que haviam sido coletadas nas gêmeas obesas. A outra metade ganhou bactérias “magras”, extraídas do intestino das gêmeas magras.
Todos os ratos comeram a mesma ração, na mesma quantidade. Adivinhe só o desfecho: os bichos que receberam bactérias “gordas” ficaram gordos. E aqueles que receberam bactérias “magras” ficaram magros.
Mais tarde, a equipe repetiu o experimento, mas, dessa vez, uniu os dois grupos de ratos num mesmo espaço. Assim, os animais se contaminaram uns com as bactérias dos outros (pois os ratos têm o lindo hábito de comer fezes). Com o compartilhamento de bactérias, os dois grupos de ratos ficaram magros. Os cientistas também transplantaram bactérias dos ratos magros para os obesos – que ficaram magros. Em suma: os cientistas provaram, de várias formas diferentes, que as bactérias intestinais podem causar, ou prevenir, a obesidade. Em ratos, pelo menos. Não se sabe exatamente o porquê, mas os cientistas acreditam que tenha a ver com as calorias (certos tipos de bactéria turbinam a digestão, permitindo extrair mais energia dos mesmos alimentos).
Um ponto importante: os ratos gordos só emagreciam se recebessem 54 tipos de bactérias do outro grupo. Os cientistas também tentaram transferir menos espécies, apenas 39 tipos, e não deu certo – os ratos continuaram gordos. Isso significa que a chave está na diversidade de bactérias dentro do corpo. Mas a vida moderna está acabando com elas.
Nova cura, nova doença
De 5% a 10% da população mundial tem úlcera gástrica, um ferimento na parede do estômago que nunca cicatriza completamente, causa dores fortes e, em casos graves, pode matar. É uma doença crônica e incurável, cujo tratamento sempre consistiu em tomar Antak (cloridrato de ranitidina): um remédio paliativo, que reduz a produção de suco gástrico – e, com isso, as dores – e se tornou o medicamento mais vendido do mundo na década de 1980.
Até que um dia um médico desconhecido, que se chamava Barry Marshall e trabalhava num hospital da Austrália, apareceu com uma ideia: a úlcera, na verdade, era causada pela proliferação excessiva da Helicobacter pylori, que ele havia encontrado no estômago de pacientes com úlcera. Ninguém levou a sério, e Barry não podia fazer estudos em seres humanos (pois isso significaria condená-los a uma vida de dores). Desesperado, ele fez o impensável: infectou a si mesmo com a tal bactéria. Como seria de se esperar, desenvolveu úlcera – que então curou, em uma semana, com um antibiótico. Barry havia descoberto a cura, simples e definitiva, para uma doença que afetava dezenas de milhões de pessoas. Um conto de fadas da medicina moderna.
Mas essa vitória também teve um lado ruim. Estudos mais recentes sugerem que a H. pylori também desempenha um papel importantíssimo para o organismo: controla a produção de grelina, o hormônio que controla a sensação de fome. Foi isso o que descobriu o médico Martin Blaser, da Universidade de Nova York. “Eu tenho acumulado mais e mais evidências de que o desaparecimento desse micróbio (a H. pylori) pode estar contribuindo para epidemias atuais”, escreve no livro Missing Microbes: How the Overuse of Antibiotics Is Fueling Our Modern Plagues (“Micróbios sumidos: como o uso excessivo de antibióticos está alimentando as pragas modernas”, ainda sem versão em português). Ele descobriu que a H.pylori, que até os anos 1980 era comum no estômago dos americanos, hoje se tornou rara. E é isso que pode estar fazendo as pessoas comerem mais e engordarem – porque, sem essa bactéria, o sistema digestivo não dá o sinal para a pessoa fechar a boca.
Para o pesquisador, a relação da humanidade com os antibióticos é similar ao de outras invenções revolucionárias, como o motor à combustão. Começou ótimo, revolucionou o mundo, mas acabou produzindo grandes efeitos colaterais (como o efeito estufa, a poluição das grandes cidades e as guerras por petróleo). Os antibióticos podem seguir pelo mesmo caminho. Embora sejam fundamentais para controlar infecções, podem estar ajudando a criar novos problemas. “A perda da diversidade da microbiota nos nossos corpos está cobrando um preço terrível. E será pior no futuro”, escreve Blaser.
Nem todo mundo é tão pessimista. Há quem acredite que, entendendo a importância das bactérias, aprenderemos a conviver com elas de outra forma e controlá-las usando menos remédios. “Em 20 ou 30 anos, vamos ter um chip implantado no corpo que será lido pelo computador do médico. Ele vai poder analisar o perfil do indivíduo e receitar uma alimentação personalizada para tratar determinadas doenças”, projeta Dan Waitzberg, da USP. O jogo da humanidade contra as bactérias pode, no máximo, terminar empatado. Não devemos ceder, mas também não podemos querer exterminá-las. Afinal, elas são parte de nós. A maior parte.
Fonte:https://super.abril.com.br/saude/seu-segundo-cerebro/
Por que o intestino é considerado nosso '2º cérebro’ e outros 5 fatos surpreendentes sobre o órgão
Os médicos acreditam cada vez mais que a função do nosso sistema digestivo vai muito além de processar a comida que ingerimos. Nesta reportagem, apresentamos 7 dados sobre o intestino que explicam por que sua saúde é chave para o bem estar geral do corpo
Por que o intestino é considerado nosso '2º cérebro’ e outros 5 fatos surpreendentes sobre o órgão
Por BBC
Os médicos acreditam cada vez mais que a função do nosso sistema digestivo vai muito além de processar a comida que ingerimos. Nesta reportagem, apresentamos 7 dados sobre o intestino que explicam por que sua saúde é chave para o bem estar geral do corpo
Ele tem mais neurônios que a espinha dorsal e age independentemente do sistema nervoso central.
Do que estamos falando?
Certamente, o intestino não foi a primeira opção em que você pensou ao analisar a pergunta, mas trata-se dele - e é justamente por isso que muitos o consideram de "o segundo cérebro" do corpo.
Esse cérebro "independente" em nossas entranhas e sua complexa comunidade microbiana influem no nosso bem-estar geral.
Assim, os médicos acreditam cada vez mais que a função do nosso sistema digestivo vai muito além de simplesmente processar a comida que ingerimos. E mais, eles estão investigando se ele poderia ser usado para o tratamento de doenças mentais ou do sistema imunológico.
A BBC conversou com a doutora Megan Rossi, especialista australiana em saúde intestinal, para descobrir por que devemos prestar mais atenção às nossas barrigas. Aqui, apresentamos alguns fatos surpreendentes sobre o nosso "segundo cérebro":
1. Um sistema nervoso autônomo
"Diferente de qualquer outro órgão do corpo, nosso intestino pode funcionar sozinho. Tem sua própria autonomia para tomar decisões, não precisa que o cérebro lhe diga o que fazer", explica a doutora Rossi.
O que "governa" o intestino é o chamado sistema nervoso entérico (SNE), que é uma "sucursal" do sistema nervoso autônomo do corpo - o responsável por controlar diretamente o sistema digestivo.
Esse sistema nervoso se estende pelo tecido que reveste o estômago e o sistema digestivo, e possui seus próprios circuitos neurais.
Embora funcione de forma independente, ele se comunica com o Sistema Nervoso Central (SNC) através dos sistemas simpático e parassimpático.
2. 70% das células do nosso sistema imunológico vivem no intestino
Segundo Rossi, isso torna a saúde do nosso intestino a chave para nossa imunidade às doenças.
A especialista diz que as pesquisas mais recentes indicam que, se você tem problemas intestinais, é mais provável que seja mais vulnerável a doenças comuns, como uma gripe, por exemplo.
3. 50% das fezes são bactérias
Não são apenas restos de comida: aproximadamente metade de nossas fezes é formada por bactérias.
Muitas dessas bactérias são boas, e por isso os transplantes de fezes podem ser uma forma de tratamento vital para alguns pacientes com um microbioma intestinal debilitado.
Por outro lado, ainda falando em fezes, a BBC perguntou a Rossi com que frequência é normal ir ao banheiro.
A especialista respondeu que, segundo pesquisas, é considerado normal defecar de 3 vezes ao dia até 3 vezes por semana.
