Banha de Porco Faz Mal à Saúde?
Há uma dúvida constante sobre o que é melhor para cozinhar alimentos. São diversas as possibilidades: óleos vegetais, manteiga ou até mesmo banha de porco estão disponíveis para este fim. Será que banha de porco faz mal à saúde mesmo? Falou-se muito mal dela por muito tempo, mas parece que a comunidade médica está vendo um outro lado ultimamente. É sobre isso que vamos falar mais abaixo.
Antigamente, a banha de porco era extremamente usada nas cozinhas ao redor do mundo, pois além de terem pouca disponibilidade, era muito difícil obter óleos vegetais. Com a revolução industrial, surgiram diversos tipos de óleos vegetais que ganharam popularidade por terem menor teor de gorduras saturadas e colesterol.
Porém, nos anos 2000, a banha de porco voltou a ser usada. Um dos motivos é que a banha é livre de gordura trans, que é abundante nos óleos vegetais comercializados hoje em dia e muito prejudicial à saúde. E, portanto, fica a dúvida: qual é a opção mais saudável?
Vamos discutir abaixo se a banha de porco faz mal à saúde e qual a melhor opção para você utilizar na cozinha.
Banha de Porco
A banha de porco é uma gordura proveniente do porco. Ela pode ser obtida de diversas partes do animal e sua qualidade vai depender deste aspecto e do processo de obtenção ao qual o tecido adiposo do porco foi submetido. A banha possui como característica uma alta concentração de ácidos graxos saturados como os triglicerídeos e ausência de gordura trans.
Com a popularidade da diversidade de óleos vegetais disponíveis para a culinária, a banha de porco foi menos utilizada com o tempo, mas ainda há quem prefira esta fonte de gordura por acreditar que ela é mais saudável que os óleos vegetais e as manteigas.
A banha é um tipo de gordura de porco que pode ser usada para diversos fins, incluindo como base para produção de sabão e biocombustíveis. Porém, ela é mais frequentemente usada como uma alternativa à manteiga e outras gorduras.
O seu sabor suave, textura delicada e agradável sensação na boca fazem da banha uma escolha popular para cozinhar e assar alimentos como biscoitos,
Grande parte da banha de porco é composta por gordura saturada. Os especialistas que defendem a banha de porco alegam que a gordura saturada é problemática quando está desbalanceada em relação às insaturadas, o que não acontece nesse caso.
A banha contém nutrientes que são benéficos para a saúde, como vitaminas B e C, cálcio, além de minerais como fósforo e ferro. Ela é isenta de carboidratos como açúcares, sendo uma opção para pessoas com diabetes, além de apresentar baixas quantidades de sódio.
Na verdade, a banha tem uma composição balanceada com cerca de 40% de gordura saturada e 45% de gordura monoinsaturada.
As gorduras insaturadas são consideradas boas, pois auxiliam na prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que possuem a aptidão de reduzir os níveis de triglicerídeos e o colesterol sanguíneo, elevando o HDL (colesterol bom) e diminuindo o nível do LDL (colesterol ruim). Como consequência, há uma redução da formação e manutenção de placas de gordura presentes no interior dos vasos sanguíneos, que podem levar à hipertensão arterial, ao infarto e ao derrame cerebral.
Entendendo a Composição das Gorduras
Há três principais tipos de gorduras encontradas nos alimentos: gordura saturada, gordura poli-insaturada e gordura monoinsaturada. Todos os óleos culinários são uma combinação desses 3 tipos de gordura, mas cada um difere nas quantidades de cada um dos tipos.
Saber qual tipo de gordura é melhor depende não só da composição de cada uma, mas também das condições em que ela será utilizada.
Em temperatura ambiente, devemos optar por gorduras com alto teor de gordura insaturada e baixos níveis de gorduras saturadas e trans. Porém, quando gorduras e óleos são aquecidos, devemos estar mais atentos, pois é possível que a estrutura química desses compostos seja alterada, trazendo malefícios à saúde.
Em altas temperaturas, as gorduras sofrem reações de oxidação, que é o que acontece quando elas reagem com oxigênio no ar para formar substâncias como aldeídos e peróxidos lipídicos. À temperatura ambiente, essas reações também podem ocorrer quando as gorduras estão expostas ao ar, embora isso ocorra bem mais lentamente.
Quando as gorduras ficam rançosas, é um indício de que elas foram oxidadadas a substâncias como os aldeídos citados anteriormente. Esses aldeídos formados são considerados toxinas, pois ao consumi-los ou inalá-los, mesmo em pequenas quantidades, há um risco associado ao aumento do risco de câncer e doenças cardíacas.
