CRIANÇA PODE SER VEGETARIANA OU VEGANA: COMO DEVE SER O CARDÁPIO DIÁRIO

   

criança comendo (Foto: thinkstock)
  • DANIELE ZEBINI
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Assim como os valores de respeito, educação, amor e cuidado, muitas famílias esperam que seus filhos sigam a mesma alimentação que os pais, principalmente quando se trata de uma família vegetariana. De acordo com a Sociedade Americana de Pediatria, essa dieta pode ser lacto-ovo-vegetariana: sem carne, mas com ovos, leite e derivados; lacto-vegetariana: sem carne e ovos, mas com leite e derivados; ou vegana: sem carne, leite e ovos. Em qualquer dos três casos, a recomendação da SAP é que a criança seja acompanhada por um médico especialista e, se necessário, consuma alimentos enriquecidos ou suplementos vitamínicos.

Já a Sociedade Brasileira de Pediatria faz ressalvas sobre esse tipo de dieta para crianças e gestantes. “Crianças vegetarianas alimentadas inapropriadamente, com dietas muito restritivas, apresentam grande risco de deficiência nutricional, o que pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento”, explica a pediatra Jocemara Gurmini, do Departamento de Nutrologia e Suporte Nutricional da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ela ressalta que os pais devem estar cientes da importância de identificar boas fontes de cálcio, ferro, zinco, ômega 3, vitamina B12 e vitamina D e, diante da impossibilidade de atingir as necessidades nutricionais relativas à idade da criança, a suplementação medicamentosa será necessária. “É preciso envolver o pediatra e nutricionista para que seja feito um trabalho em conjunto na orientação destes pacientes”, complementa Jocemara.

Segundo o nutrólogo Eric Slywitch, diretor do departamento de medicina e nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira, a única vitamina que não pode ser encontrada em alimentos que não são de origem animal é a B12. “Ela é importante para a formação dos glóbulos vermelhos, da parte neurológica e do desenvolvimento cognitivo da criança. Por isso, é importante suprir essa necessidade com suplemento ou polivitamínicos”, recomenda Slywitch.

O médico garante que a dieta vegetariana não oferece nenhum risco ao desenvolvimento das crianças nem para as gestantes, desde que seja feito um controle das taxas de nutrientes no sangue. É este também o parecer do Conselho Regional de Nutrição de São Paulo, que atesta que “as dietas vegetarianas, quando atendem às necessidades nutricionais individuais, podem promover o crescimento, desenvolvimento e manutenção adequados e podem ser adotadas em qualquer ciclo de vida”.

Dá para substituir


Se a família realmente optar pela dieta vegetariana, existem algumas trocas que podem ser feitas para driblar a deficiência de nutrientes. São elas:

FERRO
O ferro melhor absorvido é o tipo heme, proveniente das carnes. Ele também pode ser encontrado em vegetais verde-escuros e leguminosas, porém, sua absorção pelo organismo é menor. Consumi-lo com uma fonte de vitamina C aumenta esse aproveitamento. Mesmo assim, os vegetarianos precisam de 1,8 vezes a quantidade de ferro convencional.
Dica: Evite alimentos fontes de cálcio (como queijo e leite) em refeições ricas em ferro. Esses dois minerais competem entre si no organismo, o que afeta o aproveitamento de ferro.

ZINCO
Como a carne contém zinco de boa absorção, há o temor de que, ao retirá-la da dieta, possa haver deficiência. Mas ele está bastante presente em grãos como o feijão.
Dica: Como o ácido fítico, presente em alguns vegetais, é a substância que mais atrapalha a absorção de zinco, deve-se reduzi-lo (especialmente nos feijões). Basta deixar os grãos de molho em água por um período de 8 a 12 horas e trocá-la para cozinhar.

CÁLCIO
As principais fontes de cálcio são o leite e derivados. Também pode ser encontrado nas frutas, verduras e feijão, porém a capacidade de absorção dos alimentos não lácteos pode variar entre 5% (espinafre) e 50% (repolho e brócolis).
Dica: O conteúdo de cálcio absorvido de um copo de leite equivale ao de 4 xícaras de feijão.

