Estudos relacionam ultraprocessados a doenças cardíacas, câncer e morte
Pesquisas observacionais indicam que esses alimentos, além de aumentar em 29% o risco de homens desenvolverem câncer colorretal, também elevam em 19% a probabilidade de morte em homens e mulheres
O consumo desenfreado de alimentos ultraprocessados pode desencadear uma série de problemas de saúde. Sabe-se que a ingestão desse tipo de produto — caracterizado por ser integralmente produzido a partir de processos industriais — está associada a maiores riscos de obesidade, hipertensão, colesterol alto e alguns tipos de câncer.
O consumo desenfreado de alimentos ultraprocessados pode desencadear uma série de problemas de saúde. Sabe-se que a ingestão desse tipo de produto — caracterizado por ser integralmente produzido a partir de processos industriais — está associada a maiores riscos de obesidade, hipertensão, colesterol alto e alguns tipos de câncer.
Dois novos estudos publicados na conceitura revista científica The BJM nesta quarta-feira (31) se somam a essas evidências. Eles apontam que os ultraprocessados também podem resultar em doenças cardíacas, câncer de intestino e morte.
Muitos ultraprocessados são prontos para consumo e têm como apelo uma maior praticidade no dia a dia das pessoas. Mas o barato pode sair caro. Esses produtos contêm altos níveis de adição de açúcar, gordura, sal, e são carentes de vitaminas, minerais e fibras.
Em um dos estudos, os pesquisadores examinaram a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de câncer colorretal em adultos norte-americanos. A pesquisa, realizada por cientistas das universidades Tufts e Harvard, nos Estados Unidos, mostra que homens que consomem altas taxas desses alimentos têm risco 29% maior de desenvolver esse tipo de câncer do que aqueles que os consomem de forma mais moderada.
No outro, estudiosos da Itália analisaram dois sistemas de classificação de alimentos em relação à mortalidade: o Food Standards Agency Nutrient Profiling System (FSAm-NPS), usado para determinar a tabela Nutri-Score presente no rótulo das embalagens vendidas nos EUA, e a escala NOVA, que avalia o grau de processamento dos alimentos.
Perigo do câncer
Para estabelecerem a relação entre a má alimentação e o câncer, os cientistas dos EUA analisaram as respostas de mais de 200 mil participantes – 159.907 mulheres e 46.341 homens – em três grandes estudos prospectivos que avaliaram a ingestão alimentar e foram conduzidos ao longo de mais de 25 anos.
As pesquisas incluíram dados do The Nurses' Health Study e do The Health Professional Follow-up Study, que foram analisados e selecionados até chegar no número ideal para análise observacional.
“O câncer leva anos ou mesmo décadas para se desenvolver e, a partir de nossos estudos epidemiológicos, mostramos o potencial efeito de latência”, explica Mingyang Song, professor assistente de epidemiologia clínica e nutrição em Harvard, em comunicado. “Leva anos para ver um efeito de certa exposição no risco de câncer. Por causa desse processo demorado, é importante ter exposição a longo prazo aos dados para avaliar melhor o risco de câncer”, completa.
Durante esse período, a cada quatro anos, cada participante recebeu questionários detalhados de frequência alimentar. Os dados disponibilizados foram agrupados levando em consideração fatores médicos e de estilo de vida.
A partir daí os pesquisadores classificaram a quantidade de alimentos ultraprocessados em quintis, variando em valor do menor consumo ao maior. Aqueles no quintil mais alto foram identificados como sendo os de maior risco de desenvolver câncer colorretal.
Apesar de mulheres terem sido identificadas como as maiores consumidoras de alimentos ultraprocessados, a maior incidência de casos de câncer de intestino foi observada no público masculino, acometendo 29% dos homens. A equipe descobriu que a associação mais forte entre câncer colorretal e alimentos ultraprocessados vem de carne, aves ou produtos prontos para o consumo à base de peixe.
De acordo com Lu Wang, doutoranda na Escola Friedman de Ciência e Política da Nutrição, da Universidade Tufts, carnes como salsichas, bacon e presunto foram alimentos identificados em maior quantidade na alimentação masculina, o que pode ser um indicativo de por que esse público é o mais afetado pela doença.
A equipe também descobriu que o consumo de bebidas açucaradas, como refrigerantes, sucos industrializados e bebidas à base de leite, também estão associadas a um maior risco de câncer colorretal em homens.
Por que as mulheres são menos afetadas?
Mesmo que os alimentos ultraprocessados sejam prejudiciais de um modo geral, a composição de alguns pode ser melhor do que outros. Segundo Fang Fang Zhang, epidemiologista de câncer e presidente interina da Divisão de Epidemiologia Nutricional e Ciência de Dados da Escola Friedman, é possível que a composição dos alimentos ultraprocessados consumidos pelas mulheres seja diferente daqueles ingeridos pelos homens. “Alimentos como iogurte podem potencialmente neutralizar os impactos nocivos de outros tipos de alimentos ultraprocessados em mulheres”, diz Zhang.
“Mais pesquisas são necessárias para determinar se existe uma verdadeira diferença de sexo nas associações, ou se os resultados nulos em mulheres neste estudo foram meramente devido ao acaso ou alguns outros fatores de confusão não controlados em mulheres”, afirma Song.
Zhang ressalta que, por estudo ter sido realizado apenas com profissionais da saúde, os achados podem não ser os mesmos para a população em geral, uma vez que os participantes podem comer de forma mais saudável e afastar-se de alimentos ultraprocessados.
Foco na dieta
Para a segunda pesquisa, dados do FSAm-NPS e a classificação NOVA foram comparados em relação à mortalidade. A classificação NOVA é uma ferramenta que agrupa alimentos de acordo com o nível de processamento pelo qual passaram antes de chegar à mesa do consumidor.
A partir de dados de 22.895 adultos italianos, com idade média de 55 anos, do estudo Moli-sani, os autores investigaram a relação entre qualidade e quantidade de alimentos e bebidas e fatores de risco genéticos e ambientais para doenças cardíacas, câncer e morte. As mortes foram medidas no período de 14 anos.
Os resultados mostraram que aqueles que mantinham uma dieta menos saudável (medida pelo índice alimentar FSAm-NPS), tiveram um risco 19% maior de falecer por qualquer causa, além de uma probabilidade 32% superior de morte por doença cardiovascular.
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