Estudos
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Montford revelou que cozinhar com óleos vegetais pode não ser tão saudável. Isso porque durante o aquecimento em altas temperaturas, esses óleos podem liberar substâncias tóxicas que podem causar câncer.
No estudo, foram analisados diversos tipos de óleos vegetais, manteiga e banha de porco após o aquecimento e foi observado que óleos vegetais como o óleo de girassol, óleo de milho e óleo de côco liberam grandes quantidades de toxinas, enquanto que o azeite, a banha de porco e a manteiga liberam quantidades bem menores. Isso ocorre porque as gorduras presentes na banha de porco são monoinsaturadas ou saturadas, o que dá uma maior estabilidade ao produto durante o aquecimento.
Assim, óleos de milho e de girassol, considerados benéficos á saúde, só são realmente benéficos se consumidos em temperatura ambiente, pois sua alta quantidade de óleos poli-insaturados tornam-nos bastante instáveis quando aquecidos, podendo gerar gorduras saturadas e liberar toxinas.
A sua origem também é importante para saber se a banha de porco faz mal à saúde. O neuroendocrinologista e professor de fisiologia Thomas Sherman, da Universidade de Georgetown, diz que estudos demonstram que a gordura de vacas e suínos alimentados com pastagem tem maiores níveis de gordura mono e poli-insaturadas do que os animais que são alimentados com grãos. Isso leva a um melhor balanceamento de tipos de gorduras, o que é saudável.
De acordo com ele, além do consumo da banha em si, o segredo está em uma dieta balanceada com diferentes tipos de alimentos com baixos teores de açúcar e carboidratos, ricos em frutas e legumes e com diversidade de gorduras saudáveis.
Benefícios
Apesar de apresentar aproximadamente 20% menos gordura saturada do que a manteiga, a banha tem uma maior quantidade de gorduras monoinsaturadas, que são conhecidas por diminuir o colesterol LDL (colesterol ruim), e não apresenta gordura trans.
– A banha de porco é estável quando aquecida
A banha de porco é termicamente estável e não libera toxinas quando aquecida a altas temperaturas, deixando o alimento mais crocante sem fazer fumaça.
Gorduras saturadas têm ligações simples entre os átomos de carbono da cadeia de ácido graxo. Essas ligações em ácidos graxos são muito fortes e dificilmente são rompidas quando aquecidas e são, portanto, mais estáveis ao calor.
Já as gorduras monoinsaturadas têm uma dupla ligação na molécula de ácido graxo. Tais ligações duplas são mais fracas e instáveis e podem ser quebradas quando o composto é submetido ao calor intenso, como em uma fritura. As gorduras poli-insaturadas são as mais instáveis, porque têm diversas ligações duplas na cadeia de carbono, e não apenas uma, como nos monoinsaturados. Quando essas ligações duplas se quebram na presença de ar e calor, a gordura sofre um processo de oxidação.
Uma gordura oxidada significa que ela gerou radicais livres, que por sua vez, podem prejudicar as células do nosso organismo. Esses radicais livres são responsáveis por diversos problemas de saúde, como inflamações e reações químicas indesejadas.
De acordo com Mary Enig, autora do livro ‘Conheça suas Gorduras’ (Know Your Fats), a banha é composta por 40% de gordura saturada, 50% de gordura monoinsaturada e 10% de gordura poli-insaturada.
Porcos cuja dieta é suplementada com grãos ou coco têm uma menor porcentagem de gorduras poli-insaturadas, o que é ótimo durante o aquecimento. Mesmo com a presença de gordura poli-insaturadas, a alta porcentagem de gordura saturada na banha acaba protegendo as gorduras mono e poli-insaturadas de sofrerem oxidação durante o aquecimento.
Como já vimos, para evitar a produção de toxinas como aldeídos, deve-se optar por um óleo que seja rico em gordura saturada ou monoinsaturada e pobre em gorduras poli-insaturadas, por serem termicamente mais estáveis e não liberarem toxinas.
A melhor opção seria o azeite de oliva, cuja composição apresenta cerca de 76% de gorduras monoinsaturadas, 14% de gorduras saturadas e apenas 10% de gorduras poli-insaturadas. Outra opção seria também o óleo de côco, devido ao seu alto conteúdo de gordura saturada. Apesar disso, devemos reduzir a frequência e, se possível, eliminar as frituras, particularmente as que ocorrem a temperaturas altas, já que frituras não são recomendadas para pessoas com alto colesterol e riscos de desenvolver doenças cardiovasculares.
