APARTAME E A RELAÇÃO COM O CÂNCER: SAIBA COMO ESCOLHER E QUAIS SÃO OS MELHORES ADOÇANTES, DEGUNDO ESPECIALISTAS

  Especialistas afirmam que o ideal é evitar qualquer tipo de adoçante e preferir o açúcar natural de cada alimento

Aspartame e a relação com o câncer: saiba quais são os melhores adoçantes, segundo especialistas

Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS) deve declarar o adoçante como possível cancerígeno para humanos

Por Eduardo F. Filho — São Paulo

30/06/2023 03h30  Atualizado 30/06/2023

Um dos adoçantes artificiais mais comuns do mundo, presente em uma grande parte de refrigerantes diet e zero, o aspartame deve ser declarado como possível cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com estudos, cerca de 95% dos refrigerantes carbonatados (bebidas efervescentes não alcoólicas) usam aspartame. A decisão da agência está marcada para 14 de julho e não leva em conta a quantidade considerada segura para consumo.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO, entretanto, afirmam que o intuito da organização com a posição é alertar e chamar a atenção da indústria, empresas e órgãos fiscalizadores para pesquisar mais a fundo sobre a possível relação entre o adoçante e o risco de desenvolver câncer nos consumidores.

— Não existe aspecto metabólico que associa a quantidade de aspartame com uma maior incidência de câncer, mas há um estudo epidemiológico, que foi apresentado pela OMS. Essa pesquisa foi feita em pessoas que têm mais predisposição de desenvolver câncer. Não estou dizendo que não é verdade, mas que não há trabalho científico mostrando essa relação — diz Daniel Magnoni, nutrólogo do Hospital do Coração, em São Paulo.

  • O médico afirma ainda que é necessário evitar o uso indiscriminado do adoçante, mas que a substância é uma “boa ferramenta” para pacientes diabéticos. Porém, segundo Magnoni, não deveria ser usado para perder peso ou obesidade.

— Essas pesquisas que falam que o adoçante causa câncer foram feitas em laboratório e com camundongos, usando doses altíssimas que não são passíveis com a realidade. Por exemplo: para um paciente correr o risco de desenvolver algum tipo de câncer, ela precisaria tomar cerca de 180 pacotes da substância por dia. Sendo que a maioria das pessoas vão consumir menos de 15 — explica a nutricionista Priscilla Primi, colunista do GLOBO.

Estima-se que os adoçantes estejam presentes em 13,4% das mesas brasileiras, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos. Os maiores consumidores são as mulheres, sobretudo do Sudeste e Nordeste, da classe econômica A/B.

A reportagem conversou com a nutricionista e o nutrólogo para tirar as principais dúvidas em relação ao aspartame. Confira as respostas:

Quais são os riscos do aspartame?

Quimicamente, a composição do aspartame é o somatório de aminoácidos: ácido aspártico, fenilalanina e metanol. Apesar de não apresentar riscos — a Anvisa e a FDA (agência reguladora americana), por exemplo, afirmam que a substância é segura — o adoçante é contraindicado para portadores de fenilcetonúria, uma doença congênita na qual a pessoa não consegue metabolizar a fenilalanina, o que exerce ação tóxica em vários órgãos.

Em maio, a OMS, em diretriz inédita, deixou de recomendar o uso de adoçantes em geral para o controle de peso corporal ou reduzir o risco de doenças não transmissíveis. Os resultados sugerem que sua ingestão não oferece nenhum benefício a longo prazo na redução da gordura corporal em adultos ou crianças.

A organização também afirmou que o uso dessas substâncias pode trazer efeitos indesejáveis potenciais do uso prolongado, como um risco aumentado de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade em adultos.

A recomendação se aplica a todas as pessoas, exceto indivíduos com diabetes preexistente, e inclui todos os adoçantes não nutritivos sintéticos e naturais ou modificados que não são classificados como açúcares. Eles são encontrados em alimentos e bebidas industrializados ou vendidos sozinhos para serem adicionados. Produtos comuns desse tipo incluem acesulfame K, aspartame, advantame, ciclamatos, neotame, sacarina, sucralose, stevia e derivados de stevia.