PROTEÍNAS
Para quem não é vegano, boas fontes de proteínas são ovos, leite e derivados. Já quem não consome esses alimentos, pode substituir por tofu e iogurte de soja. No entanto, de acordo com Mario Vieira, gastroenterologia pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), alimentos à base de soja não devem ser oferecidos para crianças menores de 1 ano por conta de alguns componentes, como os hormônios vegetais e o alumínio, que podem não ser seguros para crianças nessa faixa etária. Mas os especialistas ressaltam que é preciso ter atenção para não confundir as fórmulas infantis de soja com as bebidas de soja. “A fórmula infantil de soja é balanceada e apropriada para as necessidades de uma criança pequena. Já as bebidas de soja (como os sucos) têm pouca quantidade de cálcio e não substituem o leite, como as fórmulas”, afirma Mario Sergio.

Cuidados na gestação


Jocemara Gurmini, médica do Departamento de Nutrologia e Suporte Nutricional da Sociedade Brasileira de Pediatria, dá algumas orientações às gestantes e lactantes vegetarianas:

1.Planeje alimentação para que não faltem nutrientes importantes.

2. Adeque as fontes de vitamina B12 e/ou faça suplementação.

3. A deficiência de vitamina D e ferro tem sido comum – verifique a necessidade de suplementação.

4. Inclua alimentos ricos em ácido linolênico, como linhaça, soja e canola, além de outros ricos em ômega 3, como peixes e verduras verde-escuras na alimentação ou faça suplementação.

5. Suplemente o cálcio (mesmo que seus níveis no leite materno não estejam baixos).

5 nutrientes que não podem faltar na alimentação das crianças (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

  • DANIELE ZEBINI

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O vegetarianismo é adotado por várias famílias brasileiras e, muitas vezes, os pais esperam que os filhos também sigam este estilo de vida. Mas a criança pode se desenvolver adequadamente com uma dieta vegetariana? Para a nutricionista materno-infantil Paula Stancari, de São Paulo, não há problema em seguir esta forma de alimentação. Mas, é importante que os pais saibam montar um cardápio variado e equilibrado, fornecendo todos os minerais e vitaminas essenciais.


Todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança podem ser garantidos com uma dieta vegetariana, com exceção da vitamina B12, que não existe nas fontes alimentares vegetais. “Vale ressaltar que uma alimentação vegetariana adequada deve ser variada e saudável para prevenir doenças e trazer benefícios à saúde. Um acompanhamento por um nutricionista é sempre indicado”, aconselha Paula Stancari.

Ela recomenda que, todos os dias, no almoço e no jantar, o prato da criança vegetariana seja composto por:

• Um tipo de alimento cereal: raiz ou tubérculo, como arrozinhame, batata, mandioca, cará ou macarrão;
• Um tipo de leguminosa seca: feijõeslentilha, grão-de-bico, soja.  Pelo menos dois vegetais, sendo um deles verde-escuro e outro, um legume.
• Após essas refeições, é recomendado que a criança consuma uma fruta rica em vitamina C (laranja, mexerica, kiwi, abacaximaracujá) para melhorar a absorção de ferro dos vegetais verde-escuros e das leguminosas.
• Acrescente na comida da criança 1 colher (chá) de óleo de linhaça ou chia para aumentar o aporte de ômega 3, importante para o desenvolvimento cognitivo.

Vegetariano (Foto: Thinkstock)

Criança vegana: pode, sim! Mas é preciso de acompanhamento de nutricionista (Foto: Thinkstock

  • ANDREZZA DUARTE
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Na casa da família Nascimento não entra carne. Também não entra leite, ovos ou mel. “Animal em casa, só o Boris, nosso cachorro vira-lata”, diz Daniela Nascimento, 37 anos, adepta do veganismo há 17. A falta desses alimentos na geladeira da família deu lugar às frutas, legumes, soja, tofu e leite vegetal. Mãe de Inácio, 4, e Laila, 1, Daniela escolheu transmitir seu estilo de vida para as crianças, que nunca experimentaram alimentos de origem animal.  “Acredito que o exemplo é a melhor forma de educar. Se quando forem mais velhos, quiserem incluir carne e leite na alimentação, terão toda a liberdade. Não proíbo, mas também não incentivo”, diz.

Daniela e sua família estão entre os quase 5 milhões de brasileiros que praticam o veganismo - que, é importante destacar, não se limita à alimentação: “Ser vegano significa não consumir nenhum produto de origem animal ou testado em animais, desde alimentos até roupas, cosméticos, acessórios”, esclarece a nutricionista americana especializada em nutrição vegana e vegetariana Reed Mangels, professora do Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública e Ciências da Saúde da Universidade de Massachusetts. O que significa que, da mesma forma que a carne, leite e ovos estão banidos da lista de supermercado, aquela malha de lã ou bolsa de couro também não têm espaço no guarda-roupa.