A banha de porco apresenta cerca de 40% de gordura saturada, enquanto que os óleos vegetais apresentam menos de 10% da mesma gordura. Os óleos vegetais são uma ótima escolha quando consumidos em temperatura ambiente.
– Combate à Depressão
A banha é rica em ácido oleicos do tipo ômega 3, que estão relacionados com um menor risco de desenvolver sintomas da depressão.
– É boa para o coração
Quem consome banha de porco alega que a gordura é composta por aproximadamente 45% de gorduras monoinsaturadas, que são considerada boas para a saúde do coração.
É bastante difundido que gorduras animais aumentam o risco de doenças cardíacas. Porém, isso não passa de um mito, segundo muitos especialistas, e é uma questão polêmica. Um estudo com mais de 300 mil pessoas publicada no American Journal of Clinical Nutrition mostra que não há evidências de que o consumo de gordura saturada aumenta o risco de doenças cardíaca. Foi demonstrado ainda que uma dieta com baixo teor de gordura aumenta os triglicerídeos, e isso sim é um fator de risco para desenvolvimento de doença cardíaca.
Outro estudo Women’s Health Initiative envolveu 50 mil mulheres no período após a menopausa. Um grupo seguiu uma dieta de baixo teor de gordura, enquanto o outro continuou a comer normalmente, ingerindo gordura. Após 8 anos, não foi observada nenhuma diferença no desenvolvimento de doenças cardíacas entre as mulheres. Diversos outros grandes estudos não encontraram nenhuma prova de que há benefício para uma dieta de baixo teor de gordura. Além disso, a ingestão de gordura saturada aumenta o colesterol HDL, o que está associado a menores riscos de desenvolver doença cardíaca.
– Não apresenta odor nem cheiro
Diferente do óleo de côco, que transmite um certo gosto característico ao alimento, a banha de porco não apresenta sabor e assim não interfere no gosto da comida, podendo ser normalmente usada no preparo de qualquer alimento, inclusive em massas de torta.
– Mais barata
A banha de porco pode ser mais acessível e barata do que alguns óleos vegetais extremamente caros, como os óleos de canola e de girassol.
– Rica em vitamina D
A banha de porco é a segunda fonte alimentícia mais rica em vitamina D, logo depois do óleo de fígado de bacalhau. Isso se deve à grande capacidade dos porcos de sintetizar a vitamina D e armazená-las no seu tecido adiposo.
A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel, por isso requer ácidos graxos para ser melhor absorvida e utilizada pelo corpo. Ela auxilia na absorção de cálcio, além de também ajudar na remoção de metais nocivos tóxicos, tais como cádmio, alumínio, estrôncio e atuar na produção e regulação de hormônios.
– Sustentável
O uso da banha de porco acaba sendo uma opção sustentável, já que desta maneira todas as partes do porco serão aproveitadas.
– Boa para cozinhar
Segundo a culinária tradicional dos nossos antepassados, cozinhar com banha de porco gera alimentos deliciosos e crocantes.
– Fonte de colesterol, mas…
A banha de porco é um dos alimentos mais ricos em colesterol. O aumento dos níveis de colesterol está relacionado a períodos de estresse ou de inflamações no corpo.
No entanto, estudos mostram que o consumo de colesterol não apresenta uma relação de causa e efeito com os níveis de colesterol no sangue. Isso ocorre porque o corpo produz o colesterol que ele precisa. Pesquisas mostraram que o consumo de ovo, por exemplo, que é muito rico em colesterol, não aumenta os níveis de colesterol no corpo. No entanto, pessoas que têm tendência a ter o colesterol elevado devem consumir esses alimentos com moderação.
O fornecimento de colesterol através de gorduras de boa qualidade reduz a carga sobre o corpo para produzir colesterol. O colesterol dietético de alimentos como a banha suporta o manejo da inflamação e a produção de hormônios. Além disso, vários estudos associam baixos níveis de colesterol no sangue a maiores riscos de mortalidade, depressão, demência e Alzheimer.
Estes compostos não naturais também podem ter efeitos adversos nas membranas celulares e no sistema imunológico, podendo promover inflamação, câncer e envelhecimento acelerado.
Resumindo, após o azeite, a banha de porco é considerada a melhor fonte de gordura. O azeite tem cerca de 77%, enquanto que a banha tem cerca de 48% de gordura monoinsaturada, uma fonte de ômega 3 associada a menores riscos de desenvolver depressão.