— Substituir açúcares livres por adoçantes sem açúcar não ajuda no controle de peso a longo prazo. As pessoas precisam considerar outras maneiras de reduzir a ingestão de açúcares livres, como consumir alimentos com açúcares naturais, como frutas, ou alimentos e bebidas sem açúcar — disse Francesco Branca, diretor de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS.

Primi destaca que o melhor é sempre buscar as formas mais naturais dos alimentos.

— Temos que lembrar que é um produto químico, embutido nos produtos industrializados, o que aumenta a chance de ter uma doença crônica não transmissível. O ideal é não consumir açúcar e adoçante, sentir o sabor real da fruta e dos alimentos — diz Primi.

No Brasil, um informe técnico da Anvisa sobre a substância publicado em 2020 não cita nenhuma correlação do aspartame com o câncer.

O texto ressalta que o aspartame vem sendo objeto de extensa investigação científica, incluindo estudos experimentais, pesquisas clínicas, estudos epidemiológicos e de exposição e vigilância pós-mercado. “Existe um consenso entre diversos comitês internacionais considerando o aspartame seguro, quando consumido dentro da ingestão diária aceitável”, diz o informe.

Quais são os produtos industrializados que usam aspartame?

Segundo os especialistas, mais de 80% dos produtos ultraprocessados utiliza adoçantes artificiais, incluindo o aspartame, encontrado na maioria dos refrigerantes, iogurtes, geleias e produtos destinados a população diabética, ou seja, com baixo teor de gordura ou diet, também contém o adoçante.

— Segundo a OMS, a quantidade por quilo de peso aconselhável diariamente para o consumo dos adoçantes fica em torno de 4 miligramas por quilo peso corporal — afirma Primi.

Qual é o melhor adoçante?

Os especialistas foram unânimes ao falar que os melhores adoçantes são aqueles naturais, ou seja, derivados de plantas, como o eritritol, que é extraído da cana-de-açúcar, e a stevia, derivada da planta Stevia rebaudiana.

O eritritol praticamente não tem calorias — 0,2% por grama. Tem ingestão bem tolerada e é mais usado na indústria alimentícia. Tem doçura 300 a 400 vezes maior que o açúcar. Estudos mostram que 90% do composto é eliminado pela urina, o restante é fermentado pelas bactérias intestinais. É natural, extraído da cana-de-açúcar. Tem sabor muito parecido com o açúcar.

Já a stevia tem doçura 300 vezes maior que o açúcar e pode ir ao fogo. É extraída de uma planta nativa da América do Sul, comum na região Sul do Brasil, e tem sabor um pouco amargo, que muitas vezes limita o uso. Porém, está entre os melhores para a saúde.

Há também a sucralose é, talvez, uma das mais conhecidas e que frequentemente substitui o açúcar. Tem doçura 600 vezes maior comparado ao açúcar. Não possui sabor residual e é estável ao aquecimento. Apesar disso, estudos recentes mostram que quando submetido a temperaturas maiores que 120 oC podem liberar substâncias tóxicas. Apesar de vir da cana-de-açúcar, não é natural, porque sofre reações químicas.

Ainda na lista dos profissionais, há o xilitol, usado como substituto da sacarose, mas com menor quantidade de calorias e menor impacto na glicemia do que o açúcar de mesa convencional. Ele também tem um gosto doce, levemente mentolado, sem sabor residual. A substância é naturalmente encontrada em legumes e frutas e cogumelos.

O aspartame está entre os adoçantes menos indicados por ser artificial, ou seja, substâncias desenvolvidas e sintetizadas em laboratório que não existem na natureza.

O que é o aspartame?

O aspartame é um adoçante artificial desenvolvido pela primeira vez na década de 1960 e lançado no mercado cerca de 20 anos depois. Ele tem a doçura 200 vezes maior que o açúcar tradicional — Isso significa que é necessário menos quantidade de grama para obter o mesmo resultado doce, ou seja, os produtos que o contêm tendem a ser menos calóricos.