4. Quanto mais diversificada a dieta, mais diversificado é o microbioma
Em nosso intestino vivem trilhões de micróbios, que gostam de diferentes alimentos.
Esses micróbios são fundamentais para a digestão porque sua atividade permite que nosso corpo absorva certos nutrientes dos alimentos.
"Eu gosto de dizer que os micróbios são como os nossos bichinhos de estimação internos, então, você deve cuidar deles e alimentá-los", diz a especialista.
Diferentes micróbios prosperam com diferentes alimentos e, por isso, o microbioma intestinal melhora com uma dieta diversificada.
Um microbioma rico e variado está associado a uma maior saúde intestinal, segundo Rossi, e, por consequência, a um bem estar geral maior.
Por outro lado, as pessoas que sempre comem as mesmas coisas têm um microbioma mais pobre.
5. Seu intestino está ligado aos seus níveis de estresse e ao seu estado de ânimo
Se você tem problemas intestinais, segundo Rossi, "algo fundamental que precisa fazer é obsevar a quanto estresse você está submetido".
"Na minha prática clínica eu sempre digo aos pacientes que façam 15 ou 20 minutos por dia de meditação. Depois de fazer isso todos os dias durante quatro semanas, e transformar em hábito, vejo que apenas com isso os sintomas já melhoram."
Então, "desestressar é muito, muito importante", diz a especialista.
Também é interessante pensar que a maior parte da serotonina do corpo, estima-se que uma proporção de 80% a 90%, é encontrada no trato gastrointestinal.
A serotonina é um neurotransmissor que afeta muitas funções corporais, como o peristaltismo intestinal - o movimento involuntário que o intestino faz para empurrar o bolo alimentar e permitir que a digestão aconteça no lugar certo.
Ela também está associada a muitos transtornos psiquiátricos. Sua concentração pode ser reduzida pelo estresse e influencia o humor, a ansiedade e a felicidade.
Vários estudos com seres humanos e animais têm mostrado evidências sobre diferenças encontradas no microbioma intestinal de pacientes com transtornos mentais, como a depressão.
Por isso, uma área incipiente de investigação psiquiátrica tem a ver com a prescrição de "psicobióticos": em essência, um coquetel probiótico de bactérias saudáveis, para melhorar a saúde mental.
6. Se você teme os efeitos de algum alimento e o consome... cuidado
É verdade que há alguns intestinos mais sensíveis do que outros, mas, de acordo com a dra. Rossi, pesquisas recentes surpreendentes sugerem que, se você tem medo de um determinado alimento e o come, pode desenvolver sintomas fisicamente.
"Na clínica, vejo constantemente como as crenças podem desencadear problemas intestinais."
Há muitas pessoas que acreditam, às vezes por causa de uma moda passageira, que o glúten ou a lactose irão prejudicá-las, sem que tenham realmente uma alergia ou intolerância.
7. Você pode melhorar sua saúde digestiva e o seu microbioma intestinal
Veja abaixo, de acordo com Megan Rossi, alguns caminhos possíveis para melhorar sua saúde intestinal:
- Siga uma dieta diversificada para diversificar o microbioma intestinal;
- Reduza o nível de estresse, fazendo meditação, relaxamento, mindfulness (atenção plena) ou ioga;
- Se você já tem sintomas de algum problema intestinal, é melhor evitar álcool, cafeína e comidas apimentadas - eles podem agravá-lo;
- Tente dormir melhor: um estudo mostrou que, se você muda ou interrompe o relógio biológico alterando seus padrões de sono, também prejudica seu intestino.
Fonte:https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/09/27/por-que-o-intestino-e-considerado-nosso-2o-cerebro-e-outros-5-fatos-surpreendentes-sobre-o-orgao.ghtml
O segundo cérebro
Por: Tabita Said em 6 de fevereiro de 2018
Estudo publicado em 2016 por pesquisadores brasileiros revelou que neurônios que habitam o intestino são os responsáveis por ativar células de defesa em caso de “perigo”. O perigo pode ser causado por bactérias que entram no organismo acompanhadas por algum alimento. Em seu doutorado na USP, Ilana Gabanyi – atualmente pós-doutorando do Instituto Pasteur em Paris – descobriu junto de Frederico Costa-Pinto, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, que neurônios mais próximos do interior do tubo digestivo “alertam” os macrófagos sobre a presença de algum micro-organismo causador de doença. Para explicar essa comunicação, os cientistas contam como funciona a digestão e sua interação com o sistema imune.
Macrófagos
Estas células do sistema imunológico, conhecidas como macrófagos, desempenham diferentes papéis de monitoramento e reparação em todo o corpo. Costa-Pinto, um dos autores do estudo, lembra que uma das funções mais primitivas de defesa do organismo é englobar – ou, em linguagem científica, fagocitar – um eventual agente infeccioso. “Há uma relação muito antiga entre células de defesa e sistema nervoso”, diz. Com essa informação em mente, o veterinário de formação procurou entender melhor o papel do macrófago em uma das mais prestigiadas universidades na área biomédica, a Rockefeller. Lá, convidado pelo colega, também brasileiro, Daniel Mucida, ele e sua então aluna de doutorado, Ilana Gabanyi gastaram horas nos modernos microscópios que permitiam visualizar a movimentação das células em camundongos vivos.
A observação rendeu duas descrições diferentes da função dos macrófagos no chamado sistema nervoso entérico – as redes de neurônios que integram o sistema digestivo. Os macrófagos da camada mais próxima do lúmen, onde estão as bactérias, atuavam promovendo inflamação. Um padrão já esperado. Já os macrófagos que compõem a camada chamada de muscularis, região mais distante do lúmen, expressavam genes anti-inflamatórios quando estimulados pelos neurônios do sistema nervoso simpático.
“A mensagem que esses neurônios passam faz com que os macrófagos se tornem mais ativos na proteção do tecido intestinal”, ressalta Ilana.
A “mensagem” é, na verdade, um neurotransmissor conhecido como noradrenalina, que os neurônios liberam quando detectam bactérias potencialmente patogênicas. Nos experimentos, os pesquisadores utilizaram um tipo de salmonella atenuada, que não chegava a causar lesões no intestino. Apesar de menos agressiva, a presença da bactéria foi suficiente para ativar a proteção.
Intestino: lugar de neurônio?
O intestino agrega a maior coleção de neurônios fora do cérebro. São eles os responsáveis pelas funções autônomas do sistema digestivo. Porém, não é qualquer neurônio que participa da conversação com os macrófagos. O artigo identificou que os responsáveis por essa comunicação são grupos de neurônios do sistema nervoso simpático (SNS). O SNS é famoso por desencadear respostas a situações de estresse, como a reação de ficar ou fugir.
Mas a despeito de suas origens, é no intestino que esses neurônios habitam, convivendo com outras células abundantes por lá: as células do sistema imune. Para Costa-Pinto, a interação neuroimune encontrada no órgão é uma espécie de sistema sensorial de alterações que causem prejuízos ao intestino.
O artigo “Neuro-immune Interactions Drive Tissue Programming in Intestinal Macrophages” foi publicado na revista científica Cell.
Fonte:http://ciencia.usp.br/index.php/2018/02/06/o-segundo-cerebro/
O intestino é o nosso segundo cérebro
O intestino faz parte do Sistema Digestório (ou Digestivo). A função deste sistema é simplificar os alimentos para facilitar a absorção pelo organismo. O órgão é dividido em intestino delgado e intestino grosso. O delgado absorve a maioria dos nutrientes, enquanto o grosso absorve água, o que confere firmeza às fezes. O intestino delgado mede aproximadamente 6 metros de comprimento por 4 centímetros de diâmetro. Ele possui três subdivisões:
- Duodeno: região próxima ao estômago, mede cerca de 25 centímetros e tem formato de “C”. O duodeno recebe os alimentos que não foram totalmente digeridos pelo estômago. Nesta fase, a comida se une à bile, fluído produzido pelo fígado responsável pela digestão de gorduras e retenção de nutrientes.
- Jejuno: localizado na parte central do intestino delgado, mede 2,5 metros. É a região onde ocorre a maior absorção de nutrientes.
- Íleo: mede 3,5 metros e dá continuação à absorção dos nutrientes, principalmente vitamina B12.