Um estudo de 2005 na Tailândia também relatou que o ômega 3 tem benefícios contra o câncer e pode diminuir o risco de câncer de mama. Essas mesmas gorduras monoinsaturadas são responsáveis pela redução dos níveis de LDL enquanto deixam os níveis de colesterol HDL (bom) estáveis.
Calorias e consumo da banha de porco
Em uma porção de banha de porco, há aproximadamente 115 calorias, cerca de 13 gramas de gordura total e 5 gramas de gordura saturada. Uma pessoa que segue uma dieta de 2.000 calorias por dia e come apenas uma porção de banha está consumindo entre 20-25% da necessidade diária de gordura total e 33% do recomendado de gordura saturada. A banha também contém cerca de 6 gramas de gordura monoinsaturada e 1,5 gramas de gordura poli-insaturada em uma única porção.
A American Heart Association recomenda limitar a gordura a não mais de 25% a 35% total de calorias consumidas diariamente – cerca de 500 a 700 calorias ou entre 56 e 77 g de gordura total por dia para aqueles que seguem uma dieta de 2.000 calorias por dia.
Dicas
Para evitar a oxidação, mantenha sempre os óleos ao abrigo da luz, e tente não reutilizá-los, pois isso leva à acumulação dos produtos secundários gerados no aquecimento.
É preciso tomar cuidado com as banhas de porco disponíveis em supermercados, pois a maioria destes produtos são hidrogenados para que durem mais tempo, prejudicando a qualidade da gordura ao gerar gordura trans.
Portanto, se não são aquecidas, as gorduras poli-insaturadas (óleos vegetais e girassol, por exemplo) ainda são vistas como uma opção saudável. Essas gorduras reduzem o colesterol ruim e diminuem o risco de acidente vascular cerebral e doenças cardíacas. Além disso, as gorduras saturadas ou não devem sempre ser usadas com moderação para manter uma dieta balanceada.
Fonte:https://www.mundoboaforma.com.br/banha-de-porco-faz-mal-saude/#YOqwmKtvPXdcLYMb.99
De volta à moda na gastronomia, afinal, banha de porco faz bem ou faz mal para a saúde?
Muito utilizada por nossas avós e bisavós, a gordura de origem animal, está de novo em alta na cozinha brasileira, mas divide opiniões
Ela é usada no preparo de massas e doces e na comida simples do dia a dia, aquela que tem sabor da casa da vovó. Está até em salgadinhos. A banha de porco voltou com tudo à cozinha; ganhou até versão em lata. Mas, afinal, ela faz bem ou faz mal?
- Muito bem, porque é rica em ácido oleico, que auxilia na diminuição do colesterol ruim - afirma a nutricionista Karine Menezes. - A banha de porco tem menos gordura saturada do que a manteiga e o óleo de coco, resiste a altas temperaturas, e é mais econômica, já que é necessária uma quantidade menor em relação às outras gorduras.
Há quem diga que a banha de porco é muito melhor do que os óleos vegetais, como os de soja, canola e milho, e há quem garanta que o mais recomendado é se livrar dela, para sempre. Qual escolher, então?
- Não existe alimento bom ou ruim, mas com características boas e características ruins - compara a nutricionista Fabiane Alheira. - A banha de porco natural, sem aditivos químicos e que não passa pelo processo de refino é mais uma alternativa saudável para cozinhar. O que eu prezo é a escolha por alimentos naturais.
No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enfrentou protestos de médicos após recomendar a substituição de manteiga e derivados de animais por óleos vegetais. Publicado no site oficial da entidade, o texto "Cinco dicas para uma dieta saudável no ano novo" aconselha que óleos de soja, canola, milho e girassol sejam usados no preparo das refeições, descartando a manteiga e a banha de porco.
O cardiologista Serafim Gomes faz um alerta: a banha engorda, tem colesterol e pode fazer mal.
- Basta usá-la de forma inadequada e com alimentação errada - pondera. - No entanto, falar em aparecimento de doenças cardiovasculares e sérios problemas crônicos de saúde como câncer de mama, cólon e ovário é pura falácia e sensacionalismo da indústria - alerta o cardiologista, que atua com prevenção e reversão de doenças cardiometabólicas.
Segundo recomendações da American Heart Association, o consumo de gordura deve ser limitado a não mais que de 25% a 35% do total de calorias diárias - cerca de 500 a 700 calorias ou entre 56 e 77 gramas de gordura total por dia em uma dieta de 2 mil calorias diárias.