Quando submetido a temperaturas maiores que 180 oC, adquire sabor amargo. E ao contrário do açúcar, não aumenta os níveis do doce no sangue, tornando-se uma alternativa útil para os diabéticos.

— O posicionamento da OMS é bom para chamar atenção para o uso do açúcar natural do alimento e das frutas — diz Magnoni.

O que a indústria diz?

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) afirmou por meio de nota que usar o aspartame é seguro e que ele é um dos " ingredientes mais pesquisados da história, com mais de 90 agências de segurança alimentar comprovando sua segurança". E que é "essencial" aguardar a publicação dos relatórios finais em julho.

— É fundamental ressaltar que a International Agency for Research on Cancer (IARC) não possui atribuição como órgão regulador de segurança alimentar. Sendo assim, a ABIAD demonstra preocupação com as especulações preliminares sobre a opinião da referida agência, que podem confundir os consumidores sobre a segurança do aspartame — diz a ABIAD.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/06/aspartame-tem-quantidade-segura-em-que-produtos-e-usado-tudo-o-que-e-preciso-saber-apos-possivel-associacao-ao-cancer.ghtml


Stevia, sacarina, sucralose, aspartame, xilitol: qual é o melhor adoçante para saúde? Médicos respondem

E nem todos são bons em altas temperaturas, nem adoçam da mesma maneira

Por Beatriz Coutinho*

17/03/2023 04h30  Atualizado há 7 meses

Uma colherada no café, alguns sachês no suco, principalmente quando a fruta é cítrica: o açúcar faz parte da alimentação dos brasileiros. Segundo Pesquisa de Orçamentos Familiares, 85,4% da população adiciona o produto em alimentos e bebidas no país. Mas, para driblar as doenças que o consumo em excesso comprovadamente traz, a substituição pelos adoçantes tem sido cada vez maior -- estima-se que os adoçantes estejam presentes em 13,4% das mesas brasileiras, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos. Os maiores consumidores são as mulheres, sobretudo do Sudeste e Nordeste, da classe econômica A/B.

Do natural ao artificial, as opções adoçam com pouquíssimas calorias. O Globo procurou especialistas para detalhar as diferenças entre eles, da origem à melhor função de cada um na cozinha – e o impacto na saúde.

— Os adoçantes têm origens completamente diferentes. Eles podem vir da cana-de-açúcar e de aminoácidos, enquanto outros são produzidos quimicamente. Têm dulçor maior que o açúcar, sendo 200, 300 e ou até 500 mais potentes. Então, por exemplo, 1 grama de aspartame adoça 200 vezes mais que 1 grama de açúcar — explica Daniel Magnoni, nutrólogo do Hospital do Coração, em São Paulo.

Para quem busca perder peso, produtos adoçados com adoçantes podem ser uma alternativa, desde que associados a uma dieta hipocalórica e à atividade física.

 Em uma recente revisão sistemática, o uso de bebidas açucaradas com adoçantes como substituto para bebidas adoçadas com açúcar resultou em uma pequena melhora em fatores de risco cardiometabólicos (risco de diabetes e doenças cardíacas) – afirma a vice-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Melanie Rodacki.

Mas os benefícios não anulam os riscos. O ciclamato, por exemplo, um dos principais adoçantes de alguns refrigerantes, teve sua comercialização proibida pela Federal Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos na década de 80, pelo risco de câncer de bexiga em ratos. No Brasil, em contrapartida, o ciclamato é um dos 17 edulcorantes autorizados para uso em suplementos alimentares pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

— A indústria alega que os trabalhos foram feitos em animais e não em humanos. Realmente, 1 grama de ciclamato para um rato é muito mais do que para um humano, por isso que precisaria de mais trabalho, de mais pesquisa. Mas falo para meus pacientes evitarem o ciclamato – diz o nutrólogo Magnoni.

O médico sugere cautela também com a sucralose em algumas situações. Estudos recentes indicam que o composto pode liberar substâncias tóxicas quando exposto a temperaturas maiores que 120° (deve-se evitar levar ao forno, portanto). Outro alerta importante é para o uso de aspartame por quem tem fenilcetonúria, doença congênita na qual a pessoa não consegue metabolizar a fenilalanina (o excesso exerce ação tóxica em vários órgãos).