O intestino grosso é semelhante a uma ferradura, pois é aberto para baixo. Ele mede aproximadamente 6,5 centímetros de diâmetro e 1,5 metros de comprimento. A absorção de água é tão rápida, que em apenas 14 horas os alimentos ganham forma de bolo fecal. Falhas nesse processo são causadas por viroses e alimentos estragados e provocam diarreia. O intestino grosso também absorve nutrientes não assimilados pelo intestino delgado. Possui três subdivisões:
- Ceco: é uma espécie de saco, com aproximadamente 5 centímetros. O ceco é o caminho percorrido pelos resíduos alimentares (já como bolo fecal) para chegar ao cólon.
- Cólon: a maior parte do intestino grosso, atravessa todo o abdômen. É formado pelo cólon ascendente, transverso, descendente e cólon sigmóide, que é em forma de “S”. O cólon é responsável por reter nutrientes e eliminar resíduos alimentares, toxinas e venenos.
- Reto: a parte final do intestino grosso mede 15 centímetros e tem final no canal anal. A função do reto é absorver fezes, antes da eliminação pelo ânus.
A importância do intestino
O intestino é muito importante para o corpo humano. Além de armazenar nutrientes e água, ele possui enorme relevância para a imunidade.
Aproximadamente 60% das células que protegem o organismo estão no intestino. O órgão ainda conta com 500 espécies de bactérias e 100 trilhões de micro-organismos. Esse time do bem forma a flora intestinal. Quando ela tem mais bactérias nocivas do que benéficas surgem doenças relacionadas à saúde intestinal. Beber líquidos durante a alimentação, mastigação incorreta, uso constante e sem orientação médica de anti-inflamatórios e antibióticos prejudicam a saúde do intestino e causam prisão de ventre, dentre outras doenças:
- Doença do intestino irritável: doença crônica, cujos sintomas variam entre prisão de ventre e diarreia. A doença ocorre devido alterações nas contrações do intestino (rápidas ou lentas demais). Inchaço e dor abdominal, gases e muco nas fezes são alguns dos sintomas. A doença pode ser controlada evitando alimentos gordurosos, cafeína, glúten e bebidas com gás. Medicamentos são prescritos nos casos mais graves.
- Hemorroida: quando a pressão das veias do ânus aumenta, elas inflamam, incham e doem. As hemorroidas podem estar dentro do reto ou do ânus e serem internas ou externas. O problema é provocado pela diarreia crônica ou prisão de ventre. Alimentação pobre em fibras e ficar sentado por muito tempo também contribui para o surgimento das hemorroidas.
- Apendicite: doença comum do sistema digestivo. É causada pela obstrução por gordura e fezes, infecção gastrointestinal e alimentos grudados na cavidade do apêndice, pequena bolsa presa no começo do intestino grosso. Perda de apetite, febre baixa e náuseas são os principais sintomas. A apendicite exige cirurgia para remover o apêndice. Se não for tratada a tempo, a inflamação se espalha e pode levar o indivíduo à morte.
- Doença de Crhon: mistério até para os médicos, a Doença de Crohn não tem cura. Geralmente ataca o íleo (intestino delgado) e o cólon (intestinogrosso) Na fase leve e moderada causa diarreia frequente e dor abdominal. No estágio moderado e grave o paciente tem náuseas e vômitos, febre e anemia. Na fase fulminante ocorre obstrução intestinal. Problemas de pele e artrite são sintomas associados à doença. Cirurgia é indicada em casos severos.
- Câncer: a doença pode atingir os intestinos e seus componentes. O câncer de intestino não costuma apresentar sintomas e quando se manifesta o tumor está grande. Alterações intestinais como diarreia, sangue nas fezes e emagrecimento sem razão aparente são sinais que podem indicar tumores. Segundo a médica Angelita Habr Gama médica, especialista em coloproctologia e gastrenterologia, é comum pessoas que apresentam sangue nas fezes receberem o diagnóstico de hemorroidas, sem serem submetidos ao exame de toque retal. Angelita aconselha a solicitar o exame e caso o médico se recusar, procure outro profissional.
Intestino, o segundo cérebro
Armazenar nutrientes, água e atuar no sistema imunológico, esses três fatores já fazem do intestino um órgão importantíssimo para o corpo humano. Mas você sabia que o bom funcionamento do intestino também está associado às emoções? Os médicos chamam o intestino de “o segundo cérebro”. Se as razões fisiológicas já são suficientes para ter bons hábitos, nós vamos contar como o emocional age sobre a saúde intestinal.
O intestino controla as emoções, estado mental e nossas preferências alimentares. A saúde do deste órgão determina o bem-estar do cérebro. Sabe o que o frio na barriga durante o medo, o enjoo quando estamos assustados e a sensação de “borboletas no estômago” comum aos apaixonados têm em comum? São sintomas causados pela conexão entre os transmissores do intestino e do cérebro. Aliás, você sabia que o intestino é um sistema nervoso? Ele possui a impressionante quantia de 100 milhões de neurônios. Ficou impressionado? Você ficará ainda mais surpreso com o poder do intestino.
Em nossos artigos já falamos muito sobre serotonina. O intestino produz e armazena 98% do neurotransmissor responsável pelo bom humor e memória. O órgão ainda fabrica mais de 30 neurotransmissores. A serotonina processa e transmite informações e estímulos sensoriais por intermédio dos neurônios. Quando há queda no nível do neurotransmissor a saúde física, mental e as emoções ficam comprometidas.
Relação cérebro e doenças intestinais
A conexão entre intestino e cérebro comprova a relação entre doenças intestinais e emoções. Segundo a Universidade de Boston (Estados Unidos), 90% dos portadores da doença do intestino irritável apresentam problemas emocionais. As mulheres, muito atingidas pelas doenças intestinais, escondem suas queixas por vergonha. Estima-se que 75% das brasileiras não mencionem o mau funcionamento do intestino. Esse preconceito agrava a saúde física e mental, mas o que fazer para o bom funcionamento intestinal? Vamos listar uma série de medidas alimentares:
O que evitar?
Álcool
Ainda não é clara a ligação entre bebida alcoólica e câncer de intestino.Entretanto, é sabido que três latas de cerveja de 350 ml, três taças de vinho de 150 ml ou três doses de uísque diariamente potencializam o risco de pessoas propensas à doença, indivíduos com histórico familiar, idade avançada, sedentarismo e maus hábitos alimentares.
Sobrepeso
Gordura abdominal e obesidade aumentam o risco de câncer de cólon e reto, segundo pesquisa publicada no American Journal of Epidemiology. Cientistas da Maastricht University (Holanda) avaliaram 120 mil homens entre 55 e 69 anos com sobrepeso ou no início de obesidade. Ao término da pesquisa, 25% dos participantes apresentaram-se mais propensos ao câncer colorretal. Quem possuía circunferência abdominal maior tinha 63% mais chance de ter esse câncer.
Carne vermelha
Consumir carne vermelha em excesso, bem como enlatados, embutidos e defumados faz o organismo produzir metabólitos, substâncias que modificam as células do intestino grosso. Para pessoas no grupo de risco, o aconselhável é comer 200 gramas de carne vermelha a cada 7 dias (uma ou duas vezes por semana). Os outros alimentos são proibidos.
Fumo
Tabagistas apresentam 18% mais chances de desenvolverem câncer de intestino. As toxinas do cigarro promovem alterações genéticas em todo o corpo, situação que propicia o surgimento de tumores cancerígenos.
O que incorporar à dieta?
Produtos funcionais
A regulamentação deles saiu no Brasil em 1999. Além de nutrir, os produtos funcionais têm substâncias que melhoram a saúde e diminuem a incidência de doenças. Contudo, eles não são substitutos de frutas, legumes e verduras. Os benefícios dos produtos funcionais dependem de hábitos saudáveis.
Esses alimentos melhoram a saúde intestinal, combatem radicais livres e dificultam o armazenamento de gorduras. Pessoas com prisão de ventre, com colesterol alto e muito estressadas são o público alvo.
Exemplos de alimentos funcionais
Fibras – Grãos integrais, frutas, legumes e verduras
Aumentam o bolo fecal, o que facilita o bom funcionamento do intestino. As fibras reduzem o tempo de contato da mucosa intestinal com toxinas. Confira alguns alimentos indicados:
- Pão integral, linhaça, quinoa, amaranto e chia
- Ameixa, mamão, kiwi, amora e figo
- Alface, rúcula, couve, agrião e abobrinha
Probióticos – Iogurte
Bactérias que impedem o crescimento de micro-organismos prejudiciais. Os probióticos promovem a produção de células de defesa.