Sim, é uma escolha (e uma transição!) radical. Mas seja por uma questão de saúde ou por solidariedade aos animais, como é o caso de Daniela, ser vegano é cada vez mais comum. “A dieta tem sido mais abordada, principalmente nos últimos cinco anos. Além de um crescente interesse pelo bem-estar dos animais, a população está envelhecendo e convivendo mais com doenças crônicas e, por isso, busca uma alimentação mais saudável”, diz a nutróloga Andrea Pereira, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Mas a polêmica acende quando o assunto é veganismo e alimentação infantil. Por mais que algumas pessoas ainda tenham um pé atrás, por acreditar que a dieta leva à desnutrição, cada vez mais estudos apontam para os benefícios da dieta. Em artigo científico publicado em dezembro de 2016, a Academia de Nutrição e Dietética endossa a dieta vegana para pessoas de qualquer idade, inclusive crianças e gestantes, afirmando que é saudável, nutricionalmente adequada e que pode proporcionar benefícios na prevenção e tratamento de certas doenças, como diabetes, doenças cardíacas, hipertensão arterial, obesidade e alguns tipos de câncer.

Sim, os benefícios existem! Mas não dá para negar que, por não aceitar qualquer alimento de origem animal, a dieta se torna altamente restritiva e, se não for feita de forma correta, pode trazer problemas à saúde. Afinal, a falta de leite e derivados pode aumentar a deficiência de cálcio, enquanto a ausência das carnes brancas e vermelhas prejudica o consumo adequado de ferro, proteínas e vitaminas B12 e D. Por esse motivo, a Sociedade Brasileira de Pediatria faz ressalvas sobre o veganismo.

Para Virgínia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças que seguem uma alimentação tão restritiva podem ter seu desenvolvimento comprometido: “Como a criança não tem discernimento para saber o que é bom e ruim para a sua alimentação, os pais precisam estar cientes da importância de identificar boas fontes de cálcio, ferro, zinco, ômega 3, vitamina B12 e vitamina D, que são perdidos com essa dieta, e fazer um trabalho conjunto com o pediatra e nutricionista a toda hora”. Em alguns casos, quando a suplementação não é suficiente, a criança pode desenvolver anemia, crescer menos e ter seu sistema imunológico prejudicado. “Diante da impossibilidade de atingir as necessidades nutricionais específicas para cada faixa etária, a suplementação com cápsulas e comprimidos será necessária. E o natural e mais saudável é consumir o alimento como fonte de vitamina, não remédios”, completa Virginia.

Mas então, é ou não recomendável para as crianças? “Desde que seja feito um controle anual das taxas de nutrientes no sangue e um acompanhamento regular com pediatras e nutricionistas, a dieta vegana traz, sim, benefícios como a prevenção de doenças crônicas e pode ser adotada em qualquer faixa etária”, diz a nutróloga Andrea. Daniela Nascimento conta que faz marcação cerrada com exames regulares e acompanhamento regular com uma nutricionista infantil: “Assim que Inácio nasceu, procurei informação e orientação, pois nem sabia se o veganismo era saudável para crianças. Mas é! Meus filhos não adoecem mais do que crianças que seguem uma alimentação comum. São inteligentes e muito saudáveis”, diz Daniela. “O veganismo é, para a minha família, a receita para uma vida mais saudável e para exames médicos com resultados excelentes”, completa.

E na escola? Se o seu filho estudo período integral e a alimentação é oferecida pela instituição, vale negociar um cardápio diferenciado para a criança e também mandar lanchinhos veganos para serem consumidos na hora do recreio. “Busco variar para que não enjoe: um dia mando uma porção de castanhas, no outro uma fruta ou chips de banana. Pesquiso receitas na internet e mando para a nutricionista do meu filho aprovar ou fazer as alterações necessárias”, conta Daniela.

Trocas no cardápio

A quantidade de cada vitamina e alimento varia de criança para criança. O ideal é fazer um acompanhamento regular com um nutricionista e pediatra para que, juntos, elaborem um cardápio que minimize as deficiências:

Ferro
Pode ser encontrado em vegetais verde-escuros e leguminosas. O organismo absorve melhor o ferro na presença de vitamina C, por isso, acrescente frutas cítricas como laranja, acerola, maracujá e abacaxi nas refeições das crianças.
O que comer: feijão, amêndoas, lentilha, castanha de caju e castanha-do-pará, quinoa, melado de cana, folhas verde-escuras e sementes de girassol, linhaça e chia.