- Já há evidências mais que definidas de que o uso da gordura não causa risco ou morte de origem cardiometabólica ou cardiovasculares entre outros mitos. Incentivamos muito seu uso para fritura dos alimentos. A Sociedade Americana de Diabetologia acaba de publicar um estudo que trata do perigo da não utilização da gordura saturada, que é a banha de porco. Nele, afirma que a dieta de baixa gordura só piora os resultados de riscos cardiovasculares. Trata do perigo da não utilização da gordura saturada, que é a banha de porco - informa Serafim Gomes.
Um novo velho hit da cozinha
Polêmicas à parte, a banha de porco atinge uma temperatura alta rapidamente, com menores riscos de se oxidar (e fazer mal). Por isso, alguns chefs de cozinha apostam que ela faz menos mal do que manteiga e azeite, além de deixar a comida mais saborosa.
De acordo com a nutricionista Fabiane Alheira, a banha de porco, ao contrário do que as pessoas pensam, é rica em ácidos graxos monoinsaturados, como o azeite, e não deixa cheiro e sabor residuais.
- Em sua versão natural, ela não deixa cheiro no ambiente nem aquele gosto residual de banha. Ao contrário, realça o sabor dos alimentos e deixa uma textura mais crocante. Portanto, pode ser usada em qualquer tipo de preparação, inclusive doces e peixes.
O chef Henrique Fogaça, do Sal Gastronomia, usa o produto no preparo do nhoque com ragu de javali, servido em uma de suas duas casas no Rio
- Ela serve para assar, refogar ou fritar qualquer alimento - resume Fogaça. - Criei essa receita há mais de dez anos e trabalhei muito para acertar o ponto ideal tanto do nhoque quanto da carne, que leva pouca gordura.
No Pici Trattoria, o Canoli Alla Gianduia recebe banha de porco no preparo da massa. Ela também vai na sobremesa, que já é sucesso na casa, recheada de creme de Nutella, finalizada com pralineé e acompanhada de sorvete de avelãs.
- A banha de porco tem sabor suave e não interfere no gosto final da receita. Também é a mais resistente a altas temperaturas, como a fritura do canoli, e não sofre consideráveis alterações. Conseguimos uma massa firme e crocante - define o chef Elia Schramm.
Banha da lata
Conforme anunciou o colunista Ancelmo Gois no início deste ano, a gordura ganhou até versão enlatada, sem conservantes - caso da "Pig leve", produzida pela família Velloso, que durante anos comandou a rede de supermercados Casas da Banha.
- A Pig Leve é líquida, rende mais, só precisa colocar pouca quantidade pra cozinhar e não tem conservantes, não precisa ir a geladeira, o que é mais natural. O público está cada vez mais exigindo uma banha de qualidade - garante Juscelino Velloso.
Ele informa que, de 2017 para 2018, o consumo de banha de porco aumentou 27% e que a expectativa é vender 120 toneladas nos primeiros 12 meses no Rio e, em 2020, levar o produto para São Paulo.
Com casas em ambas as cidades, o chef Felipe Bronze provou, aprovou e encomendou 24 latas do produto para o restaurante ORO, seu duas estrelas Michelin. De acordo com ele, "está sendo usado num novo menu, ainda em fase de teste".
Banha de porco - foto: Reprodução/Thinkstock
Banha de porco faz mal?
Especialistas explicam sobre esse alimento polêmico
Alimento pode ser usado na preparação
de receitas e possui alguns benefícios à saúde, mas seu consumo deve ser feito
com moderação
A gordura gera muitas dúvidas na hora do preparo e consumo dos alimentos, especialmente quando o assunto é banha de porco. Afinal, ela faz bem ou mal para a saúde? Primeiro, é preciso entender que as gorduras são essenciais para o organismo, mesmo se você está de dieta. Toda alimentação saudável e balanceada deve conter 30% do teor calórico total em gorduras, já que elas contribuem para o processo de produção dos hormônios, transporte de vitaminas e também ajudam a gerar energia.
Porém, o maior questionamento que surge em nossas cabeças é: "Qual o tipo de gordura que eu devo consumir?". As gorduras saturadas são totalmente contraindicadas por médicos, sendo associadas ao aumento de doenças cardiovasculares. Já as gorduras insaturadas fazem o papel de guardião, protegendo o coração e prevenindo outros processos inflamatórios.