Prebióticos – Bebida à base de soja e pão
Substâncias que fornecem alimento à flora intestinal
Fitoesterois – Iogurte e margarina
Diminuem a absorção de gorduras
Betaglucana – Aveia e cevada
Substância que reduz a absorção de colesterol
Manitol, Xilitol e Sorbitol – Goma de mascar sem açúcar
Destroem os ácidos que estragam os dentes, porém, a goma não substitui a escovação após as refeições
Licopeno, Luteína e Zeaxantina – Suplementos em pílula
Esses antioxidantes removem substâncias que envelhecem as células
Exercícios físicos
Atividade física diminui em 24% a possibilidade de câncer de intestino.
Fazer 30 minutos de exercícios por dia cinco vezes por semana melhora o funcionamento do intestino, controla o peso e reduz o estresse, alguns dos fatores de risco para doenças intestinais. Caminhada é um ótimo começo para sair do sedentarismo.
Exames periódicos
Prevenir é sempre o melhor remédio. Submeter-se a uma colonoscopia a cada dez anos, a partir dos 50 anos reduz a incidência de câncer colorretal em até 40%. Pessoas com histórico familiar ou outros fatores de risco devem fazer o exame a partir dos 40 anos. A colonoscopia investiga diarreias, dores abdominais, hemorragias anais, dentre outras alterações intestinais.
Biofeedback anorretal
O procedimento é uma fisioterapia na qual o paciente aprende a fazer movimentos corretos durante a evacuação. O biofeedback melhora a musculatura anal e também a sensibilidade da região anorretal. É indicado nos seguintes casos:
- Incontinência anal em pacientes sem necessidade de cirurgia
- Pós-operatório de pacientes após cirurgia para solução da incontinência anal
- Dor retal crônica
Como é feito?
Com o paciente deitado, uma sonda fina é colocada no canal anal. O biofeedback é um procedimento indolor.
Preparação
- Mulheres não podem fazer o exame no período menstrual
- Não precisa fazer jejum em muitos casos
- Não precisa interromper uso de medicamentos
- Lavagem retal na noite anterior ou duas horas antes do procedimento
E você pensando que o intestino era apenas o órgão que fazia você ir ao banheiro…
Ele é mais importante do que você imagina. Além de armazenar água e nutrientes, o intestino produz grande quantidade de neurotransmissores. Eles se comunicam com o cérebro e causam o famoso frio na barriga, comum quando estamos com medo. Doenças intestinais como a prisão de ventre, doença do intestino irritável e várias outras têm origem em problemas emocionais.
A conexão entre intestino e cérebro prova que o corpo humano é uma engrenagem ou uma sinfonia.
Quando tudo está em harmonia, a máquina ou a música é executada com maestria. Entretanto, basta algo não funcionar para o corpo sofrer. Precisamos olhar para o corpo como um templo. Os religiosos dedicam zelo extremo ao cuidar do ambiente. Vamos ter esse mesmo cuidado com nosso corpo? Check up, alimentação balanceada, atividade física, parar de fumar e evitar bebidas alcoólicas são as chaves para o bom funcionamento do intestino. Abrir mão de coisas gostosas não é fácil, mas difícil mesmo é conviver com os sintomas de uma doença e enfrentar o tratamento, que muitas vezes inclui intervenção cirúrgica.
Cuidar do corpo, entender e tratar as emoções garantem vida saudável. É simples e não há quem não saiba disso. Então, por que tanta gente insiste em hábitos destrutivos? Pior que mudar tardiamente é nunca mudar, portanto, arregace as mangas e viva de verdade, afinal, mente sã, corpo são.
Texto escrito por Sumaia Santana da Equipe Eu Sem Fronteiras.
Fonte:https://www.eusemfronteiras.com.br/o-intestino-e-o-nosso-segundo-cerebro/
INTESTINO “Nosso Segundo Cérebro”
Por Karen Young
Existe algo extraordinário escondido nas paredes do nosso sistema digestivo. Cientistas já sabem disso há algum tempo, mas novas tecnologias estão levando as pesquisas ao topo.
O que foi descoberto irá revolucionar a forma que pensamos sobre a nossa saúde física e mental.
O que acontece na nossa cabeça tem muito a ver com o que acontece mais ao sul, onde cientistas carinhosamente apelidaram de “o cérebro no intestino”. Há uma forte conexão com o cérebro na nossa cabeça, e juntos, são peças fundamentais no nosso humor e saúde mental.
O cérebro em nosso intestino, ou o segundo cérebro, como é chamado, é formado por algo em torno de 200 a 600 milhões de neurônios, localizados no tecido do trato gastrointestinal.
Com toda essa potência, não é surpresa que o intestino faça muito mais do que apenas lidar com a comida e outras coisas no corpo humano.
Tem um papel fundamental no funcionamento mental e emocional, enviando informações diretamente para o cérebro e influenciando sentimentos de stress, ansiedade e tristeza, assim como memória, tomada de decisões e aprendizado.
O cérebro em nosso intestino não é capaz de pensar como estamos acostumados, mas se comunica com o nosso cérebro principal, sendo fundamental para nosso bem-estar emocional e mental.
Mente triste, barriga triste. O que vem primeiro?
Não é novidade que ansiedade, stress e depressão normalmente trazem ‘barrigas tristes’ com eles, com constipação, diarreia, inchaço e dor.
Por décadas, médicos acharam que stress, ansiedade e depressão eram a causa, mas agora parece que é o contrário. Irritações no sistema gastrointestinal mandam sinais para o cérebro que ativam mudanças de humor. Sabemos que probióticos aliviam os sintomas de ansiedade e depressão, e esse pode ser o motivo.
O intestino não é apenas importante para a saúde física, mas também é fundamental para a saúde mental. O que é fascinante é a direção da influência. O nervo mais longo saindo do cérebro é chamado de vago (na verdade é um par de doze que saem do cérebro).
Ele vai até a barriga e encosta no coração e na maior parte dos órgãos ao longo do caminho. Aqui está a parte interessante: cerca de 90% das fibras do vago carregam informações de órgãos internos no tórax (como o coração) e do abdômen até o cérebro, e não o contrário.
Nossa linguagem evidencia isso – nós estamos falando muito antes de conhecermos. Se você já foi direcionado pelo seu instinto para tomar uma decisão, ou ouviu seu coração, é provável que tenha percebidos sinais do seu segundo cérebro.
O papel das bactérias intestinais
Além de neurônios, temos outro destaque no conexão barriga-cérebro – as 100 trilhões de bactérias que vivem no trato gastrointestinal. De acordo com o professor de fisiologia, psiquiatria e ciências comportamentais Emeran Mayer, da UCLA, essas bactérias contêm sabedoria que é enviada ao cérebro.
Elas afetam nosso comportamento a todo minuto durante todos os dias desde que nascemos, e provavelmente até antes.
Um estudo fascinante: da extroversão para introversão através do intestino
A pesquisa do professor Mayer mostrou como combinações específicas de bactérias podem influenciar a rede neural do cérebro e assim afetar o temperamento, humor e aprendizado.
Outros pesquisadores também exploraram a possível conexão entre essas bactérias e comportamento, e assim fizeram descobertas interessantes.
Em um estudo, quando as bactérias de ratos tímidos foram transferidas para ratos extrovertidos, os extrovertidos se tornaram mais ansiosos. Também deu certo no sentido contrário: quando os ratos tímidos receberam as bactérias dos extrovertidos, os ratos tímidos se tornaram mais atrevidos e extrovertidos.
Ratos agressivos se acalmaram quando cientistas ajustaram suas bactérias dando antibióticos e probióticos para eles.
Outro estudo: a relação entre bactérias e temperamento
Uma pesquisa encontrou correlações entre temperamento e a presença de uma bactéria intestinal específica em crianças, particularmente meninos. A conexão foi independente do histórico de amamentação, dieta e método do parto. O que foi descoberto:
– Crianças com a maior diversidade genética de bactérias gastrointestinais eram mais positivas, curiosas, sociáveis e impulsivas.
