O que é terrorismo nutricional e saiba se você pode estar sendo vítima dele
A disseminação de informações sensacionalistas sobre a alimentação contribui para uma relação conturbada com a comida, podendo causar até mesmo transtornos alimentares
Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo
16/08/2023 11h20 Atualizado há um ano
Maíra Cardi voltou a viralizar no Instagram após postar um vídeo de uma receita de bolo de chocolate e dizer que o alimento é capaz de desencadear problemas de saúde como doença celíaca, diabetes, obesidade e câncer. O nutricionista Daniel Cady, marido de Ivete Sangalo, rebateu a publicação, alertando sobre o terrorismo nutricional.
“Pessoal, muito cuidado com esse tipo de conteúdo que vocês encontram na internet. O nome disso é terrorismo nutricional e só faz piorar sua relação com o seu corpo e com a comida”, disse ele.
O vídeo, que já conta com mais de 130 mil curtidas e 6 mil comentários, trouxe à tona a importante reflexão sobre os prejuízos do terrorismo nutricional tanto para a saúde física quanto psicológica.
O que é terrorismo nutricional
A nutricionista Renata Farrielo, especialista em transtornos alimentares pelo Ambulim, da USP, explica que a expressão descreve a disseminação de informações sensacionalistas e mentirosas sobre alimentação, o que desperta medo, ansiedade e culpa em relação à comida.
O terrorismo nutricional também limita a classificação dos alimentos como bons ou ruins, calóricos ou não, fazendo com que a alimentação deixe de ser um processo intuitivo.
“Perde-se a capacidade de saber o que o corpo realmente quer. Tudo vira uma regra matemática, de contar caloria”, diz a psicóloga Ana Izabelli Araki, também especializada em transtornos alimentares pelo Ambulim, da USP.
Ao limitar o alimento dessa forma, as pessoas esquecem que a comida também está ligada aos âmbitos social, cultural e emocional. “Com equilíbrio, uma comida que conforta e traz boas memórias também pode ajudar a pessoa a ter mais saúde”, defende Renata Farrielo.
Gatilho para os transtornos alimentares
Essa propagação de informações sensacionalistas sobre a alimentação pode acabar gerando uma série de comportamentos negativos, como apostar em dietas da moda, que tendem a ser muito restritivas.
“Dietas muito extremas podem levar a riscos como desnutrição, perda de massa muscular, distúrbios hormonais e uma piora no sistema imunológico”, explica a nutricionista.
Regimes restritivos são difíceis de serem mantidos a longo prazo, segundo a psiquiatra Monah Ilka, especialista pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), e podem desencadear compulsão alimentar.
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sofrem com algum tipo de transtorno alimentar, como anorexia, bulimia, compulsão alimentar e entre outros.
Renata Farrielo também alerta sobre dietas restritivas acabarem gerando o efeito sanfona, isto é, quando a pessoa engorda e emagrece consecutivas vezes. “Muitos estudos já mostraram que esse efeito ioiô está associado a um risco maior para a saúde metabólica e cardiovascular”, explica.
Além dos prejuízos físicos e psicológicos, a nutricionista também pontua sobre o terrorismo nutricional trazer perdas sociais.
“Preocupações excessivas com a qualidade dos alimentos podem levar ao isolamento social, já que a pessoa começa a evitar eventos e/ou refeições compartilhadas por vergonha”, explica.
Então, como emagrecer com saúde?
Para a nutricionista Juliana Rangel, especialista em comportamento alimentar, o emagrecimento saudável acontece quando a pessoa consegue estabelecer hábitos que ela é capaz de seguir verdadeiramente, sem metas irreais e restrições excessivas. Para isso, é importante ser acompanhada por um profissional que a enxergue de forma multifatorial.
“A alimentação é algo cultural, depende de acesso financeiro, escolhas, gostos e tudo isso precisa ser levado em consideração quando falamos de comer de forma equilibrada. A dieta é para um objetivo, um período único, e a pessoa não consegue mantê-la por muito tempo porque não faz parte da sua rotina”, esclarece a nutricionista.
A perda de peso acontece por meio de reeducação alimentar, que acontece gradativamente, junto com a prática de uma atividade física que faça sentido para a pessoa e caiba dentro da sua realidade. Emagrecer não deve ser sinônimo de sofrimento.
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/saude/noticia/2023/08/o-que-e-terrorismo-nutricional-e-saiba-se-voce-pode-estar-sendo-vitima-dele.ghtml
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