Nesse sentido, a banha de porco, um alimento (polêmico) rico em gorduras saturadas, voltou a ser usada de maneira cada vez mais frequente. "Banha de porco nada mais é que a gordura do porco que pode atingir, ao contrário da maior parte das outras gorduras, altas temperaturas sem a liberação de compostos tóxicos, sendo uma opção muito mais saudável para o preparo de alimentos", comentou a nutróloga Dra. Gisele Wernek.
Antigamente, a banha de porco era muito usada pela população, por ser uma opção mais barata que os óleos vegetais, podendo ser usada no preparo de diversas refeições. Porém, a indústria passou a investir em outros tipos de óleos vegetais com um preço mais acessível e menor teor de gorduras saturadas e colesterol, fazendo com que a gordura animal fosse desaparecendo das casas dos brasileiros.
Apesar de ser muito criticada, a banha possui também gorduras boas. Mesmo tendo aproximadamente 40% de gordura saturada, o resto de sua composição é dividido em gorduras monoinsaturada e poli-insaturada, "que são gorduras recomendadas hoje em dia por não elevarem os níveis de colesterol plasmático ou até por ajudarem a reduzir a fração LDL do colesterol (o colesterol ruim, que está envolvido na formação de placa de ateroma). Assim, a banha de porco não pode ser classificada como totalmente má, ela é quase metade de cada tipo de gordura", revelou Mariana Maciel, nutricionista da rede de centros médicos dr.consulta. "Em cada 100g de banha há 88.7g de gordura, sendo 32.2g de gordura saturada, 42g de gordura monoinsaturada e 10.3g de gordura poli-insaturada", completa a especialista.
Por muito tempo, as gorduras saturadas foram tidas como as principais vilãs para as doenças cardiovasculares. "Baseado no fato de termos reduzido demais a ingestão das gorduras animais (e usado as gorduras vegetais) nos últimos anos, não se verificou a diminuição da prevalência de doenças cardíacas. Na realidade, essa colocação é verdadeira, porém devemos levar em consideração outras modificações nos hábitos e estilo de vida da população, que também se relacionam com o desenvolvimento de tais doenças", afirmou Mariana.
"Isso ainda vai ser muito discutido e pesquisado no campo da medicina e da nutrição, mas o fato é que as sociedades de classe, baseadas em revisões cientificas cuidadosas, ainda se mantêm firmes na recomendação de diminuir a ingestão de gorduras saturadas, substituindo-as pelas insaturadas. Esse é o posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia, por exemplo", completou a nutricionista.
Entretanto, alguns pesquisadores e médicos acreditam que talvez a banha de porco não seja tão ruim. "Quando utilizada com moderação, pelo seu potencial para aumentar o HDL e poder antioxidante, consegue proteger nossas artérias e vasos, minimizando o risco de doenças cardiovasculares", relatou Dra. Gisele Wernek.
Como qualquer outro alimento, a banha de porco deve ser consumida sem exagero, podendo assim proporcionar alguns benefícios à saúde, já que contém vitamina A, vitamina C, vitaminas do complexo B, Folato, colina e betaína.
Quando falamos em substituições é muito difícil dizer que a banha de porco pode ser usada no lugar de óleos vegetais, pois existem opções com nutrientes e benefícios melhores, então é importante que, antes de qualquer mudança, seja feita essa comparação. Segundo a nutricionista Mariana Maciel, existem óleos vegetais que possuem mais gorduras insaturadas do que a banha de porco, sendo mais interessantes, mas também existem óleos vegetais com perfil lipídico pior do que a banha.
Como utilizar a banha de porco
A banha de porco pode ser produzida a partir de qualquer parte do porco, desde que exista uma elevada concentração de tecido adiposo. O mais comum é vir da gordura visceral que envolve os rins e no interior do lombo. De acordo com a nutróloga Gisele Wernerk, a melhor banha é obtida a partir de toucinho, gordura subcutânea: entre a pele e músculo do porco.
Essa gordura é utilizada no preparo de alimentos, sendo vantajosa por não liberar toxinas quando aquecida e ter um sabor neutro. "A banha de porco tem pouco sabor específico, tornando-a ideal para uso em produtos de panificação, sendo valorizada no preparo de massas de torta", afirmou Gisele.
Modo de preparar
Para se obter a banha do porco é preciso levar ao fogo a gordura do porco ainda crua e em fogo muito baixo ir derretendo lentamente. Após 20 ou 30 minutos no fogo, a gordura já estará derretida e densa, podendo ser utilizada em qualquer tipo de preparo culinário.
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