– Nos meninos, extroversão foi associada com a abundância de um tipo específica de bactéria (famílias Rikenellaceae e Ruminococcaceae e gênero Dialister e Parabacteroides).
– Nas meninas, auto controle, carinho e foco foram associados a uma menor variedade de bactérias.
– Meninas com grande quantidade de uma família de bactérias espefícia (Rikenellaceae) aparentaram ser mais medrosas do que as meninas com uma diversidade equilibrada na microbiota.
Essa pesquisa ainda é recente, então não ainda não é certo o que seria uma barriga ideal em termos de equilíbrio das bactérias gastrointestinais, ou quais fatores seriam influência. É possível que o equilíbrio perfeito varie de pessoa para pessoa.
O intestino e a depressão
A depressão é amplamente atribuída a uma diminuição na serotonina, um neurotransmissor que é responsável pelo humor. O que é impressiona é que apenas 5% da serotonina do corpo é armazenada no cérebro. Os outros 95% são armazenados no intestino.
Não é surpresa então que a grande maioria de antidepressivos que atuam nos níveis de serotonina usualmente causam desconforto gastrointestinal.
Também não é surpresa que o intestino esteja mais ligado à depressão do que a gente imagina. Pesquisas continuam sendo feitas em busca de respostas.
O intestino e a ansiedade
Pesquisadores descobriram que jovens adultos que comem mais comida fermentada (que contém probióticos) têm menos sintomas de ansiedade social.
Conforme o professor de psicologia Matthew Milimire, ‘é provável que probióticos nas comidas fermentadas são favoráveis a mudanças no trato gastrointestinal, que influenciam a ansiedade social… os microrganismos na sua barriga podem influenciar sua mente.’
Comida e o fator de conforto
A necessidade de conforto raramente nos direciona a vegetais. Pelo contrário, ‘comida de consolo’ tende a ser rica em gordura e em calorias.
A relação entre comida e humor não é coisa da nossa cabeça. Sim, comida de consolo é muito mais gostosa, muito mais cheirosa e trás a memória momentos de alegria e segurança, mas tem muito mais que isso, conforme uma equipe de pesquisadores Belgas descobriu.
Os pesquisadores deram nutrientes diretamente aos estômagos dos participantes via uma sonda nasogástrica, com a intenção de tirar a experiência sensorial que normalmente é associada a comida de consolo, como cheiro, gosto e memórias.
Os participantes receberam ou uma solução salina ou uma infusão de ácidos graxos. Sem saber o que estava na sonda, aqueles que receberam ácidos graxos tiveram metade dos níveis de tristeza e fome comparado aos que receberam a solução salina.
Isso também foi constatado por exames cerebrais. Imediatamente após os ácidos graxos chegarem ao estômago, foi vista uma atividade maior na parte do cérebro que controlar as emoções.
Stress e comida
Uma pesquisa mostrou que ratos estressados preferem comida mais gordurosa (manteiga de amendoim) do que ração regular. Naturalmente, eles ganham mais peso do que seus colegas menos estressados.
Em tempos de stress, o intestino aumenta a produção de grelina, um hormônio que sinaliza a fome para o cérebro. Pesquisas em humanos chegaram à mesma conclusão. Em um estudo recente, casais tiveram um aumento significativo do hormônio após uma discussão.
Os pesquisadores não puderam concluir que relacionamentos não saudáveis causam más escolhas na hora de comer, mas a correlação é forte.
As bactérias intestinais estão por trás de tudo isso?
O professor Mayer pontua que nos últimos 50 anos percebeu um aumento drástico nos casos de autismo, esclerose múltipla e obesidade. Todas essas doenças alteraram as interações entre intestino e cérebro.
Ao mesmo tempo, nos últimos 50 anos, a forma que o alimento é produzido e processado foi muito modificada, e também a forma que utilizamos antibióticos. Isso é reflexo das nossas escolhas? Do jeito que está, é apenas especulação, mas é uma área de estudo que está ganhando visibilidade.
E agora?
A saúde mental não fica só na cabeça. Nem a doença mental. Finalmente, a ciência está nos dando provas concretas disso. As pesquisas são animadoras e promissórias no sentido de revolucionar os tratamentos para uma série de fatores e o jeito que cuidamos da nossa saúde mental.
A pesquisa está constantemente evoluindo, mas nós sabemos a importância de ficarmos atentos ao estado que o nosso intestino está e fazermos o possível para mantê-lo saudável.
Ali está o segundo cérebro, e possivelmente, umas das chaves para o sucesso do nosso bem estar mental e emocional.
* Nota: As informações e sugestões contidas neste artigo têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.
Texto originalmente publicado no Hey Sigmund , livremente traduzido e adaptado pela equipe da Revista Bem Mais Mulher
Fonte:https://www.sabervivermais.com/intestino-nosso-segundo-cerebro/
Conceição Trucom*
A relação do cérebro com os intestinos – sistema grastrintestinal ou digestivo -, embora há muito conhecida pelas medicinas milenares, como a Ayurvédica, a Tradicional Chinesa e a Tibetana, vem sendo desvendada somente nas últimas décadas pelos cientistas.
O intestino delgado é hoje reconhecido como um ‘órgão inteligente’ ou ‘segundo cérebro’ por ser o único órgão do corpo humano capaz de executar funções independnetemente do sistema nervoso central (SNC). Esta autonomia se comprova pela sua habilidade em produzir arcos reflexos – intertransmissão de estímulos entre os neurônios sensitivos, associativos e motores – que tanto lhes permite captar as informações, como processá-las e responder de acordo com a necessidade do momento. Em outras palavras, os intestinos também pensam, decidem e executam tarefas tal qual um cérebro.
No Brasil, o Laboratório de Pesquisas em Neurônios Entéricos da Universidade Estadual de Maringá/PR, vem se destacando como centro de pesquisa no assunto. De acordo com o seu coordenador, Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto, os neurônios, tanto do cérebro como dos intestinos, guardam semelhanças e são basicamente de três tipos:
Natureza Associativa --> conduzem as informações a serem processadas.
Natureza Motora --> respondem aos estímulos.
Natureza Sensorial --> captam os estímulos do meio ambiente e os transmitem aos centros nervosos.
Sob a batuta dos neurônios entéricos, os alimentos devem percorrer o sistema digestivo a uma velocidade metabólica ideal, para que a massa alimentar e o bolo fecal não fiquem retidos (em qualquer parte do seu trajeto) mais do que o tempo necessário.
Qualquer alteração física ou mental se reflete na aceleração ou desaceleração dos movimentos peristálticos – diarréia ou prisão de ventre –, cuja cronicidade gera conseqüências desastrosas. E vive-versa.
Diarréia
- Desidratação e perda de sais minerais, cuja conseqüência mais imediata é o desequilíbrio ácido-alcalino.
- Perda da fluidez dos humores, dificultando a desintoxicação, nutrição, oxigenação das células e dos humores e controle sobre metabolismo celular.
- Deficiência dos sucos digestivos, promovendo a má digestão, as inflamações intestinais, a permeabilidade da mucosa intestinal, exaustão do sistema imunitário, subnutrição celular, problemas emocionais e mentais etc.
Prisão de ventre
- Fermentação, putrefação e oxidação do bolo alimentar (gases e flatulência).
- Intoxicação do organismo e congestão hepática.
- Disbiose da flora intestinal (desequilíbrio com dominância das bactérias patogênicas).
- Humor descontrolado.
- Ressecamento e acúmulo de fezes nas paredes intestinal, impedindo a absorção dos nutrientes devido ao sufocamento da mucosa, promovendo um ambiente propício à flora disbiótica e aos processos infecciosos e inflamatórios.
Portanto, torna-se estreita a relação entre um sistema digestivo saudável e a sensação de bem estar físico, emocional e psíquico. Na verdade, os intestinos regulam nossa imunidade, funcionam como um órgão inteligente e afetam nossas emoções.