Quanto aos impactos no organismo, a endócrino Rodacki pontua que evidências mais recentes mostram um possível impacto dos adoçantes artificiais na microbiota intestinal, além de aumentarem o apetite.

— Em trabalhos com ratos, o consumo de adoçantes artificiais aumentou o desejo de alimentos adoçados com açúcar e peso corporal. Um estudo em homens com peso normal indicou que a ingestão de bebidas adoçadas com adoçante induziu maior vontade de comer e menor sensação de plenitude, diz a médica.

Pesquisa conduzida pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a pedido da Organização Mundial da Saúde, chegou à conclusão que adoçantes artificiais e de baixa caloria podem não ajudar na perda de peso.

— Estudos de longo prazo são necessários para avaliar os efeitos sobre o sobrepeso e a obesidade, o risco de diabetes, doenças cardiovasculares e doenças renais —, ressaltaram os pesquisadores responsáveis, em publicação na British Medical Journal.

Os melhores produtos para a saúde, de acordo com os especialistas, são os de origem natural, como stevia, xilitol e eritritol. Têm segurança estabelecida e costumam conferir dulçor semelhante ao açúcar, além de apresentar poucos efeitos colaterais e serem estáveis à temperatura do cozimento. Mas os médicos são unânimes em afirmar que o ideal mesmo é o alimento com seu próprio sabor, sem adição de açúcares, seja o natural ou o artificial.

Confira as especificações dos adoçantes

Sacarina: Tem doçura 300 a 500 vezes maior que o açúcar, sendo necessária pouquíssima quantidade, portanto. É resistente à temperatura de cozimento dos alimentos, possui um sabor residual metálico e nesse sentido, normalmente é utilizada junto com outro tipo de adoçante.

Ciclamato: Resistente à temperatura, tem doçura 30 a 40 vezes maior que o açúcar. Pode ser combinada com a sacarina, fornecendo sabor mais doce. Na década de 80, foi proibido nos Estados Unidos em decorrência de estudos em animais que associaram sua ingestão ao desenvolvimento de câncer de bexiga. É permitido no Brasil.

Acessulfame de potássio: Tem doçura 200 vezes maior que o açúcar. De todos é o que possui melhor sabor. Estável na pasteurização e esterilização.

Aspartame: Tem doçura 200 vezes maior que o açúcar. Quando submetido a temperaturas maiores que 180ºC, adquire sabor amargo. É contraindicado para portadores de fenilcetonúria (doença congênita na qual a pessoa não consegue metabolizar a fenilalanina – o excesso exerce ação tóxica em vários órgãos).

Sucralose: Tem doçura 600 vezes maior comparado ao açúcar. Não possui sabor residual e é estável ao aquecimento. Apesar disso, estudos recentes mostram que quando submetido a temperaturas maiores que 120º podem liberar substâncias tóxicas. Apesar de vir da cana-de-açúcar, não é natural, porque sofre reações químicas.

Stevia: Tem doçura 300 vezes maior que o açúcar e pode ir ao fogo. Extraído da planta Stevia rebaudiana, planta nativa da América do Sul, comum na região Sul do Brasil. Tem sabor um pouco amargo, que muitas vezes limita o uso. Está entre os melhores para a saúde.

Eritritol: Praticamente sem caloria alguma: 0,2 por grama. Tem ingestão bem tolerada e é mais usado na indústria alimentícia (é estável no calor). Tem doçura 300 a 400 vezes maior que o açúcar. Estudos mostram que 90% do composto é eliminado pela urina, o restante é fermentado pelas bactérias intestinais. É natural, extraído da cana-de-açúcar. Tem sabor muito parecido com o açúcar.

* estagiária sob supervisão de Adriana Dias Lopes


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/03/stevia-sacarina-sucralose-aspartame-xilitol-qual-e-o-melhor-adocante-para-saude-medicos-respondem.ghtml

 

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