Cálcio
Fundamental na formação e desenvolvimento dos ossos, o cálcio pode ser encontrado nas frutas, verduras e feijão, porém, a capacidade de absorção dos alimentos não lácteos pode variar entre 5% (espinafre) e 50% (repolho ou brócolis).
O que comer: Tofu, grão-de-bico, brócolis, couve-flor, couve, escarola, repolho, mostarda, espinafre, gergelim.

Vitamina D
É estimulada quando tomamos sol e auxilia na absorção do cálcio. Uma dieta vegana contém pouca ou nenhuma vitamina D, a não ser pela ingestão de alimentos enriquecidos ou de suplementos. O ideal é a exposição segura ao sol.
O que comer: Cogumelos.

Proteína
Uma das três principais fontes de energia (além de gorduras e carboidratos), a proteína é facilmente substituída na dieta. Tofu e soja fazem parte da lista de possíveis trocas, mas atenção: “Alimentos à base de soja não devem ser oferecidos para crianças menores de 1 ano devido aos hormônios vegetais”, diz Reed. “Fórmulas infantis de soja, diferentes de bebidas à base de soja, estão liberadas, pois são balanceadas exclusivamente para suprir as necessidades de bebês”, completa.
O que comer: para suprir a deficiência, combine o grupo de grãos (composto por trigo, arroz, aveia) com as leguminosas (feijões, lentilha, ervilha). Abacate, nozes, amendoim, cacau em pó sem açúcar e gergelim também devem entrar no cardápio.

Zinco
Mineral que ajuda no crescimento e desenvolvimento do organismo. As fontes mais ricas de zinco para quem não consome alimentos de origem animal são os cereais integrais, feijões e castanhas. Porém, o ácido fítico, presente em alguns vegetais e também no feijão, atrapalha a absorção dessa substância. Uma sugestão dos especialistas é deixar os grãos do feijão de molho por cerca de 12 horas e trocar a água na hora de cozinhar.
O que comer: Feijão, grão-de-bico, nozes, lentilha, arroz integral, sementes de girassol e de abóbora, trigo, aveia.

Dicas de alimentação para a criança vegana:

- O leite materno ou fórmula infantil são uma parte importante da nutrição do seu filho até pelo menos 1 ano de idade;

- Cereais matinais costumam ser fortalecidos com vitamina B12. Mas vale apostar nos feitos em casa: prepare um mingau grosso e acrescente um pouco de óleo vegetal aos grãos cozidos para aumentar o conteúdo calórico;

- Prefira óleo de soja ou de canola em vez de óleos de girassol, cártamo ou milho. Eles ajudam na produção de ácidos que são importantes para o desenvolvimento do cérebro e da visão;

- Óleo de linhaça é rico em ômega-3, gordura do bem encontrada no salmão, bacalhau e sardinha. Essa substância pode ajudar a melhorar o desempenho escolar, pois tem um papel importante no desenvolvimento do sistema nervoso, da retina e do cérebro;

- Troque manteiga e requeijão por abacate batido ou manteiga feita de sementes ou nozes. Além de não terem origem animal, são mais calóricas e ajudam a atingir a quantidade de calorias necessária para um desenvolvimento saudável;

- Lentilha, feijão e ervilha são uma boa fonte de energia e proteína. Cozinhe-os bem e amasse-os até formar um purê. Cozinhar bem lentilhas, feijões e ervilhas e amasse-os até formar um purê;

- Misture melado de cana nos alimentos, como purê de lentilha ou tofu, para aumentar a ingestão de ferro e cálcio. Fazer melaço é fácil: ferva o líquido extraído da cana de açúcar até virar um xarope. Depois que a água e parte do açúcar evaporam, o líquido restante é altamente rico em ferro, cálcio, magnésio e potássio!

- Depois de completar 1 ano, mesmo que o bebê ainda esteja sendo amamentado, é possível acrescentar leite vegetal e de soja na alimentação da criança. Essas opções são ricas em vitamina D2 e B12;

- Todo vegetal de cor verde é uma excelente fonte de ferro, cálcio e antioxidantes. Para deixar o preparo mais gostoso e apetitoso para a criança, acrescente molho de tomate ou prepare sucos com vegetais mais doces, como cenoura;

- Aposte no tofu: 120 gramas do alimento têm a mesma quantidade que um copo de leite de vaca;

Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria; Hospital Israelita Albert Einstein; The Vegan Society e The Vegetarian Resource Group, ambas nos EUA

Fontehttps://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/

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