Serotonina e Melatonina
Alegria de viver e serotonina são absolutamente interdependentes. Uma não existe sem a outra. Tanto é assim que os tratamentos clássicos da depressão envolvem esse neurotransmissor, interferindo no seu ciclo natural dentro do cérebro. A grande questão é que esses medicamentos não atuam no cerne do problema, que é a falta de produção da serotonina. O que acontece é que 90% da serotonina é produzida pelos intestinos, afirma o Dr. Helion Póvoa no seu livro O Cérebro Desconhecido (editora Objetiva):
Quando analisamos o fato de que o intestino é fundamental na formação da serotonina, nada mais é preciso acrescentar. A alegria e a inteligência emocional, de que tanto precisamos para viver bem, começam realmente a partir do intestino! Por isso só nos resta garantir a esse fantástico órgão matérias-primas de primeira qualidade, o que conseguimos com uma alimentação saudável. Ele, inteligentemente, se encarregará de garantir nossa saúde e felicidade.
E mais, a serotonina é a precursora da melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal, o centro superior de processamento de informação eletromagnética, bastante conhecido como auxiliar do bom sono. A melatonina é também o antioxidante mais poderoso produzido pelo organismo.
A serotonina e a melatonina têm uma relação de alternância. A primeira predomina quando o cérebro se encontra em estado de alerta e a segunda nos períodos de sono. O que não se sabia até recentemente é que ambas são secretadas pelas glândulas dos intestinos, e não apenas pela pineal. Esta dupla dinâmica aumenta a qualidade do sono, a sensação de bem-estar, o otimismo, o bom humor, a capacidade de atenção e de raciocínio. Os pensamentos ficam mais leves e a vida mais prazerosa.
As primeiras evidências desse fato vieram das pesquisas do Dr. Michael D. Gershon, autor do livro O Segundo Cérebro (editora Campus) que revelaram dois fenômenos importantíssimos:
• As paredes dos intestinos, estimuladas pela fricção das fibras alimentares, secretam a serotonina.
• A serotonina secretada pelos intestinos é o fator de controle do peristaltismo que, em cadências regulares, movimenta o bolo alimentar e as fezes ao longo do trato gastrintestinal.
• As paredes do trato gastrintestinal são recobertas por uma rede de neurônios diretamente responsáveis pela coordenação de todas as funções digestivas que, embora estejam conectados ao sistema nervoso central, têm total autonomia sobre todas as etapas do processo digestivo.
Por isso, a higiene alimentar e a higienização dos intestinos também são essenciais à prevenção e à reversão dos quadros de distúrbios emocionais e problemas mentais, que cada dia aumenta percentualmente o número de casos em todo o mundo.
A alimentação moderna, com tanto refinados, aditivados e agrotóxicos, pode estar fazendo com que os intestinos padeçam, dificultando todas as nossas inteligências.
Fontes:
- Doutor Michael D. Gershon - O Segundo Cérebro - Ed. Campus.
- Doutor Helion Póvoa - O cérebro desconhecido - Ed. Objetiva.
- Site Difusão Autoecologia
Fonte:https://www.docelimao.com.br/site/desintoxicante/os-5-sistemas-excretores/1305-o-segundo-cerebro.html
A incrível conexão cérebro-intestino
A comunicação estreita entre eles abre perspectivas para entender o papel da flora intestinal no surgimento de males que sabotam o foco e o bom humor
Por André Biernath
O coração, o fígado e os rins que nos perdoem, mas não há órgão mais fascinante que o intestino. A começar pelo seu tamanho descomunal: se abríssemos e esticássemos seus dois trechos – o delgado e o grosso -, ele ocuparia uma área de 250 metros quadrados, o equivalente a uma quadra de tênis. Tudo está enrolado e compactado dentro do ventre. E olha que isso nem é o aspecto mais interessante da coisa: o intestino tem neurônios e aloja trilhões de bactérias, boa parte delas envolvida em processos cruciais ao organismo. E você pensando que ele era um longo tubo por onde a comida passa, nutrientes são absorvidos e o que não é aproveitado vira cocô.
Espera: neurônios lá no abdômen? Sim, falamos das mesmíssimas células que constituem o cérebro. “O intestino tem cerca de 500 milhões delas”, calcula o gastroenterologista Eduardo Antonio André, do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo. É menos que a massa cinzenta, que tem bilhões, mas o suficiente para formar um sistema nervoso próprio, responsável por coordenar tarefas como a liberação de substâncias digestivas e os movimentos que estimulam o bolo fecal a ir embora. “Esses circuitos operam sozinhos, ou seja, independem do comando cerebral”, destaca André. Dá pra entender por que apelidaram o intestino de segundo cérebro?
Os neurônios intestinais chamam a atenção também pela sua farta produção de serotonina, molécula que nos leva ao estado de bem-estar – 90% da serotonina descarregada pelo corpo é fabricada ali. “Esse neurotransmissor é importante porque garante o funcionamento adequado do órgão”, diz o médico Henrique Ballalai, da Academia Brasileira de Neurologia. Mas se sabe que ele ainda pode exercer um efeito sistêmico. O fato é que a serotonina é só um dos mais de 30 mensageiros químicos montados no ventre.
Essas substâncias são encarregadas de transmitir recados de um lado para o outro e estabelecer comunicação eficiente entre o intestino e o cérebro de verdade. “Essa conversa acontece diretamente por meio do nervo vago, estrutura que passa pelo tórax e liga o sistema gastrointestinal à cabeça”, descreve o endocrinologista Filippo Pedrinola, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. O nervo vago é uma via de mão dupla: assim como o abdômen manda mensagens para a massa cinzenta, o correio inverso também ocorre. “É por isso que, diante de uma situação de estresse, podemos sentir frio na barriga ou vontade de ir ao banheiro”, esclarece Pedrinola.
Você não está sozinho
Há um terceiro elemento que interfere nessa conexão: a cada vez mais estudada flora intestinal. Microbiota, para sermos corretos. O intestino carrega cerca de 100 trilhões de bactérias, quantidade dez vezes superior ao número de células do corpo. Esse contingente representa de 2 a 3 quilos do peso total de um indivíduo. “A microbiota tem papel decisivo na manutenção da saúde. Ela auxilia a digerir alimentos e a nos proteger de infecções”, explica a microbiologista Regina Domingues, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A princípio, nossa relação com essas bactérias é pacífica e proveitosa para os dois lados: elas conseguem obter nutrientes necessários para sobreviver e, em troca, regulam nosso organismo.
De uns cinco anos pra cá, o interesse por essa metrópole microscópica só aumenta. Nos Estados Unidos, especialistas de 80 centros de pesquisa lançaram o Projeto Microbioma Humano, que mapeou todos os bichinhos que chamam nosso organismo de lar. A partir dessa iniciativa, hoje se começa a entender como a flora interfere na predisposição a várias doenças e é capaz de influenciar até o comportamento e as emoções das pessoas. “Nesse sentido, a microbiota é uma espécie de terceiro cérebro”, brinca o gastroenterologista Pierre Déchelotte, da Universidade de Rouen, na França. Brincadeira com um belo fundo de verdade.
Jonatan Sarmento
As bactérias intestinais produzem diversas moléculas que se intrometem na comunicação entre o sistema nervoso do abdômen e o lá de cima. De todos os micro-organismos que habitam o aparelho digestivo e passeiam por ele, a maior parcela é amiga. Há, porém, as frutas (ou melhor, bactérias) podres. E ai se elas encontram condição para se multiplicar… “Precisamos que os exemplares benéficos estejam sempre em maior número, porque, assim, controlam os nocivos”, resume a farmacêutica Yasumi Ozawa, da Yakult, pioneira nessas pesquisas.
Os cientistas ainda estão apurando todos os detalhes envolvidos, mas já conhecem alguns fatores que desequilibram a microbiota. “Uma alimentação muito rica em gordura, por exemplo, está associada ao desenvolvimento de bactérias ruins e à morte de espécimes bons. As manifestações disso são mais gases e distensão abdominal”, exemplifica o coloproctologista Sidney Klajner, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A desordem ainda é deflagrada por estresse fora de controle e uso de antibióticos, que, para matar os vilões, acabam exterminando também os mocinhos.
Se os germes maléficos dominam o pedaço, é encrenca na certa. “Isso prejudica as paredes e os movimentos do intestino e dispara inflamações”, acusa o gastroenterologista Ricardo Barbuti, do Hospital das Clínicas de São Paulo. No dia a dia, o indivíduo tem dores, diarreia ou constipação. Só que o desarranjo local repercute na cabeça. Estímulos de confusão na barriga viajam até o cérebro e contribuem para o humor e a concentração irem por água abaixo. Sim, ficamos enfezados.
