QUIMIOTERAPIA: ALIMENTAÇÃO ADEQUADA DURANTE O TRATAMENTO AUMENTA CHANCE DE CURA

  Vegetais, frutas e boas fontes de proteína estão entre os alimentos recomendados no tratamento

Quimioterapia: alimentação adequada durante o tratamento aumenta chance de cura

Comer alimentos integrais, com boa oferta de proteínas, e evitar certas armadilhas ajuda na recuperação

Por 

Giulia Vidale

18/04/2024 14h48  Atualizado há um dia

Muito se fala do papel da alimentação no desenvolvimento e na prevenção do câncer. Hoje já sabemos que alguns alimentos, como carne vermelha, embutidos e ultraprocessados aumentam o risco da doença. Por outro lado, frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras boas ajudam a reduzir o risco de tumores. Mas poucos conhecem o papel da dieta durante o tratamento oncológico, em especial a quimioterapia.

— O paciente com um estado nutricional adequado durante o tratamento tem melhores desfechos em relação à própria doença. Muitos trabalhos científicos mostram isso claramente. Ele tende a ter um sistema imune que funciona melhor, menos complicações clínicas e menos efeitos colaterais da quimioterapia — diz a oncologista Ana Luísa de Castro Baccarin, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer e CEO do Instituto Ana Baccarin - Oncologia e Qualidade de Vida, de São Paulo.


A quimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células cancerígenas. Essas drogas se misturam ao sangue e são levadas a todas as partes do corpo, exterminando as células doentes e impedindo, também, que elas se espalhem pelo corpo. No entanto, por se tratar de um tratamento sistêmico, ele também afeta células saudáveis do corpo, o que pode gerar os temidos efeitos colaterais, como queda de cabelo, diarreia, feridas na boca, náuseas e vômitos.

Esses sintomas podem prejudicar a capacidade de o paciente se alimentar. Tanto que é comum associarmos a imagem de uma pessoa magérrima e careca a um paciente oncológica. Mas atualmente, isso não precisa nem deve ser assim.

— Praticamente todos os sintomas podem ser tratados e isso tem que ser muito rapidamente relatado para equipe para que isso não impacte no consumo alimentar do paciente. As pessoas têm uma falsa visão e aceitação de que o paciente vai perder peso, vai ficar magrinho. Mas a verdade é que isso não precisa ocorrer se ela tiver um suporte nutrológico adequado. — pontua a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Desnutrição

Infelizmente, para muitos pacientes essa é a realidade. Segundo Garcez, o percentual de pacientes oncológicos que morrem em consequência da desnutrição é enorme. Isso pode acontecer porque ele foi mal conduzido nutricionalmente, antes ou durante o tratamento:

— Por exemplo, se o paciente já tiver carência de alguma vitamina, como B12 ou D, isso precisa ser corrigido. Ele também precisa estar com o intestino tratado porque o tratamento vai tirar a defesa do organismo da pessoa. Se ela tiver alguma infestação fúngica, parasitária ou entrar em um tratamento de quimioterapia em um estado nutricional ruim, ela corre o risco de morrer desnutrida porque o organismo não aguenta.

Para impedir que isso aconteça, o ideal é que todo paciente oncológico seja acompanhado por um time multidisciplinar, que inclui, além do oncologista, um nutricionista oncológico e um nutrólogo.

No entanto, essa é uma realidade distante para a maioria dos pacientes no país. Por isso, além de ser importante o próprio oncologista estar atento à alimentação do paciente, o próprio paciente deve observar com atenção o que come.

— Muitos pacientes no Brasil simplesmente não têm acesso a um nutricionista. Então eles precisam ser ensinados a se manterem vigilantes em relação à sua própria percepção de apetite e preferências alimentares, para reportar ativamente à equipe cuidadora, de forma precoce, eventuais oscilações que são extremamente frequentes na jornada de tratamento oncológico — pontua Baccarin.

Proteínas

O consumo de proteínas pelo paciente em quimioterapia é a principal preocupação dos médicos. Esse é o macronutriente mais importante para manutenção da massa muscular, ou seja, dos músculos, para o bom funcionamento do sistema imunológico entre outras reações fisiológicas. Por outro lado, por ser de difícil digestão, elas também costumam ser o alimento que os pacientes batalham mais para incluir.

— A proteína é fundamental para manutenção e ganho de massa muscular durante o tratamento. Dependendo da fase da doença, a meta proteica diária de um paciente oncológico pode ser o dobro da população em geral — diz Baccarin.

Segundo Garcez, proteínas de origem animal ou vegetal devem estar presentes em todas as grandes refeições do dia. As principais fontes desse nutriente são: carnes, preferencialmente as mais magras porque são mais fáceis de consumir, ovos, laticínios e leguminosas.

— Se a pessoa não atinge a meta de consumo de proteínas, ela precisa ser suplementada mesmo durante a quimioterapia — afirma a nutróloga.

Alimentos crus

Além do consumo de proteínas, a alimentação durante a quimioterapia deve ser o mais leve e natural possível, com frutas, vegetais e grãos integrais. Mas é preciso redobrar o cuidado com a higienização de alimentos crus. Para reduzir o risco de infecções, o ideal é que eles sejam consumidos em casa. Na rua, o melhor é optar por versões refogadas ou cozidas. Além disso, frutas devem ser consumidas preferencialmente descascadas.

— Outra coisa muito importante é a hidratação. É muito importante que as pessoas tenham uma boa hidratação ao longo do dia, preferencialmente com a água. Bebidas açucaradas e muito estimulantes, como cafeína, devem ser evitadas porque isso elas mais desidratam do que hidratam — orienta Garcez.

Sucos de fruta naturais e integrais, sem coar e sem adoçar, também são bem-vindos. Inclusive, seu consumo, assim como as sopas, pode ser uma boa estratégia para pacientes que estão com dificuldade de se alimentar devido ao desconforto causado por mucosites ou enjoos causados pelo tratamento. Reduzir o tamanho das porções e comer mais vezes ao dia também são estratégias indicadas para evitar a perda de peso.

Já alimentos processados e ultraprocessados, como salgadinho de pacote, macarrão instantâneo, refrigerante, alimentos ricos em açúcar e refeições industrializadas congeladas devem ser evitados.

Suplementação

Mesmo com todos os cuidados para manter uma alimentação adequada, há casos em que é necessário suplementar, que pode ser desde uma fonte proteica até a prescrição de nutrientes e medicamentos para melhorar a condição nutrológica. É aí que entra o nutrólogo.

Outro ponto de alerta é em relação ao consumo de antioxidantes e suplementos naturais durante o tratamento sem consentimento da equipe médica.

— Existem substâncias que são contraindicadas durante a quimioterapia porque elas protegem o paciente, mas também protegem o tumor. Se a pessoa quiser usar coisa, até mesmo um suco funcional, o ideal é que tenha avald a equipe porque algumas substâncias antioxidantes também protegem o tumor e podem impactar no risco do não sucesso do tratamento por conta dessa autossuplementação — alerta Garcez.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/viver-o-cancer/noticia/2024/04/18/quimioterapia-alimentacao-adequada-durante-o-tratamento-aumenta-chance-de-cura.ghtml

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