O impacto desses distúrbios na cachola motivou a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) a realizar o primeiro estudo sobre a saúde intestinal da mulher brasileira – por razões hormonais, elas estão mais sujeitas a enroscos no abdômen do que os homens. Dois terços das 3 029 entrevistadas declararam ter inchaço no ventre, flatulências e prisão de ventre. Quando questionadas de que maneira os incômodos influenciavam na qualidade de vida, 89% diziam ter variações de humor e 88% reclamavam de menos concentração nas tarefas cotidianas. “Esses números nos mostram, na prática, como os sintomas abdominais chegam a modificar comportamentos”, resume a imunologista Violeta Niborski, gerente da Danone, empresa que participou do levantamento.
Cabeça em apuros
Os médicos já sabem que condições como a síndrome do intestino irritável, marcada por diarreia ou dificuldade de ir ao banheiro sem razão aparente, propiciam nervosismo e depressão – assim como a ansiedade e o baixo-astral desequilibram a flora e patrocinam as crises. Acontece que as interações perigosas não param por aí: a microbiota parece fazer diferença na probabilidade de desenvolvermos problemas neurológicos. Ao comparar ratinhos de laboratório criados para não ter bactérias no intestino com animais dotados de flora, cientistas irlandeses observaram que os primeiros desenvolviam características típicas do autismo, como gastar tempo demais interagindo com um objeto.
Há indícios de que até o Parkinson, doença que provoca tremores, começaria lá no abdômen. Especialistas da Universidade College London, na Inglaterra, constataram, após analisar milhares de pessoas, que a constipação é uma das primeiras manifestações do distúrbio. “Uma hipótese sugere que a microbiota alterada leve à destruição de neurônios intestinais e isso progrida até o cérebro”, conta Ballalai. O mesmo princípio explicaria o Alzheimer, que consome as memórias. Apesar de curiosos, esses achados são recentes e carecem de mais provas. “Por ora, a maioria dos estudos está restrita a animais e não pode ser extrapolada para nossa realidade”, contextualiza a médica Maria do Carmo Friche, presidente da FBG.
Mas é possível prevenir, ou até reverter, desequilíbrios na microbiota intestinal? A resposta é sim. A flora pode ser modulada para que as bactérias do bem vivam em paz ou voltem a reinar. E isso é obtido, em parte, via alimentação, quando se investe nos probióticos, lácteos enriquecidos com micro-organismos benéficos à saúde. Mas fique atento ao rótulo: nem todo iogurte, por exemplo, é probiótico. Repare se a embalagem informa isso e qual sua concentração de bactérias, medida em UFC (unidade formadora de colônia). “O produto precisa ter de 2 a 10 bilhões de UFC por dose”, avisa Pedrinola. Ah, probióticos também estão disponíveis hoje em cápsulas e sachês.
Só que não dá pra engolir um monte de bichinhos e se esquecer de alimentar a flora local. Essa é a função dos prebióticos. “Eles são ricos em fibras solúveis, que o sistema digestivo não aproveita sem a cooperação da microbiota”, define o microbiologista Arthur Ouwehand, da Divisão de Nutrição & Saúde da DuPont, na Finlândia. Tais componentes, encontrados em vegetais como a cebola e a aveia, nutrem as bactérias. E elas, por sua vez, agradecem devolvendo vantagens ao nosso corpo.
Pílulas de bactérias?!
O campo de estudos de intervenções na flora intestinal avançou nos últimos anos e já se veem boas tentativas de atenuar doenças mexendo com o nosso padrão de micróbios. Recorrer a bactérias das classes dos lactobacilos e bifidobactérias já é uma receita para abrandar a síndrome do intestino irritável, por exemplo. “Talvez, no futuro, tenhamos cepas de micro-organismos específicas para prescrever a cada problema de saúde”, especula Barbuti.
O fato é que hoje se discute se isso seria viável e efetivo para ajudar até a domar transtornos neurológicos ou psiquiátricos. “Em tese, seria possível introduzir bactérias pensando em ganhos cerebrais e comportamentais”, informa Regina Domingues. E olha que estudos iniciais já trazem resultados surpreendentes. Na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, 36 mulheres foram divididas em dois grupos: o primeiro consumiu lácteos com probióticos durante um mês. O segundo tomou uma bebida sem aditivos. Após esse período, todas as voluntárias passaram por um teste em que olhavam para fotografias de indivíduos com feições de raiva ou medo. Enquanto elas participavam da tarefa, seu cérebro era analisado por um aparelho de ressonância magnética. O resultado: nas mulheres que ingeriram os probióticos, as áreas da massa cinzenta responsáveis por processar as emoções ficavam muito menos ativas, sinal de que estavam mais calmas e relaxadas. Na vida real, isso implica estar preparado para lidar melhor com os reveses do cotidiano.
E se lembra dos cientistas que apuravam o elo entre flora e autismo em ratinhos? Pois essa equipe, baseada na Universidade College Cork, na Irlanda, fez outra experiência impressionante. Eles administraram probióticos a camundongos com traços depressivos por algumas semanas. Depois, botaram os roedores para nadar numa bacia funda, situação em que corriam o risco de se afogar – esse é um modelo clássico de laboratório para estudar a apatia em animais. Em comparação com os bichos que não receberam a dose de probióticos, os ratos com intestino equilibrado lutavam mais tempo e com mais força para se salvar. Sinal claro de que não queriam desistir da vida. Se pudéssemos transpor os resultados para nós, seres humanos, daria pra dizer que foi observado um autêntico efeito antidepressivo.
Como se vê, a investigação do eixo intestino-microbiota-cérebro é fresquinha, mas um tanto promissora. Alguns especialistas já chegaram a comparar o potencial de intervir ali ao das prestigiadas células-tronco. E tomara que ele se concretize. Quem sabe a resposta a vários problemas não esteja realmente bem debaixo do nosso umbigo?
Itcha Studio / Gustavo Arrais (/)
Um intestino sensível demais
Dor na barriga, constipação ou, ao contrário, idas urgentes ao banheiro. Se tudo isso soa familiar, comece a suspeitar da síndrome do intestino irritável
Por Sílvia Lisboa (colaboradora)
Você mal cruza os garfos e já sente a barriga inchar. Tem de correr para o banheiro e ficar algum tempo esperando até tudo ir embora, inclusive as cólicas. E é a quarta vez no mês que o episódio se repete – e olha que não comeu nada tão forte ou pesado. Aí o suplício some e você já está se esquecendo… Até que ele volta com tudo, após um prosaico pão com manteiga no café da manhã. Se você protagoniza essa história, é provável que tenha um intestino sensível demais. Ou irritável, como preferem os médicos.
Presente em até 20% da população mundial, a síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição ainda não totalmente compreendida pela comunidade científica. Isso porque, quando se examina o sistema digestivo de quem tem o problema, não se veem alterações anatômicas ou lesões. Só em 1994 foram estabelecidos os critérios de diagnósticos. E esses critérios, bem como as condutas de controle, acabam de ser revistos em um trabalho publicado no renomado The Journal of the American Medical Association.
O artigo aponta o dedo para os principais sintomas: diarreia ou constipação sem motivo aparente e inchaço temporário da barriga acompanhado de dores, normalmente depois das refeições. Em geral, a síndrome começa a se manifestar após um evento estressante, físico ou emocional. “O gatilho pode ser uma infecção intestinal ou um trauma, como um assalto”, conta a gastroenterologista Sandra Beatriz Marion, da pontifícia Universida de Católica do paraná. Vem o primeiro episódio e ela nunca mais abandona o sujeito.
Não há, porém, motivo para pânico. O problema é crônico, mas não evolui para quadros graves como tumores. “Menos de 10% dos pacientes têm um comprometimento sério na qualidade de vida”, calcula Carlos Fernando Francescone, chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Apesar disso, a medicina labuta para que a síndrome não seja um estorvo tão frequente na vida do cidadão – afinal, ninguém quer sofrer quando vai ao banheiro.
No passado, a síndrome do intestino irritável era chamada de colite nervosa por causa da sua intensa associação com situações estressantes. Só que os médicos repararam, por meio de exames, que os pacientes não tinham inflamação (identificada pelo “ite” da nomenclatura nem lesões no intestino grosso. Aí mudaram o nome. “A SII não se resume a um problema de ordem psicológica, uma vez que é caracterizada por alterações funcionais no órgão”, ressalta Maria do Carmo Friche Passos, presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Contudo, o fator emocional costuma ser o grande desencadeador das crises. Como fases boas e ruins se alternam na vida, a síndrome pode ter um comportamento mais aleatório. O indivíduo passa as férias à base de cerveja e petiscos sem ter nem uma cólica sequer, mas basta voltar à rotina do trabalho e trânsito que o martírio reaparece com tudo.
Alimento para a flora intestinal
Falamos dos prebióticos... Professor britânico explica o que eles podem fazer pelo organismo
Por Diogo Sponchiato
A ciência vem mostrando que a microbiota intestinal, o conglomerado de bactérias que vive nos confins do aparelho digestivo, tem papel de destaque não só no funcionamento do intestino, mas também no equilíbrio da imunidade e na prevenção de problemas cardiovasculares. Para cultivar uma boa flora, digamos que a gente precisa alimentá-la direito. É aí que entram os prebióticos, substâncias que servem um banquete para micro-organismos do bem que habitam o intestino. Como agradecimento, muitos desses seres microscópicos defendem a região de invasores nocivos e ainda produzem substâncias de ação proveitosa para o corpo humano.
E quem seriam esses prebióticos? Ora, são fibras vegetais e outros compostos que passam intactos pela digestão — não os confunda com os probióticos, bactérias específicas e benéficas fornecidas por iogurtes, leites fermentados… Já que os prebióticos estão ganhando destaque entre as recomendações nutricionais, aproveitamos para conversar com um dos maiores estudiosos do assunto, o professor Glenn Gibson, da Universidade de Reading, na Inglaterra. O cientista será um dos convidados internacionais do próximo congresso do Ganepão, um dos principais eventos de nutrição do país, que acontece entre os dias 13 e 17 de junho.
Qual é a dos prebióticos?
SAÚDE
Além das vantagens ao aparelho digestivo, estudos apontam que os prebióticos fortalecem a imunidade. Já se sabe o porquê?
Glenn Gibson
É que eles atingem alvos específicos da nossa microbiota. No intestino, interagem tradicionalmente com a população de bifidobactérias. O aumento desse contingente produz, por sua vez, um estímulo imunológico, que normalmente envolve células de defesa como os linfócitos T e os natural killers. Além disso, existem pesquisas mostrando uma melhora no estado inflamatório do organismo.
SAÚDE
Os prebióticos, especialmente as fibras dos vegetais, já são associados à proteção cardiovascular. Qual a relação?
Glenn Gibson
Isso é resultado da fermentação desses compostos pelas bactérias do intestino. Um dos produtos dessa fermentação, por exemplo, é o propionato, substância que interfere na fabricação do colesterol lá no fígado.
SAÚDE
Há algum tipo de prebiótico mais vantajoso para a saúde?
Glenn Gibson
Os prebióticos mais estudados são os frutanos [que aparecem em cereais como centeio e trigo, além da cebola, por exemplo] e os galactanos [que estão em leguminosas como feijão e lentilha e no repolho]. Devido ao seu tamanho e à sua estrutura química, eles favorecem o processamento pelas bifidobactérias da microbiota. Alguns outros tipos de oligossacarídeos [compostos com papel similar ao das fibras no organismo] e carboidratos também vêm sendo investigados.
SAÚDE
Considerando o impacto na saúde, existem diferenças entre os prebióticos de origem natural e aqueles fornecidos por suplementos?
Glenn Gibson
Substâncias como a inulina, um tipo de frutano, de fato estão presentes naturalmente em alguns alimentos [alho, cebola e chicória são exemplos]. Mas eu acredito ser difícil atingir a dose recomendada para se chegar ao efeito prebiótico — algo em torno de 5 gramas por dia para um adulto. Nesse caso, podemos complementar com outras fontes, seja via suplementos, seja com a incorporação de prebióticos em outros alimentos, caso de pães, cereais, bebidas...
SAÚDE
Qual o principal desafio na pesquisa de prebióticos hoje?
Glenn Gibsons
Creio que é investigar os efeitos de longo prazo de seu consumo, além de entender melhor seu papel nas mudanças da microbiota e nos ganhos à saúde, e os mecanismos envolvidos nessa interação.
Um exame mapeia as bactérias que vivem no seu intestino e influem na saúde
Startup brasileira sequencia a microbiota intestinal e, a partir daí, propõe ajustes na dieta, no estilo de vida e até no tratamento de doenças
Por Goretti Tenorio
Há um mundo de bactérias no seu intestino. Mas será que elas estão vivendo em harmonia? (Ilustração: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)
Que a flora intestinal ajuda a ditar o bem-estar do organismo todo não é novidade. Mas e se pudéssemos descobrir o perfil de bactérias que vivem ali para estabelecer condutas em prol da saúde através de um exame? A startup Bioma4me é a primeira no país a oferecer o serviço de sequenciamento do microbioma às pessoas com base em estudos.
“Todo mundo possui micro-organismos patogênicos e simbiontes, aqueles que fazem bem à saúde”, explica o médico Dan Waitzberg, professor da Universidade de São Paulo e diretor científico da companhia. “Quando o equilíbrio entre eles é rompido, pode haver maior prevalência de bactérias relacionadas a doenças do trato gastrointestinal ou distúrbios metabólicos e inflamatórios”, completa.
O resultado do mapeamento ajuda a guiar os profissionais de saúde nas recomendações para prevenir ou controlar problemas que tenham ligação com a flora. Por exemplo:
- Síndrome do intestino irritável
- Doença de Crohn
- Obesidade
- Hipertensão
- Diabetes
- Alergias e intolerâncias
- Doenças neurológicas como Parkinson
- Alzheimer
O passo a passo do exame
- Depois de se cadastrar no site da empresa brasileira, o kit do teste chega ao endereço fornecido
- Após a higiene íntima, colhe-se a amostra de fezes (basta um grão de feijão) no primeiro tubinho. Por segurança, repete-se o procedimento para o segundo tubo. O material é enviado para a companhia.
- No site da Bioma4me, a pessoa preenche um questionário sobre a saúde.
- O microbioma é analisado em laboratório e um programa emite o relatório sobre a composição de bactérias da amostra. O resultado é enviado pelo correio no máximo 60 dias depois.
O que os resultados mudam no dia a dia
Dieta: ajustes para favorecer o consumo de fibras e micronutrientes e aumentar a hidratação.
Estilo de vida: indicações para livrar-se do tabagismo, moderar no álcool e praticar atividade física.
Suplementação: recomendações para uso de suplementos com prebióticos, probióticos, simbióticos e companhia.
Medicamentos: o especialista pode prescrever remédios mais apropriados para tratar uma doença identificada.
E o transplante fecal?
A terapia consiste em transferir para um portador de uma doença, que não responde a tratamentos convencionais, determinada quantidade de fezes de um doador saudável. Particularmente em pessoas com infecção pela bactéria Clostridium difficile, o método tem dado bons resultados.
Em outros contextos, porém, ainda é experimental. “Na Europa e nos Estados Unidos, estão em desenvolvimento medicamentos à base de consórcios de 20 a 30 bactérias identificadas como benéficas em pacientes que passaram por transplante fecal”, conta o professor Dan Waitzberg.
Deborah Maxx (/)
Cocô em cápsulas?! Transplante de fezes ajudaria a emagrecer
Cientistas querem criar formas de transferir a flora intestinal de indivíduos saudáveis para aqueles que lutam contra a balança
Por André Biernath
Já se sabe que o equilíbrio da microbiota, o conjunto de bactérias que colonizam o intestino, interfere em diversos aspectos da saúde. Agora, pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, querem avaliar o chamado transplante de fezes como uma saída para emagrecer.
Eles vão criar cápsulas a partir do cocô de indivíduos em forma que, após um procedimento em laboratório, serão engolidas por obesos. Na teoria, os micro-organismos do bem vão habitar o sistema digestivo dos voluntários rechonchudos, ajudando-os a perder peso.
“A ideia é interessante, mas precisamos entender melhor a flora intestinal antes de começar um estudo desses”, opina o médico Ricardo Barbuti, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
Fonte:https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/a-incrivel-conexao-cerebro-